segunda-feira, 30 de julho de 2012

O que é o ambientalismo? 4, 1ª parte – De Woodstock ao niilismo: toma corpo o movimento verde


O que é o ambientalismo? 4, 1ª parte – De Woodstock ao niilismo: toma corpo o movimento verde

Rio+20 o longo caminho desde Woodstock
Foto Marcello Casal Jr-ABR


Dando continuidade à série sobre a história do movimento ambientalista, abordamos finalmente, o período mais recente desse movimento.

Mais precisamente desde o início dos anos 70, marcados pela explosão hippy e as transformações operadas no catolicismo em virtude da aplicação do Concílio Vaticano II.

Julgamos que poucas visões de síntese desse período histórico tão denso e decisivo do movimento ambientalista foram tão ricas em documentação quanto o trabalho do jornalista Robert James Bidinotto, “Ambientalismo, o inimigo da liberdade nos anos 90”.

Bidinotto adquiriu nomeada escrevendo para o “Reader’são Digest” sobre questões ligadas à justiça criminal, ao ambientalismop e à filosofia. No artigo que reproduzimos a continuação ele reúne felizmente exigência crítica e uma linguagem ágil mas respeitosa que torna accesível o intrincado assunto.

Tentamos tirar excertos do longo trabalho de Bidinotto. Mas, no fim julgamos mais prudente conservá-lo quase na integridade e dividí-lo em três post sucessivos. A riqueza de dados justifica a opção.

O artigo original em inglês pode ser compulsado na integra neste endereço: Robert James Bidinotto, “Environmentalism: Freedoms Foe for the 90s” (“The Freeman”, November 1990 • Volume: 40 • Issue: 11)
Ambientalismo, o inimigo da liberdade nos anos 90

Filhos de Rousseau

Por ocasião do primeiro “Dia da Terra”, em 1970, alguns jovens, intimidados pelo ritmo e pela complexidade da vida moderna, procuraram uma solução: revoltar-se ou retirar-se. Destruir “o sistema” ou retirar-se para as alturas das Montanhas Rochosas do Colorado.

Filhos de Rousseau, eles pregavam a bondade inerente à natureza intocada, e à emoção indisciplinada; a influência corruptora da razão, da cultura e da civilização; a igualdade econômica e a participação democrática em pequena escala; a infalibilidade mística da vontade coletiva e o sacrifício do indivíduo ao grupo.

Unia-os o ódio contra o inimigo comum: o americano moderno e a sociedade capitalista.
Woodstock, 1969, estado de Nova York
Enquanto a maioria de seus contemporâneos moderados se tornavam arquitetos, contadores e vendedores de automóveis, um pequeno conjunto de líderes — o resíduo Rousseauneano da geração Woodstock — nunca superou seu fundamental alheamento e hostilidade cultural.

Nunca tiveram o menor interesse pelos valores básicos aceitos pelo comum das pessoas. Durante vinte anos, permaneceram em efervescência nas bordas da sociedade. Agora, como abutres sentindo um animal ferido, apertam o cerco em torno de uma cultura vulnerável.

Este pequeno grupo de fanáticos estabelece as premissas morais do movimento ambientalista de hoje.

Ao contrário das opiniões de muitas pessoas decentes que se qualificam como ambientalistas, ou mesmo a maioria daqueles que entram em grupos ambientalistas, o quadro de liderança não está primariamente interessado em ar puro, terras, água, recursos abundantes, ou em resolver controvertidas reivindicações sobre seu uso.

Eles têm um programa bem diferente.

Antes de continuar, devo esclarecer um ponto muito importante. Estou adotando enfaticamente uma postura de não contestação ante o fato de que as preocupações com o meio-ambiente sejam triviais ou errôneas.
A poluição, o uso exagerado de vários recursos naturais, o lixo tóxico, e outros tópicos relacionados com a preservação do meio-ambiente são legítimos.

Entretanto esses problemas aparecem, não devido a um fracasso do sistema de mercado livre, mas do fracasso em aplicar, em primeiro lugar, os princípios da economia de mercado à administração das fontes de recursos naturais.
Rio+20: cultos esotéricos em evento paralelo
Eles veem a cruzada ambientalista, não como uma maneira de reformar a sociedade moderna, mas de escapar dela e de obliterá-la. Estes pagãos e Druidas contemporâneos marcham sob a bandeira dos “Estilos de Vida Verdes” e do “biocentrismo”.

Um ambientalista itinerante dirige círculos de estudos nos quais os participantes são incentivados a rememorarem seu alegado processo de evolução, rolando pelo chão e imaginando como foram suas vidas quando eram folhas mortas, lesmas ou musgo.

Outros Ecologistas Radicais preferem “ações diretas” contra alvos corporativos ou governamentais, nas quais incluem desde atos teatrais de desobediência civil, até declarados atos de terror, sabotagem e violência.

Dirigem grupos como Greenpeace [Paz Verde], Earth First! [Terra primeiro!], Sea Shepherds [“Pastores do Mar”], Rainforest Action Network [Rede de ação pela floresta tropical], People for the Ethical Treatment of Animals [O povo pelo tratamento ético dos animais], e Animal Liberation Front [“Frente para a Libertação dos Animais”].

Os Verdes, por outro lado, são os herdeiros políticos da Nova Esquerda. Desfilando sob as bandeiras da “Política Verde” ou da “Ecologia Social”, professam ao menos uma preocupação aparente pelos valores humanos e pela cultura moderna.

Mas sua meta é uma sociedade socialista e redistributiva, que eles afirmam ser a verdadeira serva da natureza e a única esperança para a sociedade.

Os mais cordatos dentre eles aderem aos vários partidos e grupos Verdes. Os mais pragmáticos e sofisticados, juntam-se a grupos mais respeitáveis, com certa fachada, como o Natural Resources Defense Council [Conselho para a Defesa dos recursos naturais], o Environment Defense Fund [Fundo para a defesa do meio-ambiente], o Sierra Club [Clube Sierra], o Wilderness Society [Sociedade pela Vida Selvagem], o Worldwatch Institute [Instituto de Vigilância do mundo], a União dos Cientistas Preocupados, e até mesmo a Agência de Proteção do Meio-ambiente dos Estados Unidos e outras agências reguladores co-irmãs.
Protesto de Greenpeace no Mexico
Apesar de todos os seus atritos, ambos campos se complementam mutuamente.

