A Doutrina do Homem: Uma Crítica ao Transumanismo Cristão
Autor: Chris D. Putnam
Nota: Chris Putnam ofereceu gentilmente este seu excelente ensaio para publicação em Forcing Change. Chris é um pesquisador, autor e conferencista sobre apologética cristã. Seu site na Internet é http://www.logosapologia.org).
Introdução
O propósito deste ensaio é tratar algumas das muitas
implicações teológicas que envolvem o Transumanismo, especialmente em
relação à sua consistência com uma cosmovisão cristã. O tópico é tão
amplo que pode ser melhor tratado paradigmaticamente, examinando suas
tecnologias e filosofias fundamentais. Esta apresentação fará primeiro
um breve resumo do tópico e depois apresentará uma visão geral das
tecnologias envolvidas. À medida que as tecnologias forem discutidas,
algumas críticas específicas serão feitas e respostas cristãs
apresentadas. Em seguida, veremos as questões teológicas.
Primeiro, analisaremos os fundamentos filosóficos do
movimento e depois interagiremos especificamente com os proponentes mais
visíveis que tentam reconciliá-lo teologicamente com o Cristianismo. Os
principais pontos oferecidos em defesa da tese são que os promotores do
Transumanismo cristão são dirigidos por uma antropologia sem base
bíblica, uma visão pelagiana do pecado e um profundo erro de compreensão
da vida cristã, todos os quais característicos do liberalismo
teológico.
O primeiro ponto de análise será a antropologia, que
naturalmente influencia as pessoas a rejeitarem o relato bíblico da
Criação e do pecado original. A negação da autoridade das Escrituras nas
questões da origens e do pecado resulta na adoção de uma cosmovisão
naturalista e leva a uma abertura para ideias como o Transumanismo
cristão. Isto será revelado como arrogância e um pecado potencialmente
grave.
Finalmente, algumas sugestões serão oferecidas como
uma resposta cristã. Este ensaio demonstrará que, embora existam alguns
que afirmem serem Transumanistas cristãos, o Transumanismo é uma
cosmovisão antropocêntrica baseada em pressupostos naturalistas e que é
incompatível com o Cristianismo bíblico ortodoxo.
Resumo
O Transumanismo está no caminho de se tornar uma
cruzada cultural e internacional que promete romper as limitações
humanas e reprojetar de forma radical a humanidade. Defendo a opinião
que o Transumanismo atende à definição básica de uma religião e
cosmovisão. Os aderentes dessa cosmovisão planejam estender a duração da
vida, aumentar a capacidade dos sentidos, expandir grandemente a
capacidade de memória e, de um modo geral, usar a tecnologia para
aprimorar a condição humana. É tentador intentar depreciar o
Transumanismo como imaginações fantásticas de alguns excêntricos e fãs
de ficção científica. Entretanto, esses indivíduos não são simples
malucos; ao revés, são professores de universidades de primeira linha,
como Yale, MIT e Oxford e têm uma visão secularizada do futuro, uma
escatologia alternativa, por assim dizer. A Bíblia promete o mesmo por
meio de Cristo. Essas duas visões não são compatíveis e uma colisão
cultural será inevitável.
A filosofia moderna do Transumanismo foi criada em
1990 por Max More, no ensaio "Transhumanism: Toward a Futurist
Philosophy" (Transumanismo: Rumo a uma Filosofia Futurista). De acordo
como More, "o Transumanismo é uma classe de filosofias que querem nos
guiar rumo a uma condição pós-humana." [1].
More é abertamente antiteísta, o que será tratado na
seção de interação crítica. O filósofo Nick Bostrom, da Universidade de
Oxford, refinou e amenizou a posição inicialmente virulenta de More.
Todavia, a maioria dos transumanistas é formada por ateístas ou
agnósticos, e a crítica que "eles estão brincando de Deus" não os
perturba nem um pouco. [2]. Com base na premissa que a Evolução
naturalista é verdadeira, o Transumanismo procura moldar a espécie
humana por meio da aplicação direta da tecnologia. Entretanto, isto
depende de uma infinidade de variáveis. Poderemos terminar com o homem
de seis milhões de dólares, ou com o monstro Frankenstein. Existe um
estado de perplexidade nas perguntas. O que significa ser pós-humano?
Quais são as consequências espirituais? E a alma? Um cristão pode ser
transumanista? Embora estas questões permaneçam sem respostas, existem
aqueles que tentam fundir o Cristianismo com o Transumanismo. Uma
resposta para a última questão será oferecida perto do fim deste ensaio.
O consenso cristão ocidental passou para a história e
estamos agora vivendo em uma era pós-cristã. O secularismo está se
tornando cada vez mais agressivo, encontrando voz no Movimento
Neoateísta, que tem como seus principais expoentes Richard Dawkins,
Daniel Dennet, Christopher Hitchens e Sam Harris. A retórica deles de
cientificismo triunfante é o Zeitgeist (o espírito do tempo) do
século 21. Em grande parte, os transumanistas compartilham essa fé
devotada na ciência, porém a cosmovisão transumanista é mais enigmática.
Não pode haver dúvidas que o progresso científico e
os avanços técnicos estão agora preparados para transformar radicalmente
a humanidade. Isto está caminhando em um ritmo tão rápido que é
imperativo que os cristãos atentos ofereçam uma perspectiva bíblica no
mercado de ideias. Embora isto esteja se tornando cada vez mais
impopular, não devemos nos atemorizar. Esta questão tem enormes
implicações para a teologia.
Infelizmente, muito pouco até aqui foi escrito sobre o
Transumanismo dentro dos círculos evangélicos conservadores. Existe uma
Associação Mórmon Transumanista, o que não é surpreendente, tendo em
vista o politeísmo e a doutrina da apoteose do homem, que os mórmons
possuem. [3]. No nível popular, existem dois sítios na Internet criados
por um instrutor de operações nucleares, James Ledford, chamados
Technical-Jesus.com e HyperEvolution.com, bem como um livro que ele
mesmo publicou e que promove o "Transumanismo cristão". [4]. O teólogo
Paul Tillich é frequentemente citado em suporte.
