Nos EUA, vemos atualmente milhões sofrendo com o
desemprego e o impacto da retomada em massa dos imóveis por atraso no
pagamento das prestações de suas hipotecas; na Grécia, Espanha,
Portugal,
Irlanda e Itália, medidas severas de austeridade foram
impostas sobre toda a população; tudo isto está acoplado com grandes
colapsos bancários na Islândia, na Grã-Bretanha, nos EUA e socorros
financeiros indecentes para os banqueiros "grandes demais para quebrar"
(o que é uma novilíngua para dizer "poderosos demais para quebrar").
Sem dúvida, a maior parte da responsabilidade por
esse fiasco está sobre os ombros das autoridades dos governos desses
países, que estão subordinadas aos interesses e objetivos do Poder do
Dinheiro. Em um país após o outro, isto ocorre junto com a corrupção
intrínseca, que é particularmente evidente hoje na Grã-Bretanha, na
Itália e nos EUA.
À medida que avaliarmos neste artigo alguns dos
componentes-chaves das Finanças Globais e dos Modelos Monetário e
Bancário, os leitores terão, espero, uma melhor compreensão sobre os
fundamentos de um esquema que é fraudulento e falho.
Ocultando-se atrás da máscara de falsas "leis" que
alegadamente governam os mercados e economias globalizados, esse Modelo
Financeiro permitiu que um grupo pequeno amealhasse um imenso e
massacrante poder sobre os mercados, grandes empresas, indústrias,
governos e a mídia global. As consequências irresponsáveis e criminosas
das ações deles estão agora claras para todos verem.
O modelo que descreveremos em seguida está dentro da
estrutura de um Sistema de Poder Global muito mais vasto, que é
extremamente injusto e que foi concebido e projetado nos altos escalões
dos centros de planejamento geopolíticos e geoeconômicos [1] que
funcionam para promoverem a agenda da Elite do Poder Global à medida que
essa elite prepara sua Nova Ordem Mundial — novamente, outra
novilíngua para dizer "Vindouro Governo Mundial". [2].
Especificamente, estamos falando sobre os mais
importantes centros de estudos e debates, como o Conselho das Relações
Internacionais (www.CFR.org), a Comissão Trilateral
(www.Trilateral.org), o Grupo Bilderberg, e outras entidades similares,
como o Instituto Cato (questões monetárias),
American Enterprise
Institute (www.AEI.org) e o Projeto para um Novo Século Americano
(www.NewAmericanCentury.org) que se conformam a uma intrincada, sólida,
rígida e muito poderosa rede, planejando e gerenciando os interesses e
objetivos da N. O. M.
Escrevendo a partir da perspectiva de um cidadão
argentino, admito que tenho algumas vantagens sobre os cidadãos dos
países industrializados, como os EUA, Grã-Bretanha, União Europeia,
Japão ou Austrália, pois nas últimas décadas tivemos aqui neste país uma
experiência direta de sucessivas crises de catástrofes nacionais
decorrentes da inflação, hiperinflação, colapso bancário sistêmico,
adoção de novas moedas, mega-substituições dos títulos da dívida
soberana, golpes militares e guerras perdidas...
Finanças Versus Economia
O Sistema Financeiro (isto é, um mundo
parasitário, simbólico, basicamente irreal e virtual) funciona cada vez
mais em uma direção que é contrária aos interesses da Economia Real
(isto é, o mundo real e concreto do trabalho, produção, fabricação,
criatividade, esforços e sacrifícios feitos pelas pessoas reais). Ao
longo das últimas décadas, as Finanças e a Economia seguiram seus
caminhos totalmente separados e antagônicos, e não mais funcionam em um
relacionamento saudável e equilibrado que priorize o bem comum de "Nós, o
Povo". Este imenso conflito entre as duas pode ser visto, entre outros
lugares, no Sistema Econômico e Financeiro Atual, cujo principal suporte
está no Paradigma da Dívida, isto é, que nada pode ser feito sem
que primeiro você obtenha crédito, financiamento e empréstimos para
fazer aquilo que quer fazer. Assim, a Economia Real se torna dependente e é distorcida pelos objetivos, interesses e flutuações das Finanças Virtuais. [3].