Os Ecologistas Radicais dão o tônus moral e a direção espiritual: eles inspiram, radicalizam e recrutam. Por outro lado, os Verdes transformam esses elementos “crus” em poder político: propostas, força de trabalho, candidatos e, finalmente, em leis.

Ambas facções — e em particular os grupos de contra-cultura de “ação direta” — têm crescido rapidamente.

Os mais radicais, entretanto, têm-se expandido muito mais que os antigos grupos da grande corrente liberal, como Nature Conservancy [“Conservação da Natureza”], a National Wildlife Society [Sociedade Nacional pela Vida Selvagem], a National Audubon Society [Sociedade Nacional Audubon] a Humane Society [Sociedade Humana] e a National Wildlife Federation [Federação Nacional da Vida Selvagem].

Estes últimos têm-se esforçado por se manter a passo com os primeiros, radicalizando-se cada vez mais devido às competitivas solicitações do mercado ambientalista, e à própria lógica da ética ambientalista.
Fonte: Verde: a cor nova do comunismo
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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sociedades Secretas Ep.4. - Domínio do Mundo - Skull and Bones, Bilderbe...

A morte como solução ecológica

Português: Paul EhrlichPortuguês: Paul Ehrlich (Photo credit: Wikipedia)

A morte como solução ecológica

Escrito por Cristian Derosa

Graças à atuação de órgãos como a Unesco e a ONU, logo o controle populacional será consenso entre milhões de pessoas, que irão trabalhar, de forma “ecologicamente correta”, para sua própria destruição.


Em 1968, Paul R. Ehrlich deixou militantes de esquerda e direita horrorizados com o livro 
Population Bomb. Os de esquerda o acusavam de nazismo por querer matar metade da população pobre e os de direita por violar os direitos individuais e desvalorizar a vida humana. 

Mais tarde, em 1977, Ehrlich publicou junto de outros dois autores, o livro
Ecosciencie: population, ressources, environment, que trazia a mesma idéia de controle populacional mas com um maior aporte de dados científicos e apoio de cientistas engajados na causa ecológica.

A partir daí a a defesa do meio ambiente ganhou um impulso a mais e já unia-se com os militantes do controle populacional que aliciavam as Nações Unidas para incluir a meta na sua agenda de ações imediatas.
É bom lembrar que a origem do controle de natalidade é anterior e está ligada à conquista do direito ao aborto por Margareth Sanger (1879-1966) e, portanto, às idéias eugenistas e evolucionistas nas quais os nascimentos de pessoas consideradas mais aptas era preferível optando-se pelo aborto e esterilização em massa em populações pobres e consideradas geneticamente inferiores. Após a Segunda Guerra Mundial, porém, essa retórica eugenista passou a ser mal vista por motivos óbvios.

Mas no barco da ecologia, nas décadas seguintes, o controle populacional pôde finalmente voltar ao debate público, agora com a desculpa do fim dos recursos naturais, outra teoria nunca satisfatoriamente comprovada pela comunidade científica, mas que traz consigo a cativante proposta da salvação da humanidade. O fato real é que em nome dessa pretensa tese da escassez futura, muitas populações estão sendo privadas hoje desses recursos e obrigadas a integrar-se a agendas que demandam consideráveis restrições econômicas. Países da África são ameaçados de terem suas ajudas internacionais cortadas se não aderirem a programas de esterilização e descriminalização do aborto.

O livro 
Ecoscience: population, ressorces, enviroment, é um verdadeiro clássico do ambientalismo. Nele é sugerido explicitamente que a melhor solução para a escassez de recursos é a diminuição da taxa de crescimento da população. Como primeira e mais relevante medida, os autores sugerem a limitação da taxa de natalidade, o que deve ser implementado por meio de campanhas de planejamento familiar, legalização do aborto e estímulo de uso de contraceptivos, ou seja, uma conscientização para o voluntarismo em prol dessa causa. A segunda alternativa, caso a população não opte voluntariamente pela diminuição da taxa de natalidade, os autores explicam:
 
Presumivelmente, a maioria das pessoas concorda que o único meio de atingir estes objetivos em um nível mundial é através da taxa de natalidade. A alternativa a isso é permitir o aumento da taxa de mortalidade, o que naturalmente vai acontecer caso a humanidade não optar racionalmente por reduzir a sua taxa de natalidade a tempo”1. 

Sabe-se, entretanto, que programas de esterilização em massa já foram desmascarados em vários países, todos com a participação de órgãos das Nações Unidas como Unicef, Unesco, etc, cooperados com instituições locais ligadas a governos e organizações não-governamentais. Estes programas ficaram de fora dos noticiários por serem considerados “teorias da conspiração” ou teses paranóicas que careciam de evidências. De fato alguns destes casos não passaram de suspeitas devido à inacessibilidade dos dados e recursos utilizados pelas instituições em jogo. Outros casos foram amplamente divulgados e desmascarados, mas a imprensa internacional isolou-os dentro de limites das imprensas locais, não deixando que fossem conhecidos do restante do mundo.

Graças à participação de intelectuais como Ehrlich dentro das Nações Unidas, principalmente em instituições ligadas à educação e cultura como a Unesco, nossos jovens e crianças estão sendo educados com o pressuposto de que a humanidade é a causadora dos grandes males terrestres. O controle populacional passa a ser, logo logo, o consenso entre a população que irá trabalhar para a sua própria auto-destruição.

(1)   Ecoscience: Population, Resources, Environment. Contributors: Paul R. Ehrlich - author, Anne H. Ehrlich - author, John P. Holdren - author. Publisher: W. H. Freeman. Place of Publication: San Francisco. Publication Year: 1977. Page Number: 737

Cristian Derosa é jornalista.

