terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A fraude do 2014 “ano mais quente do século” indigna cientistas




Luis Dufaur


O total a pagar no supermercado deu R$ 20,01. Paguei com uma nota de vinte e o caixa ignorou o 0,01. Perguntei-me se com esse centavo eu não teria batido meu recorde de riqueza. Evidentemente, um centavinho é irrelevante.

Mas, indaguei a mim mesmo se continuando a acumular um centavo anualmente chegaria a ficar mais rico que Bill Gates. Mas esse centavo somado a muitos outros não mudarão em nada minha existência.

Ninguém ache que eu estava ficando louco. Na verdade, eu estava raciocinando como ‘aquecimentista’, pois acabava de ler num envelhecido jornal paulista noticia originada na Agência Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) de que a temperatura global da Terra bateu em 2014 o recorde desde que as temperaturas globais começaram a ser registradas, em 1880.


Outros jornais e revistas publicaram matérias análogas. Passo um véu sobre eles para poupá-los da vergonha que exponho a seguir.

A mundialmente conhecida agência espacial norte-americana NASA também produziu uma análise independente com base nos mesmos dados e concluiu o mesmo numa comparação com o período de 1951 a 1980.

Dr. Patrick J. Michaels:
“Pode-se distinguir 58.46° Fahrenheit de 58.45°?
Numa só palavra: NÃO”

A conclusão, aparentemente irrefutável, de que a o aquecimento global da Terra ficou demonstrado e que caminhamos para uma espécie de morte planetária de calor, não estava somente nos jornais e revistas tidos como sisudos.

A informação era reforçada por comentários alarmistas de ONGs militantes “verdes por fora e vermelhas por dentro”, únicos parceiros que esses órgãos de mídia admitem em suas páginas.

Acostumado aos trotes do alarmismo verde, fui procurar fontes científicas respeitáveis. E achei meu centavinho, meu alarmante enriquecimento futuro!

Explico-me melhor.

O astrofísico Dr. David Whitehouse explicou os dados com clareza esfuziante: “Essa fala de um recorde carece de sentido científico e estatístico”. Por quê? A resposta está nos números.

O climatólogo Dr. Patrick J. Michaels, diretor do Centro para o Estudo da Ciência no Cato Institute, jogou no lixo o título de “ano mais quente” atribuído a 2014 com uma pergunta e uma resposta diretas: “Pode-se distinguir 58.46° Fahrenheit de 58.45°? Numa só palavra: NÃO”.

Meu centavinho e o sonho de ficar mais rico que Bill Gates também recebeu um rotundo Não.

Mas meu centavinho vale mais do que a diferença de 0,018º F! Em graus centígrados, a diferença entre 2005 e 2010, recordes anteriores, com 2014 foi de 0,006º graus centígrados, nossa escala para medir o calor.

Tem razão o Dr. David Whitehouse ao falar de irrelevância estatística considerando-se o grau de incerteza levado em conta no trabalho científico.


Judith A. Curry, chefe do Departamento  de Ciências Climáticas do Georgia Tech
Judith A. Curry, do National Research Council's
Climate Research Committee:
“os dados de 2014 essencialmente comparáveis aos de 2005 e 2010
mostram que não houve tendência alguma rumo ao aquecimento”
A climatóloga Dr. Judith A. Curry, membro do National Research Council's Climate Research Committee, disse para o “The Washington Post”:

“Apresentando os dados de 2014 como essencialmente comparáveis com os de 2005 e 2010 enquanto anos mais quentes, está se afirmando que basicamente não houve tendência alguma rumo ao aquecimento ao longo da última década”.

Compreende-se que o físico teórico checo Dr. Lubos Motl, professor na Universidade de Harvard, tenha aconselhado:

“Por favor, ria bem forte quando alguém fala para você que este (2014) foi o ano mais quente”.

O resto é treta midiática, e não pouca, como veremos.

Uma delas provém de uma controvérsia científica: os dados sobre o clima fornecidos pelos satélites divergem dos dados colhidos na superfície da Terra. E divergiram também em 2014, dando azo a manipulações midiáticas.

Os dados da atmosfera colhidos pelos satélites são tidos como mais acertados. E os dados satelitais de 2014 não apontam o ano como “o mais quente do século”. A própria NASA propôs em 1990 que os dados dos satélites deveriam ser adotados como padrão.