Ultimamente, o Transumanismo tem encontrado
justificação teológica em obras de teólogos da Igreja Evangélica
Luterana da América, como Phillip Hefner, Ted Peters, e outros. Na
verdade, no inverno de 2005, toda uma edição da revista luterana Dialog
foi dedicada ao assunto. [5]. A missão dos luteranos parece
bem-intencionada, tentando fazer uma ponte entre a ciência e a fé. Eles
são bem-vindos em arenas em grande parte seculares e o trabalho deles
está sendo considerado com seriedade. Infelizmente, com exceção de
Thomas Horn, vozes cristãs conservadoras não estão sendo ouvidas, embora
talvez elas também não sejam bem-vindas. [6].
Bostrom, Hefner e Ledford argumentam que não há nada
de errado com o fato de um cristão adotar uma cosmovisão transumanista.
Eu discordo pelas razões que serão discutidas na seção de interação
crítica deste ensaio. Primeiro, para compreender essa cosmovisão,
precisamos investigar rapidamente a ciência e a tecnologia que estão por
trás dela.
A Tecnologia
O Transumanismo é dirigido pelo ambicioso rolo
compressor da moderna revolução científica e tecnológica. Todas as
tecnologias subjacentes ao Transumanismo são partes da explosão da
biotecnologia e incluem genética, neurofarmacologia, robótica,
cibernética, inteligência artificial e nanotecnologia. Todas elas estão
interrelacionadas e são alimentadas pela sempre crescente capacidade
computacional, que, segundo a Lei de Moore, dobra a cada dois anos.
Para o propósito desta discussão, examinaremos essas
tecnologias de um modo muito limitado em duas categorias amplas: a
biológica/genética e as tecnologias eletromecânicas dos computadores.
Dessas duas, a primeira tem recebido mais atenção por parte dos
pensadores cristãos, devido a questões como a pesquisa com
células-tronco, clonagem e o holocausto infantil mundial. Como
resultado, os cristãos têm uma posição coerente sobre o valor intrínseco
de toda a vida humana desde a concepção até a velhice. Portanto, a
posição básica expressa por Francis Beckwith no debate sobre o aborto é
uma boa plataforma a partir de onde começar. [7]. Entretanto, um dos
novos grandes desafios que estão diante dos pensadores cristãos é nossa
recém-adquirida capacidade de alterar a natureza para nossos próprios
fins, por meio da engenharia genética e da biotecnologia.
A descoberta do ácido desoxirribonucleico (DNA) por
James Watson e Francis Crick, em 1954, abriu a arquitetura da vida à
intervenção humana de uma maneira que era inconcebível anteriormente. Em
2003, o Projeto do Genoma Humano produziu um mapa completo do genoma
humano. Consequentemente, somos agora capazes de usar a engenharia
genética para alterar a nós mesmos. O procedimento menos controverso é a
terapia somática dos genes celulares, que envolve a inserção de
material genético saudável em pacientes com doenças, como a Doença de
Hunington. [8].
O procedimento secundário é chamado de terapia
genética germinal e envolve rearranjar o material genético defeituoso de
um modo que produza genes saudáveis. Esta técnica aumenta as
possibilidades que as alterações sejam passadas para os descendentes.
[9]. Assim, segue-se que poderíamos alterar permanentemente as espécies
com esta tecnologia. A atual terapia genética é experimental e a FDA (Food and Drug Administration; NT:
órgão regulador das indústrias farmacêutica e de alimentos nos EUA)
está se movendo com cautela, pois essas técnicas estão agora sendo
desenvolvidas para propósitos terapêuticos. [10]. Entretanto, não é
difícil imaginar o uso delas pelos militares, engenheiros sociais e
transumanistas utópicos.
A terapia do aprimoramento genético é algo à qual os
cristãos devem se opor. Ela envolve a introdução de novos materiais
genéticos simplesmente para aprimorar as capacidades humanas. Os
transumanistas preveem a alteração ou até a adição do DNA de outras
espécies dentro do código humano para criar o "Humano Mais" —
essencialmente, um ser humano geneticamente modificado. [11].
Uma analogia instrutiva é considerar a diferença
entre o diabetes e o uso da insulina e um atleta usar anabolizantes. Há
uma clara e normativa distinção moral, uma distinção que deveria formar o
consenso cristão. Até mesmo em uma base secular, a melhoria também
apresenta um risco mais alto. Corrigir um gene defeituoso com o que já
deveria estar ali apresenta baixo risco para o paciente, mas adicionar
alguma coisa nova pode afetar adversamente inúmeros caminhos bioquímicos
relacionados. [12]. Assim, é vitalmente importante distinguir os
procedimentos terapêuticos do aprimoramento. Finalmente, a ética
bíblica desincentiva o aprimoramento genético, porque os cristãos são
chamados para seguirem o modelo de Cristo em autonegação e humildade.
(Lucas 9:23; Mateus 23:12; Romanos 12:1,16).
A categoria mais controversa é a engenharia
eugenista, que envolve direcionar características para melhorar um banco
genético específico. [13]. Isto traz à mente os livros Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932, e A Abolição do Homem,
de C. S. Lewis, publicado em 1947, ambos previsões prescientes, porém
perturbadoras dos nossos atuais dilemas morais. Embora a engenharia
eugenista possa parecer extremamente insípida, a ideia está sendo
discutida dentro dos círculos de intelectuais. Em um livro recente que
discute as ideias perigosas, o biólogo evolucionista e expoente do
ateísmo Richard Dawkings (foto à direita), lamenta que antes de Hitler,
os cientistas nos anos 1920s e 1930s não tinham problemas de consciência
com a ideia de bebês de projeto. Ele então considerou:
"Eu me pergunto se, mais de sessenta anos após a
morte de Hitler, poderíamos pelo menos nos aventurar a perguntar qual é a
diferença moral entre gerar filhos com capacidade musical e forçar uma
criança a receber lições de música? Ou, por que é aceitável treinar
corredores velozes e saltadores, mas não criá-los por via reprodutiva?"