Fonte: www.midiasemmascara.org

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segunda-feira, 23 de julho de 2012

DO CONSÓRCIO INTERNACIONAL DE JORNALISTAS INVESTIGATIVOS

English: Logo of the U.S. Food and Drug Admini...English: Logo of the U.S. Food and Drug Administration (2006) (Photo credit: Wikipedia)
DO CONSÓRCIO INTERNACIONAL DE JORNALISTAS INVESTIGATIVOS 

Em 24 de fevereiro, as autoridades ucranianas descobriram ossos e outros tecidos humanos amontoados em caixas refrigeradas num micro-ônibus branco encardido. 

Os investigadores ficaram ainda mais intrigados quando descobriram, entre as partes de corpos, envelopes cheios de dinheiro e relatórios de autópsia escritos em inglês. 

O que a batida apreendeu não era obra de um serial killer, mas parte de um escoadouro internacional de ingredientes para produtos médicos e odontológicos rotineiramente implantados em pessoas ao redor do mundo. 

Os documentos apreendidos sugeriam que os restos de ucranianos mortos eram destinados a uma fábrica na Alemanha pertencente à subsidiária de uma empresa norte-americana de produtos médicos, com sede na Flórida --a RTI Biologics. 

A RTI faz parte de um negócio crescente de empresas que lucram transformando restos mortais em tudo, de implantes dentários a material para amenizar rugas. 

À medida que a indústria cresceu, suas práticas despertaram preocupações sobre como os tecidos são obtidos e com que grau de detalhe as famílias enlutadas e os pacientes transplantados são informados sobre as realidades e os riscos do negócio. 

Só nos EUA, o maior mercado e o maior fornecedor, estima-se que 2 milhões de produtos derivados de tecidos humanos sejam vendidos a cada ano, um número que duplicou na última década. 
Trata-se de uma indústria que promove tratamentos e produtos que literalmente permitem que cegos enxerguem (por meio do transplante de córnea) e os portadores de deficiência física caminhem (reciclando tendões e ligamentos para uso em cirurgias de joelho). É também uma indústria alimentada por poderosos apetites por lucros e novos corpos humanos. 

Na Ucrânia, por exemplo, o serviço de segurança acredita que corpos que passaram por um necrotério no bairro Mykolaiv, uma região de estaleiros localizada próximo ao mar Negro, podem ter alimentado o negócio, deixando para trás o que os investigadores descreveram como potencialmente dezenas de "fantoches humanos" --cadáveres despojados de suas partes reutilizáveis. 

Representantes do setor argumentam que tais supostos abusos são raros, e que a indústria opera com segurança e responsabilidade. 
A RTI não respondeu a repetidos pedidos de comentário ou a uma lista detalhada de perguntas encaminhada um mês antes desta publicação. 

Em declarações públicas, a empresa diz que "honra a doação de tecidos tratando o material com respeito, encontrando novas maneiras de usar os tecidos para ajudar os pacientes e ajudando o maior número possível de pacientes a cada doação". 

"NOSSA DESGRAÇA"
 
Apesar de seu crescimento, o negócio dos tecidos humanos escapou, em grande medida, ao debate público. Isso ocorre em parte graças à fiscalização fraca --e ao apelo popular da ideia de permitir que os mortos ajudem os vivos a sobreviver e prosperar. 

Numa investigação de oito meses em 11 países, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) descobriu, no entanto, que as boas intenções da indústria de tecidos humanos às vezes entram em conflito com a pressa de ganhar dinheiro com os mortos. 

Há salvaguardas inadequadas para garantir que todo o tecido utilizado pela indústria seja obtido legalmente e eticamente, segundo o ICIJ descobriu em centenas de entrevistas e milhares de páginas de documentos públicos obtidos por meio das leis de acesso a informações públicas em seis países. 

Apesar das preocupações dos médicos de que um negócio mal regulado possa permitir que tecidos doentes transmitam a pacientes transplantados doenças como hepatite, HIV e outras, as autoridades pouco fazem para reduzir os riscos. 

Em contraste com os sistemas bem monitorados de rastreamento de órgãos intactos, como coração e pulmões, as autoridades dos EUA e de muitos outros países não têm como saber com precisão de onde vêm e para onde vão a pele reciclada e outros tecidos. 

Ao mesmo tempo, dizem os críticos, o sistema de doação de tecidos pode aprofundar a dor de famílias enlutadas, mantendo-as no escuro ou enganando-as sobre o que vai acontecer com os corpos de seus entes queridos. 

Os parentes, como os pais de Sergei Malish, um ucraniano de 19 anos que cometeu suicídio em 2008, acabam precisando lidar com uma realidade sombria. 

No funeral de Sergei, seus pais descobriram cortes profundos em seus pulsos. No entanto, eles sabiam que ele havia se enforcado. 

Mais tarde, descobriram que partes de seu corpo haviam sido recicladas e vendidas como "material anatômico". 

"Eles ganham dinheiro com a nossa desgraça", disse o pai de Sergei. 

SILÊNCIO CONSTRANGEDOR
 
Durante a jornada de transformação pela qual passa o tecido --de parte de um cadáver a um insumo médico--, alguns pacientes nem sequer sabem que estão recebendo partes humanas. 

Os médicos nem sempre informam que os produtos utilizados em reconstruções de mama, implantes de pênis e outros procedimentos foram extraídos de cadáveres. 

Tampouco as autoridades estão sempre cientes de onde vêm ou para onde vão os tecidos. 

A falta de acompanhamento adequado significa que, quando os problemas chegam a ser descobertos, alguns dos produtos feitos com partes de cadáveres não podem ser localizados. Quando os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA ajudam no recall de produtos feitos a partir de tecidos potencialmente contaminados, os médicos de transplante dificilmente ajudam muito. 

"Muitas vezes há um silêncio constrangedor. Eles dizem: 'Não sabemos onde está", disse o Dr. Matthew Kuehnert, diretor do departamento de sangue e biologia do CDC. 

"Os cereais [do café da manhã] têm códigos de barras, mas os tecidos humanos não têm", disse Kuehnert. 

"Todo paciente que tem tecido implantado deveria saber. É tão óbvio. Devia ser um direito básico do paciente, mas não é. Isso é ridículo." 