Um Sistema Baseado em Dívidas
A Economia Real deveria ser financiada com fundos
genuínos; entretanto, com o tempo, a Elite Bancária Global conseguiu
fazer com que uma nação soberana após a outra abrisse mão de sua função inalienável
de fornecer a quantidade correta de Moeda Nacional como instrumento
financeiro principal para financiar a Economia Real. Isto requer ação
firme por meio de políticas centradas em promover o bem comum de "Nós, o
Povo" em cada país, para garantir o interesse nacional contra os
perigos representados pelos adversários internos e externos.
Assim, podemos melhor compreender por que a "lei"
financeira que requer bancos centrais sempre totalmente "independentes"
do governo e do Estado tem se tornado um verdadeiro dogma. Isto é apenas
outro modo de garantir que os bancos centrais estejam sempre subordinados aos interesses dos grandes bancos privados — tanto localmente em cada país, como também globalmente.
Vemos que isto prevalece em todos os países:
Argentina,
Brasil, Japão,
México, a União Europeia e em todo outro país
que adote a assim chamada prática financeira "ocidental". Talvez os EUA
sejam o melhor (ou, pior) exemplo disso, pois o Sistema da Reserva
Federal é uma instituição privada e cerca de 97% de suas ações pertencem
aos próprios bancos-membros (admitidamente, eles têm um esquema de
participação acionária muito especial), embora os banqueiros que
administram o Fed façam todo o possível para dar a impressão que o banco
é uma entidade "pública" operada pelo governo, algo que definitivamente
ele não é.
Um dos objetivos permanentes do Bancos Globais é
manter total controle sobre os bancos centrais de cada país, de modo a
poder controlar suas moedas nacionais. [4]. Isto, por sua vez, permite
que eles imponham uma condição fundamental (para eles) por meio da qual nunca haja a quantidade certa de moeda pública para satisfazer a verdadeira demanda e necessidades da Economia Real.
É aqui que esses mesmos bancos privados que controlam o Banco Central
entram em cena para "satisfazer a demanda por dinheiro" da Economia
Real, gerando artificialmente dinheiro dos bancos privados a partir do nada.
Eles chamam isto de "créditos e empréstimos" e se oferecerm para
fornecê-los para a Economia Real, mas com um "valor adicionado" (para
eles): a) a cobrança de juros, frequentemente em nível de usura e; b) eles criam a maior parte desse dinheiro a partir do nada, por meio do sistema fracionário de empréstimos.
No
nível geoeconômico, isto também tem servido
para gerar imensas e desnecessárias dívidas públicas soberanas em todos
os países do mundo. A Argentina é um bom exemplo, pois as autoridades
de seu governo são sistematicamente ignorantes e estão indispostas a
usarem um dos poderes fundamentais de um Estado soberano:
a altamente poderosa emissão de Dinheiro Público sem a incidência de juros
(uma definição mais detalhada é dada a seguir). Em vez disso, a
Argentina tem permitido que as assim chamadas "receitas" do FMI (Fundo
Monetário
Internacional), que refletem os próprios interesses do cartel
bancário global, sejam impostas sobre o país em questões fundamentais,
como as funções apropriadas de seu Banco Central, dívida soberana,
política fiscal e outros mecanismos financeiros, bancários e monetários,
que são assim sistematicamente usados contra o bem comum do povo
argentino e contra os interesses nacionais.
Este sistema e seus resultados pavorosos, agora e no
passado, são tão similares em tantos outros países — Brasil, México,
Grécia, Irlanda, Islândia, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Itália,
Indonesia, Hungria, Rússia, Ucrânia... que somente podem refletir um
plano muito bem elaborado, produzido nos mais altos escalões de
planejamento da Elite do Poder Global.