[14].
Além da imagem de Deus em todas as pessoas (Gênesis
1:26-27), não existem fundamentos para resistir ao ímpeto atual
pró-engenharia social. Afinal, o atual uso generalizado dos exames
genéticos pré-natais é uma forma privada disso. Talvez o mundo de
Huxley, de reprodução compulsória em tubos de ensaio não esteja tão
longe no nosso futuro? A verdade desconfortável é que hoje, podemos
fazer isto. O filósofo, economista político e autor americano Francis
Fukuyama, concorda. Ele afirma que "a ameaça mais significativa
representada pela biotecnologia contemporânea é a possibilidade de ela
alterar a natureza humana e, desse modo, nos levar para um estágio
'pós-humano' da história." [15].
Infelizmente, hoje existem caminhos concorrentes para
esse fim. Outras tendências perturbadoras incluem a clonagem humana, a
produção de quimeras animais e humanas e o uso de drogas psicoativas.
Agora que a clonagem humana é possível, está sendo proposta a utilização
de tecidos fetais coletados de fetos clonados, ou geneticamente criados
por engenharia, na terapia de genes, ou até para uso como peças
sobressalentes. [16]. Em 2007, os cientistas da Escola de Medicina da
Universidade de Nevada criaram uma ovelha que tinha 15% de células
humanas e 85% de células de carneiro. [17]. Além disso, a
neurofarmacologia já está sendo amplamente usada para controlar o
comportamento e as emoções. Embora existam usos legítimos, drogas
psicotrópicas, como a Ritalina, estão sendo distribuídas às crianças em
idade escolar de forma rotineira. O Prozac e seus similares estão sendo
consumidos por 28 milhões de americanos, ou 10% da população. [18].
Isto parece estar caminhando para aquilo que os transumanistas
otimisticamente veem como uma utopia induzida por meios bioquímicos:
"Tecnologias como interfaces cérebro-computador e a
neurofarmacologia poderão amplificar a inteligência humana, aumentar o
bem-estar emocional, melhorar nossa capacidade de comprometimento
contínuo com os projetos da vida, ou com uma pessoa amada, e até
multiplicar a variedade e riqueza das emoções possíveis." [19].
À luz da história do século 20, isto parece ingênuo,
no mínimo. A cosmovisão secular, enraizada no reducionismo materialista e
no determinismo genético, deixa pouco espaço para a dignidade inerentes
de toda a vida humana. Preparados ou não, já entramos no admirável
mundo novo. Em 1965, o cofundador da Intel, Gordon E. Moore, escreveu um
trabalho de pesquisa em que descreveu a tendência de aumento na
velocidade dos circuitos microeletrônicos, que veio a ser chamada de Lei
de Moore. A lei descreve a propensão persistente do poder computacional
dobrar a cada dois anos. Esse padrão tem se mantido e é, na verdade,
considerado uma estimativa conservadora para o crescimento futuro. Com
base nisto, o cientista do MIT, futurista e autor Ray Kurzweil
(fotografia à direita) predisse aquilo que veio a ser chamado de
"Singularidade" — um ponto no tempo em que a inteligência artificial
supera as capacidades humanas e começa a projetar novas tecnologias
sozinha. [20]. Neste tempo, ele prediz que o crescimento tecnológico
será vertical na curva exponencial.
Kurzweil também visualiza o próximo passo na evolução
humana como a união do homem com a máquina. Na realidade, não é tão
fantástico quanto parece. Atualmente, implantes estão sendo feitos no
cérebro de modo a restaurar a capacidade auditiva. As interfaces
cérebro-máquina estão sendo usadas para "ajudar pacientes paralisados,
habilitando-os a operar máquinas com gravações de suas próprias
atividades neurais." [21]. Hoje, tecnologias similares estão disponíveis
para jogos de computador, como eletrônica de consumo. [22]. Isto é
real, está crescendo e não vai desaparecer. O entusiasmo otimista de
Kurzweil pelo progresso é emocionante e é fácil compreender a atração
que isto exerce sobre os amantes da tecnologia.
Kurzweil é, inegavelmente, um dos principais
inventores do nosso tempo e tem sido chamado de "o herdeiro legítimo de
Thomas Edison". [23]. Se alguém postulasse que o Transumanismo é uma
religião, os livros de Kurzweil, The Age of Spiritual Machines (A Era das Máquinas Espirituais) e The Singularity is Near
(A Singularidade Está Próxima), provavelmente seriam considerados
textos sagrados. Kurzweil desenvolve sua apresentação com base no
paradigma da Evolução natural, dedicando uma grande seção do seu livro The Age of Spiritual Machines para estruturar o Transumanismo como uma consequência evolucionária inevitável.
O paradigma da Evolução Darwiniana é um pressuposto
fundamental no conceito de Kurzweil, pois ele propõe que algoritmos
computacionais modelam explicitamente a seleção natural. [24]. Ele
argumenta que esta e outras heurísticas derivadas pela engenharia
reversa do cérebro humano, combinadas com a tecnologia das redes
neurais, prometem o rápido desenvolvimento da inteligência artificial
senciente e consciente. [25]. Portanto, ele prediz que os computadores
alcançarão a capacidade de memória e velocidade computacional do cérebro
humano por volta do ano 2020.