Desde 2002, a Food and Drug Administration dos EUA documentou ao menos 1.352 infecções no país transmitidas por transplantes de tecidos humanos, de acordo com uma análise feita pelo ICIJ em dados do FDA. Essas infecções foram ligadas às mortes de 40 pessoas, mostram os dados. 

Um dos pontos fracos do sistema de monitoramento de tecido é o sigilo e a complexidade que vêm com o comércio internacional de partes do corpo. 

Os eslovacos exportam partes de cadáveres para os alemães; os alemães exportam produtos acabados para a Coreia do Sul e para os Estados Unidos; os sul-coreanos, para o México; e os EUA, para mais de 30 países. 

Os distribuidores de produtos manufaturados estão em União Europeia, China, Canadá, Tailândia, Índia, África do Sul, Brasil, Austrália e Nova Zelândia. Alguns são subsidiários de corporações médicas multinacionais. 

A natureza internacional da indústria, dizem os críticos, torna mais fácil levar os produtos de um lugar para outro sem muito escrutínio. 

"Se eu comprar algo de Ruanda, depois colocar um rótulo belga, posso importar para os EUA. Depois de entrar no sistema oficial, todo mundo confia", disse o Dr. Martin Zizi, professor de neurofisiologia da Universidade Livre de Bruxelas. 

Quando um produto chega à União Europeia, pode ser enviado para os EUA sem que sejam feitas muitas perguntas. 

"Eles presumem que você tenha feito o controle de qualidade", disse Zizi. "Somos mais cuidadosos com frutas e legumes do que com partes do corpo." 

NEGÓCIO LUCRATIVO
 
No mercado de tecidos humanos, as oportunidades de lucros são imensos. Um único corpo livre de doenças pode gerar fluxos de caixa de US$ 80 mil a US$ 200 mil para os vários envolvidos, com e sem fins lucrativos, na recuperação de tecidos ao usá-los para fabricar produtos médicos e odontológicos, de acordo com documentos e os especialistas entrevistados. 

É ilegal nos EUA, como na maioria dos outros países, comprar ou vender tecidos humanos. No entanto, é permitido que se paguem taxas de serviço que ostensivamente cobrem os custos de encontrar, armazenar e processar tecidos humanos. 

Quase todo mundo leva alguma parte. 

Olheiros de corpos nos EUA podem ganhar até US$ 10 mil para cada cadáver que garantam em seus contatos em hospitais e necrotérios. Funerárias podem atuar como intermediárias para identificar potenciais doadores. Os hospitais públicos podem ser pagos pelo uso de salas de recuperação de tecidos. 

E as multinacionais de produtos médicos como a RTI? Ganham bem, também. No ano passado, a RTI lucrou US$ 11,6 milhões antes dos impostos sobre receita de US$ 169 milhões. 

Phillip Guyett, que administrava uma empresa de recuperação de tecidos em vários Estados dos EUA antes de ser condenado por falsificação de atestados de óbito, afirmou que os executivos de empresas a quem vendia tecidos o convidavam para refeições de US$ 400 e estadias em hotéis de luxo.

Eles prometeram: "Podemos torná-lo um homem rico". Chegou o momento, disse ele, que começou a olhar para cadáveres e ver "cifrões pendurados em suas partes". Guyett diz que nunca trabalhou diretamente para a RTI. 

SALMÃO DEFUMADO
 
A pele humana tem cor de salmão defumado quando é profissionalmente removida de um cadáver, em formas retangulares. Uma boa produtividade é de cerca de 0,6 metro quadrado. 

Depois de ser esmagada para remover a umidade, parte da pele está destinada a proteger vítimas de queimaduras de infecções bacterianas ou, após ser mais uma vez refinada, pode ser usada em reconstruções da mama após o câncer. 

O uso de tecidos humanos "realmente revolucionou o que se pode fazer em cirurgias de reconstrução de mama", explica o Dr. Ron Israeli, cirurgião plástico em Great Neck, Nova York. 

"Desde que começamos a usá-lo, por volta de 2005, tornou-se uma técnica padrão." 

Um número significativo de tecidos recuperados é transformado em produtos cujos nomes comerciais dão poucas pistas sobre a sua verdadeira origem. 

São usados nos ramos odontológicos e de beleza --para tudo, de preencher os lábios a suavizar as rugas. 

Ossos --recolhidos dos mortos e substituídos por canos de PVC para o enterro-- são esculpidos como pedaços de madeira em parafusos e buchas para dezenas de aplicações dentárias e ortopédicas. 

Ou o osso é triturado e misturado com produtos químicos para formar fortes colas cirúrgicas anunciadas como sendo melhores do que a variedade artificial. 

"No nível mais básico, o que estamos fazendo ao corpo é uma coisa muito física --e imagino que alguns diriam muito grotesca", disse Chris Truitt, um funcionário da ex-RTI. "Retiramos os ossos do braço. 

Retiramos os ossos da perna. Abrimos o peito para puxar o coração e extrair as válvulas. Puxamos as veias para fora da pele." 

Tendões inteiros, limpos de forma segura para transplante, são usados para devolver atletas lesionados ao campo. 

Há também um comércio de córneas, dentro dos países e internacionalmente. 

Devido à proibição de vender o próprio tecido, as empresas norte-americanas que deram início ao negócio adotaram os mesmos métodos do ramo de coleta de sangue. 

As empresas com fins lucrativos criam subsidiárias sem fins lucrativos para coletar o tecido --da mesma maneira como a Cruz Vermelha recolhe sangue, que é posteriormente transformado em produtos por entidades comerciais. 

Ninguém cobra pelo tecido em si, que em circunstâncias normais é livremente doado pelos mortos (por meio de cadastros de doadores) ou por suas famílias. 

Em vez disso, os bancos de tecidos e outras organizações envolvidas no processo recebem mal definidos "pagamentos razoáveis" para compensá-las pela obtenção e o manuseio do tecido. 

"A linguagem comum é se referir aos contratos de doadores como 'colheita' e às transferências subsequentes por meio do banco de ossos como 'compra' e 'venda'", escreveu Klaus Hoyer, do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Copenhague, que ouviu representantes do setor, doadores e receptores para um artigo publicado na revista acadêmica "BioSocieties". 