Para Marc Morano, ex-diretor de comunicações da Comissão do Senado dos EUA para o Meio Ambiente e Obras Públicas, trata-se de um jogo político e não científico.

“Pretender que foi o ‘ano mais quente’ com base em centésimos de grau é um jeito extravagante para dizer que continua a pausa do aquecimento global”, acrescentou.

O Dr. James Hansen é um dos maiores ativistas
do ‘aquecimento global por causa humana’.
Mas ensinou não ter sentido qualificar os anos
segundo um ranking de “mais quente”.
Até James Hansen, o proeminente líder do ‘aquecimento por causa humana’ e diretor do reputado Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA, defendia antes de se aposentar, não ter sentido qualificar os anos segundo um ranking de “mais quente”.

Hansen explicou-o com base na diferência observada entre 2010 e 2005, inferior a 2 centésimos de grau Fahrenheit (hoje se faz onda por 0,018F). “Não é importante se 2010, 2005, ou 1998 foram os mais quentes”, reconheceu.

Mas o leitor comum não tem acesso ao mundo científico. E fica à mercê da honestidade da grande mídia ... ou de sua falta de honestidade...

Enquanto escrevia este já longo post, fui procurar atualização de fontes científicas. E encontrei um panorama de desmaiar.

Uma onda de cientistas está acusando a NASA e a NOAA de se “burlarem do público”, de “confundir”, “enganar” e até de “mentir”.

Diante das denúncias dos cientistas, a NASA reconheceu que só tinha 38% de certeza de que o ano 2014 foi o mais quente do século quando emitiu o primeiro comunicado, geralmente vituperado.

E depois, junto com a NOAA, a NASA concedeu que mais provavelmente 2014 não foi o mais quente.

A honestidade dessas agências governamentais está sendo contestada, especialmente por ocultar ao público a incerteza habitual em torno dos dados utilizados para o espalhafatoso anúncio.

O climatólogo Roy Spencer manifestou seu mal-estar pela conduta da comunidade científica no caso. O Prof. Lubos Mott acusou o responsável da NASA, Gavin Schmidt, de ocultar dados, fazendo a mídia publicar mentiras para consumo dos leitores.

A catadupa de imprecações não fica por aqui, mas poupo os leitores devido à extensão do post.

A pena é que a mídia tupiniquim, que fez eco dessa enganação, não publique as matérias certas que corrigem as falsas veiculadas por ela.

P.S.: Peças principais sobre a embromação midiática:

1) O comunicado da NASA que gerou o golpe midiático: “January 16, 2015 – RELEASE 15-010 – NASA, NOAA Find 2014 Warmest Year in Modern Record”

Gavin Schmidt, diretor do Goddard Institute
for Space Studies, da NASA,
responsável do comunicado embromador
cuja margem de erro é de 62%!
2) The Daily Mail de Londres entrevistou a Gavin Schmid diretor do Goddard Institute for Space Studies (GISS), da NASA, responsável pelo comunicado que gerou o boato de 2014 ano mais quente do século.

Schmid respondeu que a probabilidade dessa afirmação ser certa é de 38%, fritando a certeza científica.


3) A Associated Press – AP corrige seu comunicado: “Esclarecimento sobre a história do ano mais quente” (“Clarification: Hottest Year story”)


Algumas outras fontes de informação

(a lista poderia ser ainda muito mais extensa. É fácil achar mais no Google):

NewsBuster: “Cientistas da NASA admitem uma chance de só 38% de 2014 ter sido o ano mais quente enregistado” (“NASA Scientists Admit Only 38% Chance 2014 Was Hottest Year on Record”)

Bretibart News: “Sérias dúvidas sobre o dito da NASA sobre ‘2014 o ano mais quente já registrado’ (“Serious Doubt Cast on NASA’s ‘2014 Hottest Year on Record’ Claim”) 

Forbes: “Esqueça que segundo os registros 2014 pode ser sido o ano mais quente nos últimos anos do 2000” (“Forget 'On Record,' 2014 May Have Been Warmest Year In Last 2,000”)

Bretibart: “2014 não foi o ‘ano mais quente já registrado’. Então por que é que NASA diz isso?” (“2014 Was Not the ‘Hottest Year on Record’. So Why Did NASA Claim It Was?”)

domingo, 4 de janeiro de 2015

Fabricando a Terceira Guerra Mundial


Autor: Adrian Salbuchi

No mundo de hoje, cada vez mais interdependente e interativo, cada ação tem uma infinidade de causas, significados, objetivos e reações, muitos dos quais são visíveis, porém outros são invisíveis; alguns são admitidos e declarados abertamente, porém outros ninguém se atreve a confessar.