Além disso, Kurzweil prediz que por volta de 2029, o
computador de 1.000 dólares será mil vezes mais poderoso do que o
cérebro humano, e que implantes de circuitos computacionais projetados
para conexão direta com o cérebro estarão amplamente disponíveis. [26].
Com relação à inteligência artificial, ele prediz que por volta de
2029: "As máquinas afirmarão que possuem consciência e um conjunto tão
amplo de experiências emocionais e espirituais quanto seus progenitores
humanos, e essas afirmações terão ampla aceitação." [27].
Ele também prediz que, eventualmente, a consciência
humana poderá ser transferida (baixada) para os computadores,
introduzindo a imortalidade. A afirmação é a seguinte: Por volta de
2099, as máquinas e os seres humanos se fundirão em um ponto em que não
haverá distinção entre homem e máquina, ou entre real e virtual,
eliminando assim todas as guerras, a pobreza, a morte e as doenças.
[28]. Esta promessa parece ser familiar para você? (Veja Apocalipse
21:4)
Crítica Teológica
A escatologia transumanista da transferência da
consciência humana para um computador está repleta de suposições sem
fundamento. Eles simplesmente negam a alma a priori, vendo a consciência
como puramente um epifenômeno. Nossos corpos são considerados simples
matéria (como o hardware do computador) uma prótese biológica, que
podemos recriar e aprimorar pela engenharia. Eles veem a natureza
essencial do nosso ser como padrões de informações e dados armazenados
no cérebro. [29].
Consequentemente, os transumanistas imaginam que a
imortalidade possa ser obtida por meio da transferência de si mesmos
para dentro dos computadores, na forma de seus padrões cerebrais.
Kurzweil chama isto de patternism. [30]. O teólogo
luterano da Igreja Evangélica Luterana da América, Ted Peters, tratou
este assunto, observando que "ele assume que a inteligência humana e a
personalidade humana possam se tornar desencarnadas." [31].
Isto cria uma interessante dissonância com o típico
paradigma da identidade naturalista mente-corpo. Em típica linguagem
teológica liberal, Peters argumenta que o termo alma é um "marcador de
lugar simbólico para identificar a dimensão de quem somos que se conecta
com Deus." [32].
Isto é problemático à luz das Escrituras (veja Mateus
10:28 e Apocalipse 6:9 e 20:4). Entretanto, para seu crédito, ele
conclui que o conceito cristão de alma não é em nada similar ao dos
transumanistas, de padrões de atividade cerebral que podem ser levados
para fora do corpo.
De acordo com Kurzweil, a imortalidade humana pode ser obtida por meio da transferência do homem para a máquina (NT: como em uma transferência de arquivos). Para demonstrar a impossibilidade do patternism,
o filósofo Derek Parfit propôs uma inteligente experiência mental.
[33]. A ideia é que você é um astronauta que está viajando em uma missão
para um planeta distante por meio uma nova forma de teletransporte.
Para realizar a viagem, os padrões do seu cérebro e seu tipo físico
serão transferidos e enviados para o planeta para serem reconstruídos a
partir de matéria criada precisamente por meio de um exame de varredura
feito em você. Neste processo, seu corpo na Terra será destruído, mas
isto não é problema, pois você logo em seguida existirá em um novo
corpo. Deveríamos embarcar nesta viagem? No paradigma de Kurzweil, isto
deve funcionar, mas na realidade não funciona. E isto não é tanto uma
questão de metafísica como lógica: a Lei da Não-Contradição não permite
isto.
Considere um cenário em que você não está destruído
na Terra, porém a transferência dos arquivos foi bem-sucedida.
Obviamente, a pessoa no outro planeta não é você. Como essa pessoa
claramente não é você neste caso, segue-se que também não foi você quem
foi destruído. Portanto, independente do quanto os transumanistas possam
desejar que isso aconteça, a transferência não anulará a morte (Hebreus
9:27). Isto pertence a Cristo somente (Apocalipse 20:14).
Fantasias e imortalidade à parte, pode-se perguntar
maravilhado o que exatamente Kurzweil quis dizer com "uma máquina ter
uma experiência espiritual". Isto se torna mais esquisito, e é aqui que
ocorre a interseção com o liberalismo teológico. No livro The Singularity is Near,
ele expressa sua crença na necessidade de uma nova religião: "Um papel
principal da religião tem sido o de explicar a morte, pois até aqui
havia muito pouco construtivo que podíamos fazer a respeito dela." [34]
Ele declara que essa nova religião "manterá dois
princípios: um da religião tradicional e um das artes e ciências
seculares — da religião tradicional, o respeito pela consciência humana;
do mundo secular, a importância do conhecimento." [35]. Isto não é
diferente do humanismo laico tradicional. Portanto, precisamos
perguntar: "Onde é que Deus se encaixa nesta nova religião?" Kurzweil
ambiciosamente dá a solução: "Uma vez que saturarmos a matéria e energia
no universo com inteligência, ele 'despertará', será consciente e
sublimemente inteligente. Isto é estar o mais perto de Deus que posso
imaginar."
Na verdade, isto soa estranhamente similar ao
conceito panteísta do teólogo liberal Paul Tillich, de Deus como "o
poder de tudo ser". [36]. Todavia, na mente de Kurzweil, o homem está
envolvido na criação de Deus, o que é efetivamente a antítese de Gênesis
1:26. De fato, é exatamente o contrário: Deus criado à imagem do homem.
Em sua articulação original, Max More não escondeu o
fato de querer substituir a religião convencional. Como Dawkings, ele vê
a religião como uma ficção obscura e acredita que a ciência
desacreditou a cosmovisão bíblica. Consequentemente, ele argumenta que o
Transumanismo suplantará a religião tradicional. Ele se vangloria: "O
crescimento do Humanismo nas últimas décadas iniciou esta obra, mas
agora é hora de utilizar uma opção mais inclusiva e atraente de
Transumanismo." [37].