"As expressões foram utilizadas livremente em entrevistas, mas nunca ouvi essa terminologia ser usada na frente dos pacientes." 

Um estudo financiado pelo governo dos EUA com famílias de doadores de tecidos no país, publicado em 2010, indica que muitos podem não entender o papel de empresas com fins lucrativos no sistema de doação de tecidos. 

Das famílias que participaram do estudo, 73% disseram que "não é aceitável que o tecido doado seja comprado ou vendido, para qualquer finalidade". 

POUCA PROTEÇÃO
 
Existe um risco inerente ao transplante de tecidos humanos. Entre outras coisas, ele causa risco de infecções bacterianas e de propagação de HIV, hepatite C e raiva em receptores de tecidos, de acordo com o CDC. 

A coleta moderna de sangue e órgãos usa códigos de barras e é fortemente regulamentada. Houve reformas recentes, incitadas por desastres de alto nível causados ​​pela má triagem de doadores. Os produtos feitos com tecidos da pele e outros, no entanto, têm poucas leis específicas próprias. 

Nos EUA, a agência que regula o setor é a Food and Drug Administration, a mesma agência encarregada de proteger o abastecimento de alimentos, medicamentos e cosméticos no país. 

A FDA, que recusou vários pedidos de entrevistas gravadas, não tem autoridade sobre os serviços de saúde que implantam o material. E a agência não rastreia especificamente infecções. 

Ela acompanha bancos de tecidos registrados e às vezes abre uma inspeção. Ela também tem o poder de fechá-los. 

A FDA depende em grande medida das normas definidas por um órgão da indústria, a Associação Americana de Bancos de Tecidos (AATB). A associação recusou repetidos pedidos de entrevistas gravadas ao longo de quatro meses. Numa entrevista de contextualização ao ICIJ, na semana passada, ela informou que a "vasta maioria" dos bancos que recuperam tecidos tradicionais, como pele e osso, é credenciada pelo AATB. 

Porém, uma análise de bancos credenciados pela AATB e dados de registro da FDA mostram que apenas cerca de um terço dos bancos de tecidos que recuperam tecidos tradicionais, como pele e osso, são credenciados. 

A associação diz que a chance de contaminação em pacientes é baixa. A maioria dos produtos, diz a AATB, é submetida a radiação e esterilização, tornando-os mais seguros do que, digamos, órgãos transplantados para outro ser humano. 

"O tecido é seguro. É extremamente seguro", disse um executivo da AATB. 

Há poucos dados, porém, que apoiem as afirmações do setor. 

Diferentemente de outros produtos biológicos regulados pelo FDA, explicam funcionários da agência, as empresas que fabricam produtos médicos usando tecidos humanos são obrigadas a relatar apenas os efeitos adversos mais graves descobertos. Isso significa que, caso surjam problemas, não há garantia de que as autoridades sejam alertadas. 

Como os médicos não são obrigados a informar aos pacientes que estão recebendo de tecidos de um cadáver, muitos pacientes não podem associar qualquer infecção posterior ao transplante. 

Sobre esse ponto, a indústria diz que é capaz de rastrear os produtos dos doadores até os médicos, usando seus próprios sistemas de codificação, e que muitos hospitais têm sistemas para acompanhar os tecidos depois de serem implantados. 

Mas nenhum sistema centralizado regional ou global assegura que os produtos possam ser acompanhados do doador ao doente. 

"Provavelmente, muito poucas pessoas se infectam, mas nós realmente não sabemos porque não temos vigilância e um sistema para detectar eventos adversos", disse Kuehnert, do CDC. 

O FDA recolheu mais de 60 mil derivados de tecido entre 1994 e meados de 2007. 

O recall mais famoso ocorreu em 2005. Tratava-se de uma empresa chamada Biomedical Tissue Services, dirigida pelo ex-cirurgião dentista Michael Mastromarino. 

Mastromarino recebia boa parte de suas matérias-primas de funerárias em Nova York e na Pensilvânia. Ele pagava até US$ 1.000 por órgão, segundo os registros judiciais. 

Sua empresa retirava ossos, pele e outras partes utilizáveis e depois entregava os corpos às famílias. Sem saber o que aconteceu, os parentes enterravam ou cremavam as provas. 

Um dos mais de mil corpos desmembrados foi o do famoso apresentador da emissora BBC Alistair Cooke.
Produtos feitos com restos humanos roubados foram enviados para Canadá, Turquia, Coreia do Sul, Suíça e Austrália. Mais de 800 desses produtos nunca foram localizados. 

Mais tarde, um tribunal descobriu que alguns dos doadores de tecidos haviam morrido de câncer e que nenhum deles tinha sido testado para detectar doenças como HIV e hepatite. 

Mastromarino falsificou registros de doadores, mentindo sobre as causas de morte e outros detalhes. Ele vendia pele e outros tecidos a várias empresas norte-americanas de processamento de tecidos, incluindo a RTI. 

"Desde o primeiro dia, foi tudo forjado; tudo, porque podíamos. Enquanto a papelada parecesse boa, tudo bem", disse Mastromarino, que cumpre pena de prisão de 25 a 58 anos por roubo, conspiração e abuso de cadáveres. 

XERIFE GLOBAL
 
Cada país tem suas próprias regras para usar produtos fabricados a partir de tecido humano, frequentemente com base em leis originalmente destinadas a lidar com sangue ou órgãos. 

Na prática, no entanto, como os EUA atendem a cerca de dois terços das necessidades globais de produtos feitos com tecidos humanos, a FDA (Food and Drug Administration) efetivamente foi deixada como a xerife de grande parte do planeta. 

Empresas estrangeiras de tecidos humanos que desejem exportar para os EUA devem se registrar na FDA.
No entanto, das 340 empresas estrangeiras de tecidos registradas na FDA, apenas cerca de 7% têm registro de inspeção no banco de dados da agência, segundo análise do ICIJ. A FDA nunca fechou nenhuma por suspeita de atividades ilícitas. 

Os dados também mostram que cerca de 35% dos ativos dos bancos de tecidos registrados nos EUA não têm nenhum registro de inspeção no banco de dados da FDA. 

