Em painel no Fórum Econômico Mundial, líderes discutiram o futuro do universo financeiro. E ele é muito incerto
POR ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE
Uma sala cheia de banqueiros e
profissionais do mercado financeiro preocupados com o futuro. Quando
Gillian R. Tett, editora do jornal britânico Financial Times, pergunta
quem ali dentro acredita que o dinheiro de papel vai acabar, várias mãos
se levantam. Mas uma delas chama mais a atenção: é a deChristine
Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em um
painel intitulado "A transformação das finanças", no Fórum Econômico Mundial, em Davos, grandes nomes debateram nesta quarta-feira (20/01) o incerto futuro das transações financeiras.
Fintechs, moeda virtual e novas regulações. Foi um consenso que o setor
está em transformação — mas é difícil saber qual é o impacto de tantas
mudanças. Lagarde ressaltou que, entre os mais jovens, muitos não têm
relação alguma com os bancos tradicionais. Mesmo assim, usam serviços
financeiros.
Ela destaca que ainda se sabe pouco sobre moedas virtuais. De um lado,
podem ser muito práticas e eficientes para o cliente. Por outro, podem
ser "um grande instrumento para o crime" e "uma ameaça à estabilidade
financeira e às políticas monetárias". É preciso repensar tudo.
Recentemente, o FMI divulgou um documento no qual faz seus primeiros
estudos em relação a essas mudanças. Com tantas acontecendo, existe uma
urgência para que reguladores e instituições federais enxerguem esse
movimento. Mas todos reconhecem o problema: não dá para saber muito bem o
que regular. Tudo é novo.
Parcerias entre as instituições financeiras tradicionais e as
disruptivas também são importantes, diz Dan Schulman, CEO do PayPal. O
executivo aponta que "o maior impedimento do sucesso futuro é o sucesso
do passado". Ou seja, é perigoso ficar apegado a antigos modelos. Ele
defende a criação de ambientes de teste, em que seja possível "inovar
com responsabilidade". Lagarde gostou da ideia: "Muito interessante,
sobretudo porque bancos lidam com os bens do público e com a confiança".
Ambos, devem ser protegidos, segundo ela.
Para John Cryan, co-CEO do Deutsche Bank, o dinheiro de papel não vai existir daqui 10 anos.
"É terrível e ineficiente", afirma. Segundo ele, o dinheiro é só um
meio de troca. Existirão outros — e talvez não seja o Bitcoin. Ele
aponta o quanto essa moeda virtual é complicada e não provou ser uma boa
alternativa. Cryan diz ainda que bancos não têm aproveitado as
possibilidades do big data como poderiam.
Os colegas concordam. "As chances de usar big data são enormes", diz
Tom de Swaan, presidente do conselho do Zurich Insurance Group. Muita
coisa teria de ser regulada, no entanto, reconhece. Ainda de acordo com
ele, é difícil comandar um banco com tanta imprevisibilidade. O
banqueiro sabe que algo novo está vindo, mas sem esquecer o que está
acontecendo agora.
"Temos que olhar para o futuro", diz James P. Gorman, chairman e CEO do
Morgan Stanley. Segundo ele, o banco passa muito tempo se dedicando a
isso. Para Gorman, se você não está considerando como essas ferramentas
podem mudar o setor, "não está fazendo seu trabalho". Mas faz ressalvas.
Não acha que a mudança — principalmente no que se refere à moeda
virtual — será imediata. "Não é ignorância, é pragmatismo."
Também obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e
escravos, a receberem certa marca na mão direita ou na testa, para que
ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a marca, que é
o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que
tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Seu
número é seiscentos e sessenta e seis. Apocalipse 13:16-18
Em numerosos posts deste blog temos documentado e comentado a existência
de um fundo panteísta e evolucionista que crepita dissimuladamente no
ecologismo radical.
Essa visão do mundo afino com o evolucionismo marxista e o de certas
escolas teológicas, como a de Teilhard de Chardin ou místicos pagãos
islâmicos, por exemplo.
Infelizmente, ela irrompeu num texto de grande repercussão mundial.
Esse texto que se apresenta como uma encíclica embora não pretenda sê-lo e virtualmente ignore o nome de Jesus Cristo é a Laudato Si’.
Também em numerosos posts publicamos autorizados comentários sobre a
ausência de fundamentos científicos sólidos e a consonância ideológica
desse quilométrico escrito com a teologia da libertação, na sua versão
mais atualizada.
A Laudato Si’ versou sobre matéria para a qual – no parecer
altamente autorizado do Cardeal Pell – a Igreja Católica não recebeu
mandato de Jesus Cristo para pregar.
À luz dessa afirmação, a Laudato Si’ assume o caráter de opinião de um doutor privado falando a título pessoal.
Entretanto, a projeção do show “Fiat Lux” sobre a basílica de São
Pedro que pretende ilustrar essa encíclica, estarreceu a um número
incontável de romanos, civis e eclesiásticos, que amam entranhadamente o
templo máximo do catolicismo.