O Humanismo Secular convencional se qualifica como
uma cosmovisão no sentido que fornece um conjunto completo de ideias por
meio das quais seus aderentes veem a realidade. Seguindo esta linha de
raciocínio, ele também é uma religião, pois tenta responder ao mesmo
conjunto de questões fundamentais sobre teologia, metafísica,
identidade, origens, destino e moralidade que outras religiões. [38]. Na
verdade, a Suprema Corte dos EUA já julgou no caso James J. Kaufman x
Gary R. Mac-Caughtry que o Humanismo Secular é uma religião. [39]. À
luz desse status, parece justo argumentar que o Transumanismo
simplesmente define sua escatologia. Assim, é vitalmente importante
observar o abjeto fracasso do Humanismo Laico até aqui. O progresso
científico sem paralelos não produziu uma utopia secular; ao revés,
levou a um pesadelo humano. O total mundial no século 20 é de 262
milhões de assassinatos pelos governos e, em grande parte, fora das
guerras, na busca do ideal político do Marxismo dos humanistas
secularizados. [40].
Desde a expressão inicial veementemente secular de
More, a filosofia transumanista tem sido polida pelo filósofo Nick
Bostrom, da Universidade de Oxford. Embora Bostrom negue que o
Transumanismo seja uma religião, ele reconhece que "o Transumanismo
poderá servir a algumas das mesmas funções que as pessoas
tradicionalmente procuram na religião." [41]. Ele declara sucintamente
que o Transumanismo é uma percepção naturalista, e em uma entonação
decididamente superior diz que, "os transumanistas preferem derivar sua
compreensão do mundo dos modos racionais de investigação, especialmente o
método científico." [42]. Se alguém é cristão em qualquer sentido
significativo, isto não é aceitável. Na verdade, temos aquilo que o
mundo secular não tem: princípios infalíveis e atemporais revelados pelo
próprio autor da vida (2 Timóteo 3:16). Entretanto, isto é mais do que
uma questão de dar respostas curtas com textos de prova. O homem é a
mais elevada criação de Deus na Terra e recebemos a ordem de sermos bons
mordomos da Terra e de seus recursos, de defender e respeitar a vida
humana, pois fomos criados de um modo muito singular. Assim, temos um
mandado de utilizar algumas das tecnologias discutidas, mas com o
cuidado explícito de que elas sejam direcionadas exclusivamente para o
aspecto terapêutico da medicina.
O Transumanismo está encontrando algum suporte
teológico no paradigma "cocriador criado" do teólogo Phillip Hefner, da
Igreja Evangélica Luterana da América. Hefner tornou-se bastante
conhecido nos círculos transumanistas, escrevendo artigos como The Created Co-Creator Meets Cyborg (O Cocriador Criado Encontra o Ciborgue) e The Animal That Aspires to Be an Angel: The Challenge of Transhumanism.
(O Animal Que Aspira Ser um Anjo: O Desafio do Transumanismo).
Epistemológica da ênfase exagerada da imanência de Deus no liberalismo
teológico, a ideia dele assume que os seres humanos emergiram como
agentes resolutos e livres de um processo evolucionário natural e que a
natureza humana é moldada tanto pela herança genética quanto cultural.
[43]. Finalmente, o homem é o instrumento de Deus para cumprir seus
propósitos na criação. [44]. Essa construção teológica é articulada por
ele da seguinte forma:
"Os seres humanos são cocriadores criados por Deus,
cujo propósito é ser o agente, atuando em liberdade, para criar o futuro
que seja mais salutar para a natureza que nos trouxe à vida — a
natureza que não é apenas nossa própria herança genética, mas também
toda a comunidade humana e a realidade evolucionária e ecológica em que e
à qual pertencemos. Exercer esse papel de agente é a vontade de Deus
para os humanos." (Hefner, 1993, 26).
Esta visão tem sido criticada por diminuir o
excepcionalismo humano com sua aceitação da Evolução naturalista, ao
mesmo tempo que presume elevar o ser humano ao mesmo nível de Deus.
[45]. A teologia liberal de Hefner é derivada de sua visão reduzida da
revelação especial. Além disso, Hefner interpreta o relato da criação no
Gênesis como mitologia primordial, que usa símbolos e metáforas para o
passado evolucionário do homem. [46]. Ele cita Tillich frequentemente em
seu tratado sobre a queda. Por exemplo, "Antes do pecado ser um ato,
ele é um estado." [47]. Esta é uma referência à ideia que não houve uma
queda do homem real no espaço-tempo, mas a "queda" representa
simbolicamente a tensão inevitável entre o ideal cultural e o instinto
primordial que apareceu à medida que o homem evoluiu de sua origem mais
simples. Na verdade, Hefner rejeita a compreensão bíblica tradicional,
considerando-a obsoleta:
"Além disso, certas compreensões tradicionais estão
seriamente desafiadas, incluindo a necessidade de rejeitar simplesmente
algumas compreensões historicamente populares. As noções (1) do primeiro
casal, (2) conceitos da Queda que insistem em algum ato primordial
praticado pelos primeiros humanos e que alterou a natureza humana
subsequente e (3) certas formas de interpretação etiológica estão entre
os elementos que precisam ser vistos com grande ceticismo. (Hefner,
1993, 98).
Isto é altamente problemático, pois é claro nas
Escrituras que Jesus afirmou a existência do primeiro casal (Mateus
19:4). Além disso, essa visão não se qualifica como Evolução teísta de
um sentido cristão significativo. Como Millard Erickson expressou, "Com
respeito aos dados bíblicos, a Evolução teísta frequentemente aceita um
casal inicial real, Adão e Eva." [48]. Com relação à sua completa
rejeição da historicidade do Gênesis, a visão de Hefner parece mais
alinhada com a Evolução deísta. Para um teólogo que se diz evangélico,
seu quase cientificismo é preocupante.