Ao tentar compreender os muitos conflitos complexos que estão ocorrendo no mundo e o ritmo frenético em que eles acontecem, seria errado abordá-los de forma isolada. Somente uma visão "holística" é que nos dá uma imagem de onde estamos e, mais importante ainda, para aonde estamos sendo arrastados.

A geopolítica do século 21 não pode ser compreendida aplicando-se uma mentalidade de silo. A guerra civil na Síria, a "Primavera Árabe", a destruição da Líbia e do Iraque, a China que cresce cada vez mais, o Japão que se encontra paralisado, a crise na zona do euro, o "escudo de mísseis" que os americanos querem construir na Polônia, o programa nuclear do Irã, a vindoura "Primavera Latino-Americana", etc. Se for abordado sem cuidado, o quadro que visualizamos é o de caos profundo. Mas, com a aplicação do modelo correto de interpretação, começamos a ver como as coisas estão inter-relacionadas, como reagem e se movem em obediência a forças extremamente poderosas e dinâmicas — conquanto em grande parte invisíveis — que de forma silenciosa dirigem o mundo atual.

Não Leia (Apenas) os Jornais

É bom estar informado; entretanto, é inútil se você não consegue formatar as informações em modelos inteligíveis e apropriados. O excesso de informações deixará seu cérebro sobrecarregado. Assim, é uma boa decisão evitar todas as manchetes estridentes, as notícias de última hora, os alarmes de terror e os âncoras de notícias da grande mídia. Isto é como olhar para um quadro impressionista de Claude Monet: se você ficar perto demais, somente verá um amontoado de pequenos pontos coloridos, mas, quando dá alguns passos para trás, então a beleza da pintura se revela diante de seus olhos.

Com toda a sobrecarga de informações hoje, precisamos juntar os pontos corretamente, apesar da insistência da grande mídia que os conectemos de forma incorreta.

A maioria de nós já percebeu que nosso planeta é "um mundo em guerra"; não em guerra contra algum outro planeta (isto tornaria as coisas fáceis de entender). Ao revés, somos uma civilização que está em luta consigo mesma e contra si mesma.

Lendo a imprensa global, precisamos pensar que esta é uma guerra entre nações soberanas, mas é mais complicado do que isto. Essa guerra mundial está sendo travada por uma Elite Global muito poderosa, ilegítima, autoritária, porém numericamente minúscula, que está inserida no interior das estruturas de poder públicas e privadas de todos os países do mundo, notavelmente nos EUA.

Ao contrário de um tumor cancerígeno maligno, não podemos remover essa elite imediatamente; podemos somente esperar enfraquecê-la e deter seu crescimento antes que entre em processo de metástase, matando todo o corpo político da humanidade. O mundo precisa agora é de uma forma sutil de "quimioterapia política virtual" para remover e destruir esse tumor maligno que o governa.

Uma manifestação-chave dessa doença social e política é a extrema desigualdade que existe nos EUA, onde 1% da população detém 35% da riqueza nacional, enquanto que os 90% da camada inferior precisam se virar com apenas 25% da riqueza. Para piorar as coisas, a vasta maioria dos congressistas, senadores e dos principais ocupantes dos cargos no Poder Executivo se enquadra na categoria dos "1% mais ricos". [1].

Compreender as intenções ocultas, os planos de longo prazo, as ambições hegemônicas e os planos inconfessáveis necessários para alcançá-los é particularmente importante para os cidadãos dos EUA, Grã-Bretanha, Europa e Austrália. Afinal, são os líderes desses países que formalmente ordenam que suas forças armadas saqueiem e destruam os países-alvos.

Quando os eleitores na Argentina, na Colômbia, na Nigéria ou na Malásia escolhem líderes ruins, eles próprios são as únicas vítimas de suas más escolhas eleitorais. Mas, quando os eleitores americanos, britânicos ou franceses tolamente colocam pessoas erradas no poder em seus países, então centenas de milhões em todo o mundo sofrem com as bombas lançadas por aviões-robôs, interferências e mudanças forçadas de regime.

