quinta-feira, 28 de abril de 2011

O telefone celular pode estar rastreando cada movimento seu e você pode nem mesmo saber

Image representing Google Latitude as depicted...Image via CrunchBaseO Telefone celular pode estar rastreando cada movimento seu e você pode nem mesmo saber

Por Noam Cohen

Um passatempo favorito dos usuários da internet é compartilhar sua localização: serviços como o Google Latitude pode informar aos amigos quando você está por perto; um outro, o Foursquare, transformou as atualizações desses registros em um jogo.

Mas como um político do Partido Verde alemão, Malte Spitz, recentemente aprendeu, nós já estamos sendo continuamente rastreados, quer tenhamos nos voluntariado ou não. As companhias de telefone celular normalmente não divulgam quanta informação elas coletam, assim o Sr. Spitz foi a justiça para descobrir exatamente o que sua companhia de celular, a Deutsche Telecom, sabia sobre o seu paradeiro.

Os resultados foram espantosos. Em um período de seis meses, de 31 de agosto de 2009 a 28 de fevereiro de 2010, a Deutsche Telecom tinha registrado e gravado suas coordenadas de longitude e latitude mais de 35.000 vezes. Ela o rastreou de um trem em seu caminho para Erlangen desde o início até a noite anterior, quando ele já estava em casa em Berlim.

O Sr. Spitz forneceu um raro vislumbre, um sem precedente, dizem os especialistas em privacidade, do que está sendo coletado enquanto andamos por aí com nossos celulares. Diferente de muitos serviços online e web sites que tem de enviar 'cookies' para o computador do usuário para tentar unir o tráfego deles a uma pessoa específica, as companhias de celular simplesmente tem de sentar e apertar 'registrar'.

"Estamos todos andando por aí com pequenas etiquetas, e nossa etiqueta tem um número de telefone associado a ela, registrando para quem nós ligamos e o que nós fazemos com o telefone," disse Sarah E. Williams, uma especialista em informações gráficas na faculdade de arquitetura da Universidade de Columbia. "Nós nem mesmo sabemos que estamos abrindo mão desses dados".

Rastrear o paradeiro dos consumidores é parte integrante do que as companhias de telefone fazem para viver. A cada segundo mais ou menos, a companhia telefônica de alguém com um celular em funcionamento está determinando a torre mais próxima, de forma a encaminhar as chamadas da forma mais eficiente. E por razões de faturamento, elas rastreiam de onde a chamada vem e quanto tempo ela durou.


"Em um dado instante, uma companhia de celular tem de saber onde você está; está constantemente se registrando com a torre com o sinal mais forte," disse Matthew Blaze, um professor de ciência da computação e informação da Universidade da Pennsylvania que testemunhou diante do congresso sobre esse assunto.

A informação do Sr. Spitz, o Sr. Blaze salientou, não foi baseada naquelas atualizações frequentes, mas em quão frequentemente o Sr. Spitz checava seu e-mail.

O Sr. Spitz, um defensor da privacidade, decidiu ser extremamente aberto com suas informações pessoais. No fim do mês passado, ele liberou todas as informações de localização em um documento do Google publicamente acessível, e trabalhou com o Zeit online, uma publicação de um importante jornal alemão, o Die Zeit, para mapear estas coordenadas ao longo do tempo.

"Esta é realmente a mais convincente visualização em fórum público que eu já vi,” disse o sr. Blaze, acrescentando que isso "mostra quão forte uma imagem, mesmo uma de relativamente baixa resolução, pode dar da localização." 

Em uma entrevista em Berlim, o Sr. Spitz explicou suas razões: "Era uma questão importante mostrar que isso não é algum tipo de jogo. Eu pensei sobre isso, se é uma boa ideia publicar todos esses dados, eu também poderia dizer, tudo bem, eu só publicarei isso por 5, talvez 10 dias. Mas então eu disse não, eu realmente quero publicar por seis meses completos."