A principal fraqueza nesta linha de pensamento é que
ele solapa totalmente a base para a mensagem do Evangelho. O apóstolo
Paulo proclamou: "Pois assim como por uma só
ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também
por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
justificação de vida." [Romanos 5:18].
Assim, segundo o pensamento de Paulo, a negação de um
pecado original efetivamente nega a expiação pela cruz. Além disso, se o
pecado é meramente uma memória vestigial, então a cura não pode ser uma
restauração via santificação em Cristo. (Romanos 6:22). A cura para o
pecado torna-se necessariamente a eliminação dos instintos animais que
ainda restaram. Erickson argumenta: "Este conceito da cura pelo pecado
adota a crença otimista que o processo evolucionário está levando a
espécie humana na direção correta." [49]. Embora essa ideia seja
lindamente consistente com o pensamento transumanista, Jesus ensinou que
"muitos se escandalizarão, a iniquidade se multiplicará e o amor de muitos esfriará"
no tempo quando a evangelização mundial estiver concluída (Mateus
24:10-14). Além disso, as Escrituras suportam o fato que o aumento da
apostasia e da iniquidade ocorrerão (2 Tessalonicenses 2:3; 1 Timóteo
4:1-2; 2 Timóteo 4:3; 2 Pedro 3:3). Finalmente, considere que Jesus "não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem." [João 2:25].
O fato de a teologia deles ser antitética às
Escrituras não parece incomodar teólogos liberais, como Paul Tillich
(figura à esquerda) e Philip Hefner. A adoção do Darwinismo e da Alta
Crítica para interpretar o relato bíblico da Criação e julgar a
inerrância das Escrituras torna a pessoa mais vulnerável às tendências
pós-modernas mais recentes. Em seu artigo The Animal That Aspires to Be an Angel: The Challenge of Transhumanism,
Hefner intencionalmente ofusca a distinção entre cura e aprimoramento,
frequentemente tergiversa e confunde o Transumanismo com a medicina.
Para seu crédito, ele adverte que embora tenhamos sido criados para
forçar nossos limites, "não somos Deus, somos finitos e pecaminosos"
[50]. Entretanto, é preciso ter em mente que a visão dele sobre o pecado
não é uma visão cristã ortodoxa. Embora ele recomende cautela, isto
efetivamente equivale a dar proteção às suas apostas. A proibição ao
homicídio em Gênesis 9:6 está baseada no fato de a humanidade ter sido
criada à imagem de Deus. Parece razoável, então, estender isto para
incluir a alteração pós-humana. Mas, Hefner afirma que se opor ao
Transumanismo com base na "imagem de Deus" impõe uma antropologia
normativa não-garantida, afirmando que:
"Outros pensadores argumentam que existem qualidades
invioláveis, principalmente qualidades humanas invioláveis e dignidade
humana, que também são ameaçadas pela biotecnologia. A dificuldade com
esse raciocínio é que ele impõe uma qualidade estática à natureza que
não se conforma na verdade com aquilo que sabemos sobre o caráter
dinâmico da natureza." (Hefner 2009, 166)
Parece que ele está argumentando que o mandato
evolucionário supera a ideia que a dignidade humana seja fixa. Parece
que ele vê o Transumanismo como o próximo passo inevitável na evolução
humana, que o Transumanismo é uma consequência natural do status do
homem como um cocriador com Deus. Em outras palavras, é uma Evolução
deísta por meio da ação do homem como um agente. Em suas conclusões
teológicas, ele escreve: "O Transumanismo não é, primeiro de tudo, uma
questão de moralidade. Nossa existência como cocriadores criados que têm
diante de si as possibilidades do Transumanismo é profundamente uma
expressão da nossa natureza humana." [51].
Ele também afirma que "desacreditar nossa natureza
dada por Deus é em si mesmo uma rebelião contra Deus." [52]. Em outras
palavras, temos um mandato de Deus para o Transumanismo. Não é difícil
ver por que o cocriador criado, de Hefner, é um pilar do pensamento dos
assim chamados "Transumanistas cristãos".
Embora não tão sofisticado quanto Hefner, as páginas
na Internet de Ledford também usam as obras de Tillich para justificar o
Transumanismo Cristão. Especificamente, uma ideia que Tillich chamou de
"doutrina profunda do humanismo transcendente", que é a ideia de
Tillich que "Adão está cumprido em Cristo". [53]. Como Tillich explica,
"isto significa que Cristo é o homem essencial, o homem que Adão deveria
se tornar, mas na verdade não se tornou." [54].
Isto não está alinhando com a Cristologia ortodoxa,
que coloca Cristo como a eterna segunda pessoa da trindade. É também
logicamente incoerente, porque Adão foi criado por Cristo (João 1:3). A
confiança de Ledford em Tillich não é surpreendente. A ênfase excessiva
de Tillich na imanência de Deus tem sido criticada como equivalente ao
panenteísmo, e parece preocupantemente similar com o conceito de
Kurzweil. [55]. As páginas de Ledford na Internet parecem ser um
sincretismo de misticismo de Nova Era, Cristianismo e ideologia
transumanista. Exemplos notáveis incluem "O céu permite a
Hiper-Evolução", e clichês como "Você não pode fazer nada errado quando o
espírito do amor, o Espírito Santo, está com você." [56].
Ledford realmente não se esforça para ser coerente
com as Escrituras, oferecendo platitudes como "O caminho para Deus é
amplo, pois somos diferentes. Além disso, o caminho para Deus converge
no chamado dele." [57]. Logicamente, isto está em contradição direta com
o que Jesus disse: "Entrai pela porta estreita;
porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e
muitos são os que entram por ela." [Mateus 7:13]. Ledford não é
um teólogo e seu trabalho não oferece desafios para qualquer um que
possua uma compreensão básica da doutrina cristã. Infelizmente, os
buscadores menos sofisticados serão enganados por ele.