Empréstimos Bancários Fracionários
Este conceito está em uso em todos os mercados
financeiros mundiais e permite que os bancos privados criem dinheiro
"virtual" a partir do nada (isto é, anotações em seus livros contábeis e
registros eletrônicos em contas correntes e de poupança, e um vasto
conjunto de linhas de crédito), em uma relação que é 8, 10, 30, 50
vezes, ou mais, maiores do que a quantia real de dinheiro (isto é
dinheiro público) mantido pelos bancos em seus cofres. Como remuneração
por emprestarem esse "dinheiro" privado, criado a partir do nada, os
banqueiros cobram juros, exigem garantias com valor intrínseco e, se o
devedor se tornar inadimplente, pode perder suas propriedades e outros
ativos reais.
A relação que existe entre a quantidade de dólares,
ou pesos, em seus cofres e a quantidade de crédito que os bancos
privados geram é determinada pela autoridade bancária central, que fixa o
nível de alavancagem fracionária para os empréstimos. Portanto,
controlar o Banco Central é estrategicamente vital para os cartéis
bancários privados. Esse nível de alavancagem é uma reserva estatística
baseada em cálculos atuariais da porção das contas que os correntistas,
em tempos normais, vão aos bancos e terminais de caixa automáticos para
retirar dinheiro em notas (isto é, notas do dinheiro público). O
fator-chave aqui é que isto funciona bem em tempos "normais";
entretanto, "normal" é basicamente um conceito psicológico coletivo
intimamente vinculado com aquilo que os correntistas e a população em
geral, julgam com relação ao sistema financeiro em geral e a cada banco
em particular.
Portanto, quando por alguma razão qualquer, os tempos
"anormais" aparecem — isto é, toda vez que existem crises periódicas
(sutilmente previsíveis), corridas bancárias, colapsos e pânicos, que
parecem explodir subitamente, como aconteceu na Argentina em 2001, e
como está acontecendo agora nos EUA, Grã-Bretanha, Irlanda, Grécia,
Islândia, Espanha, Itália e um número crescente de países — vemos todos
os correntistas correrem até seus bancos para tentarem sacar dinheiro em
notas. Neste momento, eles descobrem que não existe dinheiro suficiente
em notas para sacar, exceto para uma pequena fração dos correntistas
(normalmente aqueles que têm informações privilegiadas, ou os "amigos
dos banqueiros").
Para o restantes dos mortais, "não sobrou mais
dinheiro", o que significa que eles precisarão recorrer a qualquer
esquema de seguro público que possa ou não existir (por exemplo, nos
EUA, existe um seguro gerido pela Federal Deposit Insurance Corporation,
que garante até 250 mil dólares para cada correntista, com dinheiro dos
impostos). Entretanto, em países como a Argentina, não existe opção
alguma, exceto sair às ruas e bater tampas e panelas diante daquelas
ominosas, sólidas e firmemente fechadas portas de bronze dos bancos.
Tudo graças ao fraudulento sistema de empréstimos bancários
fracionários.
Os Bancos de Investimento
Nos EUA, os assim chamados "bancos comerciais" são
aqueles que têm grandes carteiras de poupança e contas correntes para
pessoas e empresas (isto é, nomes bem-conhecidos, como CitiBank, Bank of
America, JPMorganChase, etc; na Argentina existem o Standard Bank,
BBVA, Galícia, HSBC e outros). Os bancos comerciais operam com níveis de
alavancagem fracionária para empréstimos que lhes permitem emprestar
dinheiro virtual em quantias de 6, 8, ou 10 vezes mais do que o dinheiro
existente em seus cofres; esses bancos são normalmente supervisionados
mais de perto pelas autoridades monetárias de cada país.