O Relatório da Montanha de Ferro

Um velho livro do fim dos anos 60, intitulado Report from Iron Mountain on the Possibility and Desirability of Peace [2] foi supostamente escrito pelo Instituto Hudson, um centro de estudos e debates que investigou cenários para o futuro, por solicitação do então Secretário de Defesa, Robert S. McNamara. Muitos dizem que o livro é uma invenção. Mas, ele reflete extraordinariamente as realidades dos últimos 50 anos.
O livro inclui a afirmação que ele foi escrito por um Grupo de Estudos Especiais formado por 15 homens, cujas identidades deveriam permanecer secretas e que ele não era destinado para o público. Ele conclui que a guerra, ou uma substituta crível para a guerra, é necessária para que os governos possam se manter no poder.

O Relatório da Montanha de Ferro diz que "as guerras não são 'causadas' pelos conflitos de interesses internacionais. A sequência lógica apropriada frequentemente torna mais exato dizer que as sociedades guerreiras requerem — e assim produzem — esses conflitos. A capacidade de uma nação de fazer guerra expressa o maior poder social que ela pode exercer; a guerra ativa ou contemplada, é uma questão de vida e morte na mais alta escala sujeita ao controle social."

O relatório explica então que "a produção de armas de destruição maciça sempre esteve associada com o 'refugo' econômico'." O Relatório da Montanha de Ferro enfatiza que a guerra é um instrumento importante, pois cria demanda econômica artificial, uma demanda que não tem quaisquer questões políticas: "a guerra, e somente a guerra, soluciona o problema do inventário".


Sem qualquer surpresa, o Relatório da Montanha de Ferro conclui que a paz mundial não é desejável e nem está de acordo com os melhores interesses da sociedade, pois a guerra não somente tem funções econômicas importantes, mas também exerce papéis sociais e culturais fundamentais.
"A possibilidade permanente de guerra é o fundamento para o governo estável; ela fornece a base para a aceitação geral da autoridade política... A guerra é virtualmente um sinônimo de nacionalidade. A eliminação da guerra implica na inevitável eliminação da soberania nacional e do Estado-nação tradicional. Assim, a guerra tem sido o principal instrumento evolucionário para manter um equilíbrio satisfatório entre a grande população humana e os suprimentos disponíveis para sua sobrevivência. Ela existe somente na espécie humana."
Assim, de modo a garantir sua própria sobrevivência por meio de sua fixação dentro das estruturas de poder nos EUA, Grã-Bretanha e Europa, os Mestres do Poder Global necessitam da guerra, da ameaça e dos rumores de guerra, exatamente como um peixe necessita de água, os tigres necessitam de presas mais fracas e os cachorros necessitam de árvores... e todos por razões similares!

Mas, os EUA, a Grã-Bretanha e seus aliados não podem ter apenas qualquer inimigo. Eles precisam de um inimigo crível, perigoso, "atemorizador": primeiro esse inimigo foi a Alemanha, depois o Japão, a União Soviética, a "Ameaça Comunista" global; hoje, é o "terrorismo do fundamentalismo islâmico" e, cada vez, a China e a Rússia estão entrando no centro da tela do radar geopolítico dos Mestres do Poder Global.

O Caso Russo

Em tempos recentes, a Rússia tem exercido variadamente os papéis de Amortecedor, Freio e (agora, espera-se) Muro contra as agressões das potências ocidentais.

Quando a Rússia atua como um Amortecedor, o mundo sente-se frustrado quando casos como a Sérvia, o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão, a Líbia e a Palestina aparecem. Em todos esses casos, a Rússia pareceu confrontar os EUA/Grã-Bretanha/União Europeia/Israel em palavras, mas certamente não em ações. As potências ocidentais sempre fizeram o que quiseram, até mesmo na ONU.