O show aprovado por autoridades vaticanas e financiado pelo Banco
Mundial foi apresentado como uma forma de pressionar a COP21 nesses dias
reunida em Paris para tentar aprovar uma governança mundial radical.
No show o ambientalismo mais radical se exprimiu com imagens e sons que
revelam essa religiosidade panteísta que propugna um regime
anarco-tribalista para a humanidade.
Até admiradores do pontificado atual, como o vaticanista Andrea
Tornielli do jornal “La Stampa”, escreveram que se deles dependesse o
enviesado show não deveria ter sido projetado de tal maneira desvenda
pressupostos para os quais o público comum não estaria preparado.
A continuação oferecemos um comentário do catedrático de História
Roberto de Mattei, autor de inúmeros livros e ganhador de alguns dos
mais prestigiosos prêmios acadêmicos da Itália.
Ele descreve e comenta com equilíbrio, respeito e competência o
revelador espetáculo exibido nessa noite de 8 de dezembro no Vaticano,
sob a bandeira da ecologia.
SÃO PEDRO: uma basílica ultrajada
Roberto de Mattei (1948 - ) professor de História, especializado nas ideias religiosas e políticas no pós-Concilio Vaticano II.
A imagem que ficará
associada à abertura do Jubileu extraordinário da Misericórdia não é a
cerimônia antitriunfalista celebrada pelo Papa Francisco na manhã de 8
de dezembro, mas o retumbante espetáculo Fiat lux: Illuminating Our Common Home, que concluiu a referida jornada, inundando de sons e de luzes a fachada e a cúpula de São Pedro.
Ao longo do show, patrocinado pelo Grupo do Banco Mundial,
imagens de leões, tigres e leopardos de proporções gigantescas se
projetavam sobre a fachada de São Pedro, que se eleva precisamente sobre
as ruínas do circo de Nero, onde as feras devoravam os cristãos.
Graças ao jogo de luzes, a basílica dava a impressão de estar de cabeça
para baixo, de dissolver-se e submergir-se. Sobre a fachada apareciam
peixes-palhaço e tartarugas marinhas, quase evocando a liquefação das
estruturas da Igreja, privada de qualquer elemento de solidez.
Uma enorme coruja e estranhos animais voadores sobrevoavam em torno da
cúpula, enquanto monges budistas caminhando pareciam indicar uma via de
salvação alternativa ao Cristianismo. Nenhum símbolo religioso, nenhuma
referência ao Cristianismo; a Igreja cedia lugar à natureza soberana.
Andrea Tornielli escreveu que não é preciso escandalizar-se porque, como
documenta o historiador da arte Sandro Barbagallo em seu livro Gli animali nell’arte religiosa. La Basilica di San Pietro
(Libreria Editrice Vaticana, 2008), foram muitos os artistas que no
decurso dos séculos representaram uma luxuriante fauna em torno da
sepultura de Pedro.
Mas se a Basílica de São Pedro é um “zoo sagrado”, como a define com
irreverência o autor dessa obra, não é porque os animais ali
representados estejam recluídos num recinto sagrado, mas porque o
significado que a arte atribuiu àqueles animais é sagrado, isto é,
ordenado a um fim transcendente.
Com efeito, no Cristianismo os animais não são divinizados, mas
valorizados em função do fim para o qual foram criados por Deus: o
serviço do homem.
Diz o Salmista: “Deste-lhe o mando sobre as obras das tuas mãos,
sujeitaste todas as coisas debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e todos
os bois e, além destes, os outros animais do campo” (Ps 8, 7-9).
O homem foi posto por Deus como vértice e rei da criação, e tudo deve
ser ordenado em função dele, para que, por sua vez, ele ordene tudo a
Deus como representante do universo (Gn 1, 26-27).
Deus é o fim último do universo, mas o fim imediato do universo físico é o homem. “De certo modo, nós somos o fim de todas as coisas”, afirma Santo Tomás (In II Sent., d. 1, q. 2, a. 4, sed contra), porque “Deus fez todas as coisas para o homem” (Super Symb. Apostolorum, art. 1).
Por outro lado, a simbologia cristã atribui aos animais um significado
emblemático. Não preocupa ao Cristianismo principalmente a extinção dos
animais ou o seu bem-estar, mas o significado último e profundo de sua
presença.
O leão simboliza a força e o cordeiro a benignidade, para nos lembrar a
existência de virtudes e perfeições diversas, que só Deus possui por
inteiro.
Na Terra, uma gama prodigiosa de seres criados, da matéria inorgânica
até o homem, possui uma essência e uma perfeição íntima, que se expressa
mediante a linguagem dos símbolos.
O
ecologismo apresenta-se como uma visão do mundo que transtorna essa
escala hierárquica, eliminando Deus e destronando o homem.