Nos Estados Unidos, as companhias de telecomunicação não têm de comunicar precisamente qual material elas coletam, disse Kevin Bankston, um advogado da Eletronic Frontier Foundation, especialista em privacidade. Ele acrescentou que baseados em casos da justiça ele poderia dizer que "eles guardam mais disso e está ficando mais preciso."

"Telefones têm se tornado uma parte necessária da vida moderna," ele disse, contestando a ideia de que "você tem de abrir mão de sua privacidade para fazer parte do século 21."

Nos Estados Unidos há razões de cumprimento da lei e de segurança para as companhias telefônicas serem encorajadas a acompanhar seus clientes. Tanto o FBI como a DEA (Drug Enforcement Administration) tem usado registros de telefones celulares para identificar suspeitos e fazer prisões.

Se a informação é valiosa para a aplicação da lei, poderia ser lucrativa para marqueteiros. Os maiores provedores americanos de telefonia celular evitaram explicar o que exatamente eles coletam e para que eles usam.

Verizon, por exemplo, se recusou a falar, além de apontar para sua política de privacidade, que inclui: "Informações tais como registros de chamadas, utilização de serviços, tráfego de dados," a declaração diz em parte, pode ser usada para "fazer propaganda com base no uso de produtos e serviços que você já tem, sujeito a quaisquer restrições exigidas por lei."

Sense Networks, uma empresa que usa dados da AT&T, usa informações de localização anônima "para melhor compreender atividade humana agregada." Um produto, o CitySense, faz recomendações sobre a vida noturna local para os consumidores que escolhem participar, baseado em seu uso de telefone celular. (Muitas apps de smartphones já no mercado são baseadas em localização, mas isso com o consentimento do usuário e através de GPS, não dos registros da companhia de telefone celular.)

Por causa da história da Alemanha, os tribunais colocam uma maior ênfase na privacidade pessoal. O Sr. Spitz primeiro foi a justiça em 2009 para conseguir seu arquivo inteiro, mas a Deustsche Telecom se opôs.     

Por seis meses, ele disse, houve um 'jogo de ping pong' de cartas de advogados indo e vindo até que, isoladamente, a Corte Constitucional de lá decidiu que as regras existentes que governam a retenção de dados, além daqueles requeridos para faturamento e logística, eram ilegais. Logo depois os dois lados alcançaram um acordo: "Eu só obterei as informações relacionadas a mim, e não obterei todas as informações como eu estou pedindo, quem me enviou um SMS e assim por diante," disse o Sr. Spitz, referindo-se as mensagens de texto.

Mesmo assim, 35.831 pedaços de informações foram enviados para ele pela Deutsche Telecom como um arquivo codificado, para proteger a privacidade dele durante a transmissão.

A Deutsche Telecom, que possui a T-Mobile, provedora do Sr. Spitz, escreveu em um e-mail que armazenou seis meses de dados, como requerido pela lei, e que depois da decisão da justiça ela "imediatamente parou" de armazenar dados.

E um ano depois da decisão da justiça proibindo esse tipo de retenção de dados, há um movimento tentando obter que uma nova lei mais limitada passasse. O Sr. Spitz, um dos 26 membros do comitê executivo do Partido Verde, diz que liberou este material para influenciar neste debate.

"Eu quero mostrar a mensagem política de que esse tipo de retenção de dados é realmente muito, muito grande, e que você pode observar a vida da pessoa por seis meses e ver o que elas estão fazendo e onde elas estão."

Embora o potencial de abuso seja fácil de imaginar, no caso do Sr. Spitz, não havia muito revelado.

"Eu realmente gasto a maior parte do meu tempo em minha própria vizinhança, o que foi bastante engraçado para mim," ele disse. "Eu realmente não estou andando muito por aí."

Algum detalhe embaraçoso? "Os dados mostram que eu estou voando às vezes," ele disse, em vez de tomar um trem mais eficiente no uso de combustível. "Às vezes isso não é tão popular para um político Verde."

Fonte: The New York Times         


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