"Quando a FDA registra você, só é preciso preencher um formulário e esperar uma inspeção", disse Duke Kasprisin, diretor médico de sete bancos de tecidos nos EUA. "No primeiro ano ou dois, você pode funcionar sem ninguém olhar para você." Isto é reforçado pelos dados, segundo os quais um banco de tecidos típico opera por quase dois anos antes de sua primeira inspeção da FDA. 

"O problema é que não há supervisão. A FDA só exige que você tenha registro", disse Craig Allred, advogado anteriormente envolvido em litígios contra aindústria. "Ninguém vê o que acontece." A FDA e a indústria "apontam o dedo um para o outro". 

No entanto, na Coreia do Sul, o mercado de cirurgia plástica usa a supervisão da FDA como marketing. 

No centro de Seul, capital do país, a Tiara Cirurgia Plástica explica que os produtos feitos com tecidos humanos "são aprovados pela FDA" e são, portanto, seguros. 

Alguns centros médicos anunciam "AlloDerm aprovado pelo FDA" --um enxerto de pele feito com cadáveres doados nos EUA-- para cirurgias no nariz. 

Le Do-han, o encarregado do tecido humano na FDA sul-coreana, disse que o país importa 90% das suas necessidades de tecido humano. 

O tecido cru é enviado a partir dos EUA e da Alemanha. Uma vez processado, muitas vezes é reexportado para o México como produtos manufaturados. 

Apesar dos movimentos complicados de ida e vinda, Le Do-han reconhece que na prática não houve fiscalização adequada. 

"É como colocar etiquetas na carne, mas eu nem sei se isso é possível para os tecidos humanos porque há muitos chegando." 

EM EQUIPE
 
Em relatórios à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), a empresa de capital aberto RTI permite vislumbrar o tamanho da empresa e seu alcance global. 

Em 2011, a empresa fabricou entre 500 mil e 600 mi implantes e lançou 19 novos tipos de produtos para medicina esportiva, ortopedia e outras áreas. Dos implantes da empresa, 90% são feitos a partir de tecido humano, enquanto 10% vêm de vacas e porcos transformados em sua fábrica alemã. 

A RTI exige que seus fornecedores de partes do corpo humano nos EUA e outros países sigam as regras da FDA, mas a empresa reconhece que não há garantias. 

Em documentos enviados à SEC em 2011, a RTI disse que "não pode garantir" que "os nossos fornecedores de tecido cumprem os regulamentos destinados a prevenir a transmissão de doenças contagiosas" ou, "ainda que sejam cumpridos, que nossos implantes não foram ou não serão associado à transmissão da doença". 

Como muitas das empresas de tecidos atualmente com fins lucrativos um dia foram sem fins lucrativos, a RTI surgiu do Banco de Tecidos da Universidade da Flórida, sem fins lucrativos, em 1998. 

Documentos internos da Tutogen, uma empresa alemã de produtos médicos, mostram que ela fez parceria com a RTI no início de setembro de 1999 para ajudar ambas as empresas a satisfazer suas necessidades crescentes de matéria-prima adquirindo tecido humano na Europa Oriental. 

As duas empresas adquiriram tecidos a partir da República Tcheca. A Tutogen separadamente obteve tecidos em Estônia, Hungria, Rússia, Letônia, Ucrânia e mais tarde na Eslováquia, segundo os documentos. 


Em 2002, a imprensa tcheca publicou denúncias de que o fornecedor local da RTI e da Tutogen obtinha tecidos indevidamente. Não se sugeriu que a Tutogen, a RTI ou seus funcionários tenham feito algo impróprio. 

Em março de 2003, a polícia da Letônia investigou se o fornecedor local da Tutogen havia removido tecidos de cerca de 400 corpos num instituto médico legal sem autorização. 

Madeira e panos, substituindo músculos e ossos, foram inseridos nos cadáveres para fazer parecer que estavam intocados antes do enterro, segundo a imprensa local. 

A polícia acabou denunciando três funcionários do fornecedor, mas rejeitou mais tarde as acusações, quando um tribunal decidiu que não era necessário o consentimento das famílias dos doadores. Novamente, não houve sugestão de que a Tutogen agiu de forma inadequada. 

Em 2005, a polícia ucraniana abriu a primeira de uma série de investigações sobre as atividades dos fornecedores da Tutogen no país. A investigação inicial não levou a indiciamentos. 

A relação entre a Tutogen e a RTI, entretanto, tornou-se ainda mais próxima no final de 2007, quando foi anunciada a fusão entre as duas empresas. A Tutogen passou a ser uma subsidiária da RTI. 

Funcionários da RTI se recusaram a responder ao ICIJ se sabiam das investigações policiais sobre fornecedores da Tutogen. 

DUAS COSTELAS
 
Em 2008, a polícia ucraniana abriu nova investigação, verificando acusações de que mais de mil tecidos por mês eram ilegalmente coletados num instituto médico forense em Krivoy Rog e enviados, por meio de terceiros, à Tutogen. 

Nataliya Grishenko, a juíza de instrução do processo, revelou que muitos parentes disseram ter sido levados a assinar termos de consentimento ou que suas assinaturas foram forjadas. 

O principal suspeito no caso --um médico ucraniano-- morreu antes de o tribunal chegar a um veredito. O processo morreu com ele. As autoridades alemãs fizeram uma declaração isentando a Tutogen de delitos. 

A Tutogen "opera sob regras muito estritas das autoridades alemães e ucranianas, bem como de outras autoridades reguladoras europeias e americanas", disse Joseph Dusel, procurador-chefe em Bamberg, Alemanha, ao serviço de notícias norte-americano Transplant News. "Eles são inspecionados regularmente por todas essas autoridades em seus anos de operação; e a Tutogen segue em boas condições com todos eles." 

Dezessete fornecedores ucranianos da Tutogen foram sujeitos a inspeção da FDA. As ações são anunciadas, segundo o protocolo, com seis a oito semanas de antecedência. 

Apenas um fornecedor --a BioImplant, de Kiev-- foi reprovado. Entre as conclusões da inspeção de 2009: nem todos os necrotérios tinham água quente corrente e alguns procedimentos sanitários não foram seguidos. 