Entretanto, uma diferente história ocorre nos EUA (e
também em outros países) com os assim chamados "Bancos de Investimento"
globais (aqueles que fazem os vultuosos empréstimos para as grandes
empresas, grandes clientes e nações soberanas); sobre os quais há muito
menos controle, de forma que suas relações de alavancagem para
empréstimos fracionários são muitíssimo maiores. Essa maior
flexibilidade é que permitiu que os bancos de investimento nos EUA façam
empréstimos e, por exemplo, criem do nada 26 dólares "virtuais" para
cada dólar em dinheiro que tenham em seus cofres (caso do Goldman
Sachs), ou 30 dólares virtuais (Morgan Stanley), ou mais de 60 dólares
virtuais (Merrill Lynch imediatamente antes de quebrar, em 15 de
setembro de 2008), ou mais de 100 dólares virtuais nos casos dos bancos
Bear Stearns e Lehman Brother, que também entraram em colapso. [5].
Dinheiro Privado Versus Dinheiro Público
Neste ponto em nossa análise, é essencial distinguir muito claramente entre dois tipos de dinheiro, ou moeda:
Dinheiro Privado — É o Dinheiro "Virtual"
criado a partir do nada pelo sistema bancário privado. Ele gera juros
nos empréstimos, o que aumenta a quantidade do dinheiro privado em
circulação (eletrônica) e se propaga e expande por toda a economia. Em
seguida, vemos o resultado disso na forma de inflação. O fato real é
que a causa principal de inflação na economia é estrutural para o
sistema bancário de empréstimos fracionários e geradores de juros,
mesmo entre os países industrializados. A causa da inflação hoje em dia
não é tanto a emissão excessiva de Dinheiro Público pelo governo, como
todos os assim chamados especialistas em bancos querem nos fazer
acreditar, mas o efeito combinado do empréstimo fracionário e juros
sobre o dinheiro dos bancos privados.
Dinheiro Público — Este é o único Dinheiro
Real que existe. São as notas reais emitidas pela entidade monetária
nacional que detém um monopólio (isto é, o Banco Central ou alguma outra
agência do governo) e, como Dinheiro Público, não gera juros, e não
deve ser criado por ninguém mais, exceto o Estado. Qualquer outro que
faça isso é um falsificador e deve ser colocado na cadeia, pois
falsificar o Dinheiro Público é equivalente a roubar a Economia Real
(isto é, "Nós, o Povo") de seu trabalho, esforços e capacidade produtiva
sem contribuir em nada em termos de trabalho socialmente produtivo. O
mesmo deve se aplicar aos banqueiros privados sob o presente sistema de
empréstimos fracionários: falsificar dinheiro (isto é, criá-lo a partir
do nada como anotações em um livro contábil, ou dados eletrônicos na
memória de um computador) é equivalente a roubar a Economia Real de seu
trabalho e capacidade produtiva sem contribuir em nada em termos de
trabalho.
Por Que Temos as Crises Financeiras?
Um conceito fundamental que está no cerne do
presente Modelo Financeiro pode ser encontrado no modo como imensos
lucros parasitas por um lado e perdas sistêmicas catastróficas do outro,
são efetivamente transferidos para setores específicos da economia, por
todo o sistema, além das fronteiras e fora do controle público.
Como em todos os modelos, aquele que temos hoje
possui sua própria lógica interna que, uma vez corretamente
compreendida, torna esse modelo previsível. As pessoas que projetaram o
modelo sabem muito bem que ele é governado por grandes ciclos que têm
estágios específicos de expansão e contração, e cronogramas específicos.
Assim, eles podem garantir que em tempos de mercados em expansão e
lucros gigantescos (isto é, enquanto o sistema cresce, é relativamente
estável e gera toneladas de dinheiro a partir do nada), todos os lucros
são privatizados, fazendo-os fluir para instituições específicas,
setores econômicos, acionistas, especuladores, bônus para executivos e
alta gerência, para os corretores, "investidores", etc. que operam a
máquina e mantêm todo o sistema corretamente ajustado e operacional.
Entretanto, eles também sabem que — como todos os
carrinhos em uma montanha russa — quando você atinge o topo, o sistema
inicia uma tendência de queda que desestabiliza, sai fora do controle,
se contrai e entra irremediavelmente em colapso, como aconteceu na
Argentina em 2001 e em grande parte do mundo desde 2008. Neste momento,
todas as perdas são socializadas, fazendo os governos absorvê-las por
meio de variados mecanismos de transferência que lançam essas perdas
imensas sobre a população em geral (seja na forma de inflação
generalizada, hiperinflação catastrófica, colapsos bancários, socorros
financeiros, aumento dos impostos, calotes nas dívidas, estatizações
forçadas, medidas extremas de austeridade, etc.).