Quanto à questão "Pode um cristão ser um
transumanista?" — isto revela uma condição de coração obstinado. O
Transumanismo é menos um pecado do que é orgulho e arrogância. O Evangelical Dictionary of Theology faz a distinção que:
"Enquanto que arrogância significa a tentativa de
transcender as limitações indicadas pelo destino, pecado refere-se a uma
indisposição de romper nossas estreitas limitações em obediência à
visão da fé. Embora a arrogância tenha a conotação de falta de
moderação, o pecado consiste de um comprometimento errado. Arrogância é
tentar ser super-humano; pecado é se tornar não-humano. Arrogância
significa subir ao nível dos deuses; pecado significa tentar tirar Deus
do lugar ou viver como se não houvesse Deus." (Bloesch 2001, 1104).
Com base nisto, o Transumanismo é arrogância na mais
alta ordem, enquanto que se tornar pós-humano é um pecado. A "obediência
à visão da fé" mencionada acima não é a de Tillich, ou de Hefner, mas a
de Paulo. O apóstolo exortou assim os colossenses: "Revesti-vos,
pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de
misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade."
[Colossenses 3:12]. Tillich, Hefner e Ledford demonstram todos uma
enorme incompreensão da condição humana. Os humanos são tanto finitos
quanto pecaminosos. Não temos a sabedoria e a pureza moral necessárias
para decidir as questões da "perfeição" humana. Os cristãos precisam
assumir uma posição bem-informada sobre o Transumanismo, compreender
tanto o uso apropriado da tecnologia e os perigos potenciais que ela
apresenta. Assim, uma teologia de cura, oposta à de aprimoramento,
precisa ser desenvolvida de acordo com sólidos princípios bíblicos.
O Transumanismo é uma nova religião anticristã que
está em formação. O globalismo está levando o mundo a uma "tecnocracia",
ou governo pelas elites. [58]. Quando o aprimoramento transumano se
tornar amplamente disponível, e provavelmente se tornará em breve,
somente a elite conseguirá pagar por ele. Isto criará um novo sistema de
castas. Além disso, o potencial dentro dessas tecnologias para
manipulação da mente abre as portas para o totalitarismo orwelliano.
Francis Schaeffer e C. S. Lewis fizeram advertências prescientes à
comunidade cristã que isto iria acontecer. Schaeffer escreveu, em 1976:
"Ao considerarmos a chegada de um governo autoritário
e da elite, para preencher o vácuo deixado pela perda dos princípios
cristãos, não podemos pensar com ingenuidade nos modelos de Stalin e
Hitler. Precisamos pensar em um governo autoritário e manipulador. Os
governos modernos têm formas de manipulação à sua disposição que o mundo
nunca conheceu antes." (Schaeffer 1976, 228)
De fato eles têm. Uma grande fonte de financiamento
para a pesquisa transumanista é a Fundação Nacional de Ciências [59] e
as aplicações militares são terríveis. Já vemos essa tendência de
manipulação da mídia controlada e da política cada vez mais globalista.
Considerando a predição de Kurzweil que haverá redes de computadores
fazendo interface com o cérebro humano por volta de 2029, o potencial
para controle centralizado se torna mais perturbador. [Nota do Editor da FC:
Esta tecnologia está em rápido desenvolvimento e exemplos dela poderão
estar prontos antes de 2029.] Surpreendentemente, Ledford prediz que "o
Anticristo provavelmente emergirá, mas da mesma forma Cristo. Isto se
torna um sinal que o Transumanismo Cristão é o caminho." [60].
Embora eu discorde da última frase, pode haver alguma verdade na primeira.
Conclusão
Na arena pública, está se tornando cada vez mais
difícil obter espaço para expor os valores cristãos e, ao mesmo tempo,
permanecer fiel às Escrituras. Não estamos convencendo o público sobre o
aborto, e o presidente americano Barack Obama emitiu recentemente uma
ordem executiva que expandiu a pesquisa com células-tronco embrionárias.
Embora essas questões estejam sendo examinadas pelos tribunais,
existem inúmeras tecnologias ainda mais perturbadoras que são em grande
parte desconhecidas do grande público. A história da ciência não é
silenciosa em um ponto: o Transumanismo não esperará que os cristãos
acordem e vejam o que está acontecendo. Embora tenhamos o dever de nos
educarmos para tratar questões altamente técnicas com os princípios das
Escrituras, é duvidoso que muito possa ser feito além de orar
seriamente sobre o assunto. Historicamente, o complexo
militar-industrial nunca foi transparente a respeito de seus projetos.
Além disso, não há nada que impeça cientistas ambiciosos de simplesmente
se mudarem para países como a China, para trabalharem em suas ideias
mais controversas. Isto vai acontecer. Embora muitos não quererão
participar, os cristãos devem assumir uma posição firme contra o
aprimoramento. O Transumanismo será uma questão que trará divisões.
Este trabalho de pesquisa ofereceu um resumo rápido
do tópico e uma ampla investigação sobre as tecnologias envolvidas. Isto
foi seguido pela análise crítica do pensamento transumanista e suas
implicações para a teologia. Foi demonstrado que os fundamentos
filosóficos são ateístas e estão em oposição ao Cristianismo. Além
disso, a esperança transumanista de imortalidade via transferência para
computadores foi revelada como uma incoerência lógica. Atenção especial
foi dada àqueles que tentam reconciliar o Cristianismo com as ideias
transumanistas. A crítica mostrou que a teologia está baseada em uma
antropologia naturalista, negação do pecado original, negação do relato
bíblico da Criação e uma ênfase exagerada na imanência de Deus.
No fim, precisamos confiar que o Senhor tratará a
extrema arrogância e a pecaminosidade do coração humano. Nada temos a
temer. Afinal, já sabemos como será o fim de tudo. (Apocalipse 21-22).