Este último é posto em pé de absoluta igualdade com a natureza, numa
relação de interdependência não só com os animais, mas também com os
componentes inanimados do ambiente que o circunda: montanhas, rios,
mares, paisagens, cadeias alimentares, ecossistemas. O pressuposto dessa
cosmovisão é a dissolução de toda linha divisória entre o homem e o
mundo.
A Terra forma com a sua biosfera uma espécie de entidade cósmica
geoecológica unitária. Ela se torna algo mais que uma “casa comum”:
representa uma divindade.
Há cinquenta anos, quando se encerrou o Concílio Vaticano II, o tema
dominante naquela quadra histórica era um certo “culto ao homem”,
contido na fórmula “humanismo integral” de Jacques Maritain.
O livro do filósofo francês, com esse título, é de 1936, mas sua maior
influência foi sobretudo quando um leitor entusiasta, Giovanni Battista
Montini, eleito Papa com o nome de Paulo VI, quis fazer dele a bússola
de seu pontificado.
Na homilia da Missa de 7 de dezembro de 1965, Paulo VI recordou que no Vaticano II se produziu o encontro entre “o culto de Deus que quis ser homem” e “a religião — porque o é — que é o culto do homem que quer ser Deus”.
Cinquenta anos depois, assistimos à passagem do humanismo integral à
ecologia integral; da Carta internacional dos direitos do homem à dos
direitos da natureza. No século XVI, o humanismo havia recusado a
civilização cristã medieval em nome do antropocentrismo.
A tentativa de construir a Cidade do Homem sobre as ruínas da Cidade de
Deus fracassou tragicamente no século XX, e baldas foram as tentativas
de cristianizar o antropocentrismo sob o nome de humanismo integral.
A religião do homem é substituída pela da Terra: o antropocentrismo,
criticado por seus “desvios”, é substituído por uma nova visão
ecocêntrica.
A Ideologia de Gênero, que dissolve toda identidade e toda essência, insere-se nessa perspectiva panteísta e igualitária.
É um conceito radicalmente evolucionista, que coincide em grande medida
com o de Teilhard de Chardin. Deus é a “autoconsciência” do universo
que, evoluindo, torna-se consciente de sua evolução.
Não é casual a citação de Teilhard no parágrafo 83 da Laudato sì,
encíclica do Papa Francesco na qual filósofos como Enrico Maria
Radaelli e Arnaldo Xavier da Silveira salientaram pontos em desacordo
com a Tradição Católica.
E o espetáculo Fiat Lux foi apresentado como um “manifesto ecologista” que pretende traduzir em imagens a encíclica Laudato sì.
Antonio Socci o definiu no jornal “Libero” como“uma encenação gnóstica e neopagã com uma inequívoca mensagem ideológica anticristã”, observando que
“em São Pedro, na festa da Imaculada Conceição, em vez de celebrar a
Mãe de Deus, preferiram a celebração da Mãe Terra, para propagar a
ideologia dominante, a da ‘religião do clima e da ecologia’, neopagã e
neomalthusiana, apoiada pelas potências do mundo. É uma profanação
espiritual (porque aquele lugar — lembremo-nos — é um lugar de martírio
cristão)”.
Por sua vez, escreveu Alessandro Gnochi em “Riscossa Cristiana”: “Portanto,
não foi o ISIS que profanou o coração da Cristandade, nem foram os
extremistas do credo laico os que danificaram o credo católico, nem os
artistas blasfemos e coprolálicos os que contaminaram a fé de tantos
cristãos.
Não era preciso perquisição ou detectador de metal para impedir o
ingresso dos vândalos na cidadela de Deus: eles estavam no interior das
muralhas e já tinham acionado a sua bomba multicolor de transmissão via
satélite no calor da sala de controle.”
Os fotógrafos, os desenhistas gráficos e os publicitários que realizaram o Fiat Lux sabem o que representa para os católicos a Basílica de São Pedro, imagem material do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja.
Os jogos de luz que iluminaram a Basílica tinham uma meta simbólica,
antitética àquela expressa por todas as luzes, lâmpadas e fogos que
transmitiram ao longo dos séculos o significado da luz divina. Esta luz
estava ausente no dia 8 de dezembro. Entre as imagens e luzes projetadas
na Basílica, faltavam as de Nosso Senhor e da Imaculada Conceição, cuja
festa se celebrava.
São Pedro foi imersa na falsa luz trazida pelo anjo rebelde, Lúcifer, príncipe deste mundo e rei das trevas.
A palavra “luz divina” não é apenas uma metáfora, mas uma realidade,
como realidade são as trevas que envolvem hoje o mundo. E nesta vigília
de Natal a humanidade aguarda o momento em que a noite se iluminará como
o dia, “nox sicut dies illuminabitur” (Salmo 11), quando se cumprirão as promessas feitas pela Imaculada em Fátima.
(Fonte: Corrispondenza Romana. 11.12.2015. Este texto foi traduzido do original italiano por Hélio Dias Viana.)