Os inspetores da FDA também encontraram deficiências em importações ucranianas da RTI, ao visitar as instalações da empresa na Flórida. 

A RTI tinha traduções para o inglês, mas não os originais das autópsias dos seus doadores ucranianos, descobriram inspetores da FDA numa fiscalização 2010. Frequentemente, eram os únicos documentos médicos que a empresa usava para saber se o doador era saudável, diz o relatório da inspeção. 

A empresa disse aos inspetores que era ilegal, segundo a lei ucraniana, copiar a autópsia. Mas, após a inspeção, ela começou a guardar o documento original em russo, juntamente com sua tradução em inglês. 

Em 2010 e 2011, os inspetores pediram à RTI que mudasse a forma de rotular suas importações. A empresa obtinha tecidos ucranianos e enviava à Tutogen, na Alemanha, para em seguida exportar aos EUA como produto alemão. Embora a empresa tenha concordado com as mudanças, há indícios de que ela pode ter continuado a rotular parte do tecido ucraniano como sendo alemão. 

Em fevereiro deste ano, a polícia flagrou funcionários de um escritório forense em Mykolaiv Oblast carregando a parte traseira de um micro-ônibus branco com recipientes de tecidos humanos. A filmagem policial da apreensão mostra o material trazendo o rótulo "Tutogen. Made in Germany". 

Nesse caso, o serviço de segurança disse que os funcionários do necrotério enganaram os parentes dos mortos para que permitissem o que julgavam ser a coleta de uma pequena quantidade de tecido, aproveitando seu momento de luto. 

Documentos apreendidos --exames de sangue, um relatório de autópsia e rótulos escritos em inglês e obtidos pelo ICIJ-- sugerem que os restos mortais estavam a caminho da Tutogen. 

Parte dos fragmentos de tecido encontrados no ônibus vieram de Oleksandr Frolov, 35, que tinha morrido de ataque epiléptico. 

"No caminho para o cemitério, quando estávamos no carro fúnebre, notamos que um dos sapatos escorregou do seu pé, que parecia estar solto", disse sua mãe, Lubov Frolova, ao ICIJ. "Quando a minha nora tocou seu pé, ela disse que estava vazio. Mais tarde, a polícia mostrou-lhe uma lista do que havia sido retirado o corpo do filho. 

"Duas costelas, dois calcanhares de aquiles, dois cotovelos, dois tímpanos, dois dentes e assim por diante. 

Eu não consegui ler até o fim, fiquei nauseada. Eu não conseguiria ler", disse ela. "Ouvi dizer que [os tecidos] foram enviados à Alemanha para serem usados em cirurgias plásticas e também para doação. Não tenho nada contra a doação, mas isso deve ser feito de acordo com a lei." 

Kateryna Rahulina, cuja mãe, Olha Dynnyk, morreu em setembro de 2011 aos 52 anos, mostrou documentos do inquérito policial. Os documentos supostamente conteriam sua aprovação para retirar tecidos do corpo de sua mãe. 

"Fiquei em choque", disse Rahulina. Ela diz nunca ter assinado os papéis, e era claro para ela que alguém havia forjado sua aprovação. 

O departamento de perícia de Mykolaiv Oblast, onde os supostos incidentes aconteceram, era, até recentemente, um dos 20 bancos de tecidos ucranianos registrados pela FDA.

No site da FDA, o número de telefone de cada um dos bancos de tecidos é o mesmo. 

É o número de telefone da Tutogen na Alemanha. 

(KATE WILLSON, VLAD LAVROV, MARTINA KELLER, THOMAS MAIER e GERARD RYLE)
Colaboraram MAR CABRA, ALEXENIA DIMITROVA e NARI KIM

O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos é uma rede independente global de jornalistas que colaboram em reportagens investigativas internacionais. Para ver vídeos, gráficos e mais reportagens desta série, visite http://www.icij.org/. Esta reportagem foi apurada em colaboração com a National Public Radio (EUA).
Tradução de MARCELO SOARES.


Nota: Leia também esse artigo no site espada do Espírito-- http://www.espada.eti.br/n1055.asp



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quarta-feira, 18 de julho de 2012

A religião ambientalista vista por um professor de filosofia


A religião ambientalista vista por um professor de filosofia

Cultos extravagantes na Rio+20:
o que tem a ver ambientalismo com religião?

Com frequência neste blog temos focalizado a existência de uma estranha religião imanente no ambientalismo. E nos referimos ao ambientalismo que pretende ser o mais coerente com os princípios básicos do movimento.

Também, com relativa frequência, tem nos sido perguntado o por quê dessa insistência em dita religião incubada, ou em questões religiosas. Porque, a primeira vista, a problemática ambientalista é basicamente científica.

Compreendemos perfeitamente esta dificuldade e a olhamos até com simpatia.

Pois, essa dificuldade foi também a nossa. E, em certo sentido continua sendo.

Tivemos dificuldade em admitir a ideia de uma religião singular por trás do ambientalismo mais “genuíno”.

Porém, com o tempo, foi ficando evidente para nós que o movimento ambientalista só se compreende bem pressupondo uma crença peculiar que o explica.
Panteismo que amalgama todos os seres?
A aplicação desta hipótese, revelou-se ordenadora e, depois, indispensável.

Dizemos que seguimos tendo dificuldades com essa “religião”, não só porque não a compartilhamos.

Mas, sobre tudo, porque não conseguimos abarcar alguns de seus aspectos. Esses parecem ser de tal maneira profundos e escuros que precisaríamos do talento de um Dante descrevendo o inferno para formulá-la.

Quiçá um dia chegaremos, sem o talento de Dante sem dúvida!

Denis Lerrer Rosenfield, professor de Filosofia na UFRGS, desde seu ponto de vista, apontou alguns aspectos dessa “religião” verde que não ousa dizer seu nome abertamente.