Notas Finais:
1. Max More, "Transhumanism Towards a Futurist
Philosophy", MaxMore.com, 1990, http://www.maxmore.com/transhum.htm
(página visitada em 8/12/2010).
2. Christopher Hook, "Transhumainism and Posthumanism"., Encyclopedia of Bioethics, Stephen G. Post (Nova York: MacMillan, 2007), 2519.
3. Carl Teichrib, "O Aparecimento dos Tecno-Deuses: A Fusão do Transumanismo com a Espiritualidade", tecnodeuses-1.htm, pág. 2.
4. James Ledford, Christian Transhumanism, http://www.hyper-evolution.com/Christian%20Transhumanism.pdf.
5.Dialog: A Journal of Theology, 44, 4 (Winter 2005).
6. Thomas Horn, "An Open Letter to Christian Leaders on
Biotechnology and the Future of Man",
http://www.raidersnewsupdate.com/leadstory94.htm (página visitada em
16/12/2010).
7. Francis J. Beckwith, "What Does It Mean To Be Human?", Christian Research Journal, 26, 3 (2003).
8. Michael McKenzie, "Genetics and Christianity: An Uneasy but Necessary Partnership", Christian Research Journal, 18, 2 (1995).
16. Jim Leffel, "Engineering Life: Human Rights in a Postmodern Age".
17. Claudia Joseph, "Now scientists create a sheep that's 15% human", Daily Mail UK Online,
março de 2007,
http://www.dailymail.co.uk/news/article-444436/Now-scientists-create-sheep-thats-15-human.html
(página visitada em 12/12/2010).
18. Fukuyama, Our Posthuman, 43.
19. Nick Bostrom, The Transhumanist FAQ Version 2.1. (Oxford: World Transhumanist Association, 2003), pág. 5.
20. Ray Kurzweil, The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology. (Nova York: Viking Penguin, 2005), pág. 25.
21. Richard Andersen, "Selecting the Signals for a Brain-Machine Interface". Current Opinion in Neurobiology, 14 (2004), pág. 1.
22. Mike Yamamoto, "Gaming by Brainwaves Alone", Cnet News, 1/3/2007,
http://news.cnet.com/8301-17938_105-9692846-1.htm.
24. Ray Kurzweil, The Age of Spiritual Machines: When Computers Exceed Human Intelligence, (Nova York: Viking Penguin, 1999), pág. 89.
25. Kurzweil, The Age, pág. 62.
26. Kurzweil, The Age, pág. 163.
27. Kurzweil, The Age, pág. 163.
28. Kurzweil, The Age, pág. 212.
29. Hook, "Transhumanism", pág. 2517.
30. Kurzweil, The Singularity, pág. 282.
31. Ted Peters, "The Soul of Transhumanism", Dialog: A Journal of Theology, 44, no. 4, (Winter 2005): 385.
32. Peters, "The Soul", pág. 393.
33. Derek Parfit, "Divided Minds and the Nature of Persons.", Mindwaves (1987), págs. 19-28.
34. Kurzweil, The Singularity, pág. 275.
35. Kurzweil, The Singularity, pág. 275.
36. Millard J. Erickson, The Concise
Dictionary of Christian Theology, Rev. ed., 1st Crossway ed. (Wheaton,
Ill.: Crossway Books, 2001), pág. 201.
37. More, "Transhumanism."
38. Norman L. Geisler & Frank Turek, I Don't Have Enough Faith to Be an Atheist (Wheaton, IL: Crossway Books, 2004), pág. 20.
39. David Nobel, "Secular Humanism". The Popular Encyclopedia of Apologetics, Ed Hindson, págs. 443-446. (Eugene OR: Harvest House, 2008), pág. 444.
40. R. J. Rummel, 20th Century Democide, Freedom, Democracy, Peace; Power, Democide, and War, http://www.hawaii.edu/powerkills/20TH.HTM (página visitada em 26/10/2010). 41. Bostrom, The Transhumanist FAQ, pág. 46.
42. Bostrom, The Transhumanist FAQ, pág. 46.
43. Millard J. Erickson, Christian Theology, 2nd ed. (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1998), pág. 501.
44. Hefner, The Human Factor: Evolution, Culture and Religion,(Minneapolis: Fortress Press, 1993), pág. 32.
45. Hubert Meisinger, "Created Co-Creator", Encyclopedia of Science and Religion, (Macmillan-Thomson Gale, eNotes.com. 2006), http://www.enotes.com/science-religion-encyclopedia/created-co-creator.
46. Philip Hefner, "Biological Perspectives On Fall And Original Sin", Zygon, 28, 1 (March 1993), pág. 77.
47. Paul Tillich, The Shaking of the Foundations. (Nova York: Charles Scnbner's Sons 1948), pág. 155, citado por Hefner em "Biological Perspectives", pág. 92.
48. Erickson, Christian Theology, pág. 505.
49. Erickson, Christian Theology, pág. 616.
50. Hefner, "The Animal", pág. 166.
51. Hefner, "The Animal", pág. 166.
52. Hefner, "The Animal", pág. 166.
53. James Ledford. Christian Transhumanism. (Hyper-Evolution.com. 2005), págs. 164-165,
http://www.hyper-evolution.com/Christian%20Transhumanism.pdf.
54. Paul Tillich, A History of Christian Thought From Its Judaic and Hellenistic Origins to Existentialism, (New York: Harper and Row Publishers, 1967), 45.
55. Erickson, Christian Theology, pág. 333.
56. Ledford, Christian Transhumanism, pág. 29.
57. Ledford, Christian Transhumanism, pág. 58.
58. Teichrib, "O Aparecimento", pág. 14.
59. Hook, "Transhumainism", 2518.
60. Ledford, Christian Transhumanism, 51.
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