O Esquema de Pirâmide de Ponzi Global de Quatro Lados
Como sabemos, todas as boas pirâmides têm quatro
lados e, como o Sistema Financeiro Global está baseado em um esquema de
pirâmide de Ponzi, não há razão por que essa pirâmide em particular não
tenha também quatro lados.
A seguir está um resumo do Esquema de Pirâmide de
Ponzi Global de Quatro Lados, que está no centro do Modelo Financeiro
atual, indicando como esses quatro lados funcionam em uma maneira
sequencial, consistente e coordenada:
Lado 1 — Criar a Insuficiência do Dinheiro Público.
Isto é alcançado, como explicamos anteriormente, controlando-se a
entidade Nacional Pública que emite o dinheiro público. O objetivo é
desmonetizar a Economia Real para que ela seja forçada a buscar
"financiamento alternativo" para suas necessidades (isto é, para que ela
não tenha alternativa, senão a de recorrer aos empréstimos dos bancos
privados).
Lado 2 — Impor os Empréstimos Fracionários dos Bancos Privados.
Isto, como mencionado anteriormente, é dinheiro virtual privado, criado
a partir do nada e sobre o qual os banqueiros cobram juros —
frequentemente no nível de usura — gerando assim enormes lucros para os
"investidores", credores e todos os tipos de entidades e indivíduos que
operam como parasitas e que vivem à custa do trabalho dos outros. Isto
nunca aconteceria se cada Banco Central gerasse flexivelmente a
quantidade correta de Dinheiro Público adequada para satisfazer às
necessidades da Economia Real em cada país e região.
Lado 3 — Promover um Sistema Econômico Baseado no Endividamento.
Na verdade, todo o modelo da pirâmide está baseado em ser capaz de
promover esse paradigma generalizado que declara falsamente que o que
realmente "movimenta" a economia privada e a pública não é tanto o
trabalho, a criatividade, o suor e os esforços dos trabalhadores, mas,
ao contrário, os "investidores privados", "os empréstimos bancários" e o
"crédito" — isto é, o endividamento. Com o tempo, esse paradigma
substituiu o conceito infinitamente mais sábio, mais sólido e mais
equilibrado dos lucros empresariais serem reinvestidos e as genuínas
poupanças pessoais serem o fundamento para a prosperidade e segurança
futuras — o conceito que o velho Henry Ford usou para fazer sua
companhia ser bem-sucedida e prosperar.
Hoje, entretanto, o endividamento reina supremo e esse paradigma ficou entrincheirado e incorporado na mentalidade das pessoas,
graças à grande mídia e aos jornais e publicações especializados,
combinados com os Departamentos de Economia das universidades de
primeira linha, que conseguiram impor esse pensamento politicamente
correto com relação às questões financeiras, especialmente aquelas
relacionadas com a natureza e a função apropriada do Dinheiro Público.
O fato é que esse modelo gera empréstimos
desnecessários para que os credores bancários possam obter imensos
lucros, e inclui a promoção do consumismo descontrolado, sem
planejamento e até patológico, o que também anda de mãos dadas com o
abandono cada vez maior do valor tradicional de "poupar para os dias
maus".
Essas dívidas têm objetivos políticos e estratégicos,
e não meramente financeiros; elas normalmente recebem uma fina camada
de "legalidade" para que possam ser impostas pelos credores sobre os
devedores (isto é, no caso de O Mercador de Veneza, o contrato
dava ao agiota Shylock o direito legal a uma libra (453 gramas) de carne
de Antônio; no caso dos países cronicamente endividados, como a
Argentina, essa "legalidade" é alcançada por meio de um complexo
mecanismo de lavagem da dívida pública [6] realizado pelas autoridades
dos sucessivos governos formalmente "democráticos" até o dia de hoje.).