Entretanto, em tempos recentes, a Rússia está agindo cada vez mais como um Freio às ambições hegemônicas do Ocidente, notavelmente na Síria e no Irã. Em novembro de 2011 e em fevereiro de 2012, a Rússia vetou duas Resoluções na ONU, patrocinadas pelos EUA/Grã-Bretanha/França contra a Síria que, se aprovadas, teriam tido o mesmo efeito devastador que a Resolução 1973 teve no ano passado sobre a Líbia. Além disso, a Rússia se recusou a apoiar os pseudorelatórios da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e sanções contra o Irã por causa de seu programa nuclear. A Rússia também despachou forças militares dissuasivas para contrabalançar a militarização da OTAN no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo.
 Aqui, começamos a nos perguntar se uma luta com troca real de tiros poderá realmente ocorrer. Isto teve o efeito de forçar os EUA, a Grã-Bretanha, França e Israel a deixarem de executar suas ameaças de ataques unilaterais contra o Irã e a Síria. O aspecto negativo é que isto está forçando os EUA e seus aliados a recorrerem às táticas dissimuladas e criminosas, envolvendo a criação de insurreição e guerra civil — como a "Primavera Árabe" (veja abaixo).

A questão fundamental é o que precisa acontecer — que absurdos precisam as potências ocidentais cometer — para que a Rússia comece a agir como um Muro sólido, dizendo às potências ocidentais em termos bem claros: "— É até aqui que permitirei que vocês vão; não vou tolerar nada mais!"

Se e quando a Rússia finalmente fizer isso, irão as potências ocidentais recuar em suas ações militares, ou irão terraplenar seu caminho até o Muro russo? Esta é a questão fundamental, porque contém a resposta se o futuro verá ou não o início da Terceira Guerra Mundial. O mais importante com relação ao processo de tomada de decisão do Ocidente, é que tudo o que dizemos sobre a Rússia também é válido para a China, que os Mestres do Poder Global veem como seu verdadeiro inimigo no longo prazo, por causa de seu imenso crescimento econômico, político, demográfico e militar, além do crescente controle geopolítico chinês sobre os oceanos Pacífico e Índico.

O Caso Chinês

Os EUA e a Grã-Bretanha, com seus grandes poderios naval e aéreo, compreendem bem que a China tem muito mais opções de controlar os principais oceanos do que a Rússia, que tem seu território basicamente bloqueado pelo gelo. Acrescente a isto o fato que a China detém mais de 2 trilhões de dólares em títulos da dívida do Tesouro dos EUA, mais um trilhão em euros e então começamos a compreender que a China possui uma válvula financeira que ela pode abrir subitamente, produzindo o colapso da hegemonia do dólar.

Precisamos parar de pensar apenas em termos econômicos e financeiros, como a maioria faz no Ocidente, concluindo que a China nunca inundaria os mercados internacionais com um ou dois trilhões de dólares em títulos do Tesouro dos EUA, pois isso destruiria o valor desses títulos e, em um efeito bumerangue, teria um impacto negativo sobre a própria China, cujas reservas em dólar também evaporariam.

Todavia, a China — o Império de Dez Mil Anos — tem um diferente processo mental. A China aguarda o momento certo, enquanto joga xadrez com o adolescente Império Americano. A China pode até mesmo decidir jogar uma carta geopolítica — não econômico-financeira — sacrificando todas suas reservas em dólar apenas para paralisar o gigantesco privilégio monetário dos EUA, que permite a este país financiar sua gigantesca máquina militar. Fará a China os primeiros disparos no cenário financeiro global?

Em 2010, o WikiLeaks reportou que no ano anterior, o primeiro-ministro australiano Kevin Rudd discutiu com a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, sobre como lidar com a China, e ambos expressaram seus temores com o rápido aumento das reservas em títulos da dívida emitidos pelo Tesouro dos EUA, levando Hillary a perguntar: "— Como você trata de forma dura seu banqueiro?" Ambos concordaram que as potências ocidentais deveriam tentar "integrar a China na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, se preparar para usar a força se tudo o mais der errado".

O Pentágono sabe muito bem que o inimigo de longo prazo, após 2020, é a China. A publicação US News & World Report cita Aaron L. Friedberg — um ex-assessor do ex-presidente Dick Cheney, membro do PNAC (Projeto do Novo Século Americano) e do CFR (Conselho das Relações Internacionais), e professor da Universidade de Princeton — que disse que os EUA não deveriam poupar esforços para "manter o dragão chinês em sua caverna" — porque "a força dissuade a agressão" e advertindo que "isto custará dinheiro".