Por isso, julgamos de interesse para nossos leitores avaliar alguns excertos do artigo “O mal e o capitalismo” da lavra do professor gaúcho, publicado no “O Estado de S. Paulo”, 02.07.12:

O mal e o capitalismo

Denis Lerrer Rosenfield,
professor de Filosofia na UFRGS
Para que se possa melhor compreender os atuais debates em torno das questões ambientais, com reflexos na vida das cidades e do campo, torna-se necessário compreender a mentalidade dos ambientalistas radicais.

Argumentos científicos são cada vez mais relegados a segundo plano, embora, sob a forma do disfarce, esse tipo de ambientalista diz representar avanços científicos.

O que está, na verdade, em questão é uma mentalidade teológico-política, em tudo avessa ao pensamento crítico.

Vejamos os pontos estruturantes dessa mentalidade: 1) o fim do mundo; 2) os profetas; 3) o mal; e 4) a salvação.
O fim do mundo — Os ambientalistas radicais ou religiosos — o que é a mesma coisa — vivem anunciando o fim do mundo. Se não forem ouvidos ou atendidos, o planeta estará caminhando inexoravelmente para a catástrofe final. Um dos seus cavalos de batalha reside no anúncio do “aquecimento global”, que estaria produzindo resultados que confirmariam suas profecias.

Curioso nesse caso é que exercem tal influência sobre a opinião pública que nenhuma contestação é autorizada, principalmente as científicas. Tornou-se “normal” falar do aquecimento global planetário como se fosse uma verdade inconteste.

Quem discorda é anatematizado.

Cientistas que defendem essas posições, também chamados ecocéticos, têm, mesmo, dificuldades em publicar seus artigos. Os ecorreligiosos procuram, de todas as maneiras, fazer valer as suas posições.

Em entrevista a O Globo (20/6/2012), Richard Lindzen, cientista renomado do MIT, antes defensor das previsões alarmantes do aquecimento global, contesta atualmente esse catastrofismo, tendo se tornado um ecocético, ou seja, assumindo posições propriamente científicas.

Entre outros pontos, assinala que não houve um aquecimento significativo nos últimos 15 anos e, desde 1995, a temperatura média global do planeta pouco variou. No entanto, os anúncios proféticos do aquecimento global não cessam, embora não exista aquecimento que conduza ao anunciado desastre final.
Profetas — Nos últimos 150 anos, a temperatura média global variou entre 0,7 grau e 0,8 grau Celsius, o que invalidaria qualquer catastrofismo. No entanto, os profetas do fim do mundo continuam com previsões cada vez mais sombrias.

Essas previsões são incessantemente desmentidas pelos fatos, porém sempre inventam novas, com supostos aquecimentos progressivos que tornarão o planeta inabitável em poucas décadas. Num curto espaço de tempo, catástrofes naturais tomariam conta do mundo.
Não houve nenhuma grande catástrofe natural, mas seus anúncios apocalípticos continuam. A mentalidade religiosa se reveste, contudo, de uma roupagem científica. Agem religiosamente e procuram lhe conferir um ar de cientificidade.
O mal — Note-se que essas previsões do desastre final têm um foco determinado, um objetivo que estrutura sua ação política: o capitalismo. Ou seja, o fim do mundo é conseqüência do pecado, do fato de as pessoas viverem e agirem segundo os valores de uma sociedade baseada na economia de mercado, no direito de propriedade e no ganho, denominado pejorativamente de lucro.
Os ecorreligiosos se estruturam em ONGs nacionais e internacionais respaldadas militantemente pelos movimentos sociais. Observe-se que estes, por exemplo, são apoiados, inclusive organizativamente, pela Igreja Católica e, em menor medida, pela Luterana.
A pobreza franciscana admirável nos religiosos,
se imposta à sociedade em nome do anticapitalismo
vai produzir uma miséria monstruosa
No Brasil, a CPT e o Cimi verbalizam, mesmo, essa postura profética, advogando pela eliminação da propriedade privada como o grande mal. O MST e organizações afins seguem a mesma posição.

A propriedade privada e a economia de mercado seriam responsáveis pela pobreza e pelo desastre ambiental.

Uma vez o capitalismo eliminado, o mal, extirpado, o fim do mundo não se consumaria e o socialismo/comunismo ocuparia o seu lugar. A catástrofe ambiental, o apocalipse, seria evitada.

Note-se que símbolos do mal são o agronegócio e a produção de energia.

As lutas desses ambientalistas e movimentos sociais se estruturam segundo essas bandeiras. Na verdade, pretendem aumentar a pobreza com alimentos mais caros, o que poderia tornar a vida humana insustentável no planeta.

Querem que se produza menos, quando há mais bocas no mundo para ser alimentadas. Defendem uma energia mais cara, combatendo Belo Monte, que oferecerá energia renovável e barata. Posicionam-se contra as plantações de cana-de-açúcar e a produção de etanol, outro exemplo de energia renovável.
Rio+20: moça índigena "consumista" terá que mudar de estilo de vida

Os ecorreligiosos têm, também, a versão dos ambientalistas chiques, que adotam essas posições em nome do politicamente correto. Gostam de aparecer como corretíssimos, em seus carros poluidores, utilizando celulares e vivendo em grandes apartamentos e mansões.

Não deveriam ler jornais nem livros, nem utilizar papéis de qualquer espécie, pois são feitos de celulose, oriunda de florestas plantadas. Não se esqueçam de que o agronegócio é símbolo do mal.
Salvação — A salvação está, no entanto, à mão de todos os que seguirem os profetas. Basta lutar contra o capitalismo, desrespeitar a propriedade privada, organizar-se militantemente contra as hidrelétricas, invadir grandes propriedades, pois, assim, o novo mundo estará ao alcance de todos.

Outro mundo é possível, eis o lema que é a todo momento realçado. Todos os habitantes do planeta se deveriam dispor à conversão para a vida simples e primitiva, aquela que ganha, inclu-sive, a forma utópica — e falsa — da solidariedade originária.

Abandonem a civilização e nos sigam: nós somos o caminho, a floresta originária, o destino.

Fonte: Verde: a cor nova do comunismo

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Os Illuminati Emburrecendo a Sociedade


  Estratégia Cloward-Piven Sergio Ricardo M. da Silva · Jun 11, 2016 Deve-se perder a ingenuidade para se entender a crise econômica — e ta...