Lado 4 — Privatização dos Lucros e Socialização dos Prejuízos.
Finalmente, e sabendo muito bem que no longo prazo, os números do ciclo
inteiro deste modelo nunca fecham, e que todo o sistema inevitavelmente
entra em colapso, o modelo impõe uma altamente complexa e
frequentemente sutil engenharia financeira, jurídica e de mídia que
permite privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Na
Argentina, esse ciclo tornou-se cada vez mais visível para aqueles que
querem ver, pois o Ciclo da Pirâmide de Ponzi no país dura uma média de
15 a 17 anos; a Argentina teve sucessivos colapsos envolvendo
depreciações brutais da moeda (1975), hiperinflação (1989) e colapso
bancário sistêmico (2001). No mundo industrializado, porém, esse ciclo
foi feito para durar quase 80 anos (isto é, três gerações, indo de 1929
até 2008).
Conclusões
A causa fundamental do colapso financeiro global que
está em curso e que cria imensas distorções na Economia Real — e os
consequentes problemas sociais, sofrimento e violência é clara: As Finanças Virtuais usurparam um pedestal de supremacia sobre a Economia Real, que não lhes pertence legitimamente.
As finanças precisam sempre estar subordinadas e colocadas ao serviço
da Economia Real, exatamente como a economia precisa seguir a lei e a
necessidade social do Modelo Político executado por um Estado-nação
soberano. Quando fazemos a engenharia reversa de todo este sistema,
compreendemos por que é necessário para a Elite Global do Poder erodir a
soberania das nações e eventualmente eliminá-la por completo, de modo a
alcançar seus objetivos monetários, financeiros e políticos.
Na verdade, se olharmos as questões em sua
perspectiva correta, veremos que a maioria das economias nacionais está
praticamente intacta, apesar de terem sido terrivelmente afetadas pelo
colapso financeiro. São as finanças que estão no meio de um gigantesco
colapso global, à medida que esse Modelo Financeiro de Pirâmide de Ponzi
cresceu e se transformou em um tipo de tumor canceroso maligno, que
agora entrou em metástase e ameaça matar toda a economia e o corpo
político e social, em cada país do mundo, incluindo os países
industrializados.
Esta comparação do sistema financeiro atual com um
tumor maligno é mais do que uma simples metáfora. Se olharmos os
números, veremos imediatamente sinais dessa metástase financeira. Por
exemplo, em sua edição de 22 de setembro de 2008, o jornal The New York Times
explicou que o principal gatilho do colapso financeiro que tinha
explodido na semana anterior, em 15 de setembro, foi, como todos
sabemos, a má administração e a falta de supervisão sobre o mercado de
derivativos. O jornal explicou que vinte anos antes, em 1988, o mercado
de derivativos não existia; em 2002, porém, os derivativos tinham
crescido e se tornado um mercado global de 102 trilhões de dólares (isto
é cerca de 150% o Produto Interno Bruto de todos os países do mundo,
incluindo os EUA, UE, Japão e os BRICs). Por volta de setembro de 2008,
os derivativos tinham inflado ainda mais e se transformado em um mercado
de 531 trilhões de dólares — isto é mais do que oito vezes o PIB do
planeta inteiro!! Isto é "metástase financeira" no pior sentido da
expressão! Desde então, alguns estimam que esse mercado global de
derivativos possa estar na faixa de um quatrilhão de dólares...
Naturalmente, quando esse colapso começou, os
governantes nos EUA, União Europeia e em todo os países, começaram a
entrar em ação e implementaram a "Operação Socorro Financeiro" de todos
os grandes bancos, companhias seguradoras, Bolsas de Valores, mercados
especulativos e seus respectivos operadores, controladores e "amigos".
Assim, trilhões e trilhões de dólares, euros e libras foram dados ao
Goldman Sachs, Citicorp, Morgan Stanley, AIG, HSBC e outras instituições
financeiras "grandes demais para quebrar", que é uma novilíngua para
"poderosos demais para quebrar", pois controlam os políticos, partidos
políticos e governos com seus punhos de aço.