Ter a China em mente ajuda a compreender melhor os lances dos EUA em outros lugares distantes, como preparativos diretos e indiretos feitos no caminho até a China. Por exemplo, considere o Oriente Médio, onde o posicionamento geoestratégico e o controle sobre as reservas de petróleo pelos EUA também atuam como uma ponta de lança para a Rússia, e têm o propósito de bloquear os recursos petrolíferos destinados para a China — notavelmente do Irã.

O WikiLeaks também expôs o primeiro-ministro australiano, que disse a Hillary Clinton que a China estava "paranoica com relação a Taiwan e ao Tibete", acrescentando que "o Ocidente deveria promover uma comunidade na Ásia-Pacífico visando atenuar a influência chinesa". Mais um exemplo dos padrões dúplices do Ocidente e uma má interpretação, pois ao contrário dos EUA e da Europa, a China não tem ambições de hegemonia global. Ao contrário, a China quer continuar a ser o poder dominante na Ásia e no Pacífico, repelindo o colonialismo, a intrusão e a interferência tradicionais das potências ocidentais.

O cenário do pior pesadelo para o Ocidente — conforme observado por Samuel Huntington em sua teoria dos "Choques das Civilizações" nos anos 1990s — é se a China alcançar dois objetivos geopolíticos fundamentais com os quais está progredindo lenta, porém seguramente: (1) Firmar vínculos maiores de cooperação e acordos com a Rússia e com a Índia no continente asiático; (2) negociar uma maior cooperação e superar a desconfiança do passado nas relações com o Japão. Se o Japão e a China concordarem em uma estratégia geopolítica comum, como a França e a Alemanha fizeram após à Segunda Guerra Mundial (o que levou à criação da União Europeia), então toda a locomotiva que é a região da Ásia-Pacífico, com dois terços da população mundial, estaria livre da interferência e do controle ocidentais. Imagine um casamento entre a tecnologia de ponta do Japão com os recursos e mão-de-obra da China!

Cinco Tipos de Guerras

Quando o Relatório da Montanha de Ferro foi escrito nos anos 1960s, seus autores chegaram a discutir se substitutos poderiam ser desenvolvidos para a guerra mas — infelizmente — concluíram que a guerra teria de ser mantida, e até aprimorada em sua eficácia. Entretanto, a guerra poderia assumir características mais sutis. As recomendações do Relatório incluíram:
  1. Um gigantesco programa de pesquisa espacial, cujo objetivo fosse em grande parte impossível de alcançar (um imenso investimento que requereria um orçamento capaz de alimentar a economia).
  2. Inventar um novo inimigo não humano: a ameaça potencial de uma civilização extraterrestre.
  3. Criar uma nova ameaça para a humanidade: por exemplo, a poluição.
  4. Implementar novos modos de limitar o crescimento demográfico: acrescentar substâncias químicas nos alimentos e na água.
  5. Criar inimigos alternativos fictícios.
Quase meio século mais tarde, algumas dessas recomendações foram realizadas (por exemplo, um programa espacial com objetivos civis e militares), outros estão em andamento ou em fase de elaboração (pontos 3 e 4 e, se a máquina de Operações Psicológicas da indústria do cinema em Hollywood é uma indicação, o número 2 sem dúvida está em curso); mas o item 5 é um ponto-chave real: "Criar inimigos alternativos fictícios" — vimos vários desses nos anos recentes, como o Iraque, Afeganistão, Sérvia, Líbia, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte, o terrorismo islâmico e, mais recentemente, o Irã e a Síria.

O tremendo desafio que está diante da humanidade é que os EUA estão cada vez mais recorrendo à guerra dissimulada, clandestina e tecnológica, em vez de invasões diretas, pois as imagens do Vietnã, do Iraque e do Afeganistão causam repercussões negativas quando são exibidas nos telejornais à noite...

Assim, existem basicamente cinco tipos de guerras que estão sendo usadas pelos Mestres do Poder Global por meio de seus procuradores EUA/Grã-Bretanha/OTAN, cada uma caracterizada por Guerra Psicológica e complexidade estratégica/logística:

Invasão Militar — Claramente visível, muito territorial e usando força militar massacrante, além de poderio econômico. Como a Doutrina Colin Powell dos anos 1990s recomenda, "Os EUA somente devem lutar contra inimigos externos quando o poder militar norte-americano for tão superior que a vitória seja garantida." Pode alguém imaginar uma doutrina mais cruel a ser seguida por uma grande potência? Operadores militares realizam covardes bombardeios no outro lado do mundo, usando um joystick e um monitor de computador a partir de uma instalação militar protegida.