Tudo isto foi pago com o dinheiro dos contribuintes
ou, pior ainda, com emissão irresponsável e descontrolada de notas
bancárias do Dinheiro Público e títulos do Tesouro, especialmente pelo
Banco da Reserva Federal, o que, na prática, tecnicamente
hiperinflacionou o dólar americano. Essa emissão irresponsável de
dinheiro foi chamada de "Flexibilização Quantitativa", mas isto é
novilíngua para hiperinflação.
Entretanto, até aqui, como no proverbial conto A Roupa Nova do Imperador,
ninguém se atreve a declarar isto publicamente. Pelo menos não até que
algum evento "não controlado" dispare ou desmascare o que agora deve ser
óbvio para todos: O Imperador Dólar está totalmente nu. [7]. Quando
isto acontecer, veremos então sangrentas guerras civis e sociais em todo
o mundo, e não apenas na Grécia e na Argentina.
Entretanto, nesse momento, como sempre acontece, os
círculos de poderosos "banquêsteres" e seus bem-remunerados operadores
financeiros e analistas da mídia estarão assistindo a todo o espetáculo
medonho, empoleirados com toda a segurança e conforto em seus
escritórios, nos andares mais altos dos arranha-céus em Nova York,
Londres, Frankfurt, Buenos Aires e São Paulo...
Notas de Rodapé
1. O conceito de "Geoeconomia" foi criado pelo
Conselho das Relações Internacionais, um centro de estudos e debates
sediado em Nova York, por um grupo de estudos que honrava Maurice
Greenberg, o financista que foi durante décadas presidente-executivo da
seguradora AIG (American International Group), que entrou em colapso em
2008 e que tinha fortes laços de conflito de interesses com a grande
seguradora e resseguradora Marsh Group, cujo presidente-executivo era
seu filho Jeffrey. Tanto pai e filho foram indiciados por fraude pelo
então promotor-geral de Nova York, Elliot Spitzer. Mais tarde, Spitzer
pagou um alto preço por isso, pois quando se tornou governador de Nova
York, alguém "descobriu" suas escapadas sexuais, que foram rapidamente
transformadas em um grande escândalo pelo jornal The New York Times...
2. Descrevemos a estrutura básica, modelo e objetivos da Elite Global do Poder em nosso livro eletrônico
The Coming World Government: Tragedy & Hope?, que pode ser adquirido em
http://www.asalbuchi.com.ar.
4. Algumas notáveis exceções: Hoje: Líbia,
Irã, Síria, China; no passado: a Argentina nos tempos de Perón, a
Alemanha e a Itália nos anos 1930s e 1940s... Estamos vendo um padrão
aqui?
5. Veja The New York Times, 22 de setembro de 2008.
6. Veja o trabalho que compara os
mecanismos de lavagem da dívida com os mecanismos de lavagem de
dinheiro, dentro do Pilar 3, "Rejeitar a Economia Baseada no
Endividamento", do Projeto Segunda República, em
http://www.secondrepublicproject.com.
7. Isto é melhor descrito no livro deste autor,
The Coming World Government: Tragedy & Hope?, no capítulo "Death & Resurrection of the US Dollar". Detalhes em
http://www.asalbuchi.com.ar.
Sobre o autor: Adrian Salbuchi é um analista
político, escritor, conferencista e apresentador de um programa de rádio
na Argentina. Ele já publicou diversos livros sobre geopolítica e
economia em espanhol e, recentemente, publicou seu primeiro livro
eletrônico em inglês:
The Coming World Government: Tragedy & Hope?, que pode ser adquirido em seu site pessoal, em
http://www.asalbuchi.com.ar.
Salbuchi tem 58 anos de idade, é casado, pai de quatro filhos adultos e
trabalha como consultor estratégico para empresas nacionais e
internacionais. Ele também é o fundador do Projeto Segunda República na
Argentina, que está se expandindo internacionalmente. (visite
http://secondrepublicproject.com).
A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/mestres.asp
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