Golpe Militar — Identificar elementos dissidentes e desleais dentro das forças armadas do país-alvo, incitando-os a derrubar as autoridades legais e apoiando-os com armas, dinheiro, cobertura "positiva" na mídia local e global, e suporte diplomático. Um método favorito usado contra a América Latina nos anos 1950s, 1960s e 1970s, e ainda usado aqui e ali, como por exemplo no Egito.

Golpe Financeiro — Consiste em primeiro levar o país a uma situação de atoleiro com sua "dívida soberana" impagável junto aos poderosos bancos internacionais. Em seguida, quando o país-alvo não conseguir mais honrar o pagamento dos juros da dívida, os "banquêsteres" enviam suas sanguessugas do FMI e do Banco Mundial, apoiados pela mídia global e pelas agências de classificação de risco. Eles produzem programas de austeridade econômica e social e um colapso financeiro e monetário, que provocam agitações sociais generalizadas, desse modo justificando as mudanças de regime. Em toda a América Latina eles aperfeiçoaram o "Modelo da Dívida Soberana" que agora está sendo usado contra a Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e — em breve — contra a Grã-Bretanha e os EUA.

Golpe Social — Consiste em financiar ativistas políticos para provocarem mudança controlada do regime no país-alvo. Aqui, as embaixadas locais dos EUA/Grã-Bretanha/Israel apoiam todos os tipos de grupos dissidentes, dando-lhes amplo financiamento e cobertura na mídia, mais a logística para provocar constantes agitações nas ruas, que terminam se unindo em torno de algum partido político ou movimento simpático aos EUA. Nos anos 1980s, eles usaram os chamados "Movimentos dos Direitos Humanos" na América Latina, dos quais as Madres da Plaza de Mayo, na Argentina, foram um caso bem-conhecido. [4]

Guerra Civil Fabricada — Consiste em financiar, armar e apoiar grupos de "oposição" militarizados contra o governo vigente de um país-alvo. Normalmente, um "Movimento de Libertação Nacional", ou algum tipo de "Conselho" é criado, como na Líbia, Egito, Síria e em outros lugares, em torno do qual, outros grupos militantes, valentões e máfias locais podem gravitar. Aqui, fachadas da CIA americana, do MI6 britânico e do Mossad israelense exercem um papel-chave e, nos casos da Líbia e da Síria, criações da CIA, como a Al-Qaeda, também exercem um papel fundamental como "combatentes da liberdade". No Oriente Médio, eles chamaram isto de "Primavera Árabe", apresentando-a para a opinião pública global como uma luta espontânea, genuína e legítima das populações locais pela liberdade contra regimes alegadamente repressivos e autoritários.

Assim, conflitos locais prontos para explodir são utilizados contra regimes que estão no poder há muito tempo (como no Egito e na Líbia) e para explorar as divisões religiosas (xiitas contra sunitas). Não é surpresa saber que Bassma Kodmani, "membro do poder executivo e chefe das Relações Exteriores" no Conselho Nacional Sírio, participou da Conferência Bilderberg em junho deste ano, na Virgínia, EUA. [5].

Nos últimos meses, tenho advertido sobre o aparecimento de uma "Primavera Latino-Americana", que se aproveita dos graves problemas sociais e políticos em toda a América Latina e que refletem o imenso abismo que existe entre os muitos ricos e os muito pobres. Normalmente, os ricos são muito alinhados com os EUA e os pobres têm líderes que ingenuamente apontam para a "exploração das multinacionais" como se elas fossem as únicas culpadas, deixando de considerar os fatores políticos e sociais realmente fundamentais.

Os sinais dessa vindoura "Primavera Latino-Americana" podem ser vistos no golpe recente orquestrado pela Monsanto no Paraguai, a fraude eleitoral com a compra de votos no México, e a crescente militarização americana na Colômbia e em outros países na região.
Frequentemente, esses tipos de guerra iniciam em um nível inferior — digamos, um golpe social — e então crescem e se transformam em um modo de insurreição de guerra civil total, se isso servir para os objetivos dos Mestres do Poder Global. A Líbia, a Síria e o Egito são exemplos disso.

O Que, Por Que, Quando e Onde

O que, então exatamente tudo isto significa? Basicamente, podemos ver que esse caos criado pelos Mestres do Poder Global, embora caótico em nível local em países e regiões específicos, realmente aponta para "uma nova ordem internacional" em uma escala global.
A parte do "caos" é utilizada para destruir países inteiros, especialmente aqueles que conseguiram até aqui preservar sua soberania nacional de uma forma ou de outra. Esta é uma característica-chave compartilhada por todos os "países delinquentes" atacados — Líbia, Iraque, Sérvia — antes de eles terem sido invadidos. O mesmo se aplica para os alvos atuais, como Síria, Irã, Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e Equador. Quanto mais os Estados soberanos puderem ser enfraquecidos, melhor para os globalistas, que, afinal, querem basicamente arrastar todos os países para um único Estado global no estilo comunista, sob o total controle deles.

Todas essas "primaveras" árabes e latinas, invasões, zonas de exclusão aérea, sanções, toda essa retórica de "países delinquentes", são exercícios de limpeza de terreno destinados a posicionar as potências ocidentais e seus aliados para o assalto final contra a Ásia, o que significa guerra contra a Rússia e a China.

Logicamente, essa guerra será uma enorme contradição da Doutrina Powell. A China e a Rússia são muito poderosas, de modo que mexer com elas implica em grandes riscos. Se — Deus nos livre! — houver uma guerra entre China ou Rússia e o Ocidente que arraste outras potências como Índia, Paquistão e Brasil, espera-se que não ocorra tão cedo. Entretanto, isto é o que está previsto para depois de 2020. As preliminares estão sendo jogadas agora em diferentes pontos sensíveis do mundo.

Por que tudo isto está sendo feito? Talvez a excessiva expansão imperial e o dólar superinflacionado, que salvou os Banqueiros Que Detêm o Poder do Dinheiro (não fale isto alto demais!), tenham colocado as Elites Ocidentais em um beco sem saída, de forma irreversível e insustentável.

É como no jogo de xadrez: o que você faz quando os lances possíveis na posição não o livram do xeque-mate do adversário? Bem, basicamente você tem duas opções: (1) admite a derrota ou (2) derruba o tabuleiro no chão e... vai procurar sua arma.

Notas de Rodapé

1. Veja Zbigniew Brzezinski, discurso de aceitação, em 14 de outubro de 2011, do Prêmio Tocqueville, que lhe foi outorgado pelo ex-presidente francês Valery Giscard D’Estaing. Sem qualquer surpresa, ambos pertencem à Comissão Trilateral de Rockefeller/Rothschild, um órgão de tomada de decisão dos ricos e poderosos.
2. Originalmente publicado em 1967; republicado em 1996 pela Free Press (Simon & Schuster).
3. PNAC — Projeto para um Novo Século Americano, um grupo de estudos e debates dos neoconservadores do fim dos anos 1990s que planejou as invasões do Afeganistão e do Iraque, promovendo os interesses estratégicos de Israel no Oriente Médio, que serviram como um modelo para as políticas dos EUA desde os ataques de 11/9/2001 até hoje.
4. Sabe-se que sua líder, Hebe Bonafini, embolsou milhões de dólares.
5. Veja o site oficial dos Bilderbergs, em http://www.bilderbergmeetings.org/participants2012.html. Caracteristicamente, a nacionalidade da Srta. Kodmani é descrita como "internacional". Ela serve muito bem aos seus mestres internacionais.
Sobre o autor: Adrian Salbuchi é um analista político, escritor, conferencista e apresentador de um programa de rádio na Argentina. Ele já publicou diversos livros sobre geopolítica e economia em espanhol e, recentemente, publicou seu primeiro livro eletrônico em inglês: The Coming World Government: Tragedy & Hope?, que pode ser adquirido em seu site pessoal, em http://www.asalbuchi.com.ar. Salbuchi tem 58 anos de idade, é casado, pai de quatro filhos adultos e trabalha como consultor estratégico para empresas nacionais e internacionais. Ele também é o fundador do Projeto Segunda República na Argentina, que está se expandindo internacionalmente. (visite http://secondrepublicproject.com).


A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/terceira.asp

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