Minority Report é
real: O FBI quer usar as redes sociais para evitar crimes futuros
Por Andrew Couts
O FBI está
investigando a criação de um novo aplicativo que permitiria a eles
não somente monitorar ameaças em andamento, mas também predizer
potenciais ataques terroristas e outros crimes antes mesmo de
ocorrerem. Aqui está tudo o que você precisa saber, e porque você
deveria ficar preocupado.
O Escritório Federal
de Investigação (FBI) está investigando a criação de um
aplicativo que poderia permitir melhor garimpar conteúdo de mídia
social, em uma tentativa de mais acuradamente identificar, investigar
e lutar contra "ameaças emergentes" em tempo real. O
aplicativo poderá também ser usado para prever ameaças virtuais
antes mesmo de acontecerem.
De acordo com um
requerimento de informação (RFI, em inglês) postado no website
Federal de Oportunidades de Negócios, o FBI diz que espera
"determinar a capacidade da indústria de proporcionar uma
aplicação de solução de alerta Open Source de mapeamento e
análise de Mídia Social." Essa ferramenta permitiria ao FBI
"verificar, identificar e geo localizar eventos de última hora,
incidentes e ameaças emergentes rapidamente" usando
informações "disponíveis publicamente" postadas em redes
sociais, como Facebook e Twitter, bem como novas publicações
nacionais e locais.
Big Brother 2.0
É claro, monitorar
mídia social não é nenhuma novidade para a comunidade de aplicação
da lei. No momento, contudo, é simplesmente muito ineficaz e
ineficiente para as necessidades do FBI.
"Mídia social é
uma valiosa fonte de informação para analistas de inteligência do
[Centro de Operações e Informações Estratégicas do FBI (SIOC, em
inglês)] no monitoramento rotineiro de eventos," diz o RFI. "
Analistas têm considerado questões de inteligência que eles
monitoram como assunto de curso diário ao redor do globo. É também
produtivo em seus esforços para proporcionar informação inicial
sobre eventos comuns de significado para aplicadores da lei. A mídia
social tem se tornado uma fonte primária de inteligência porque ela
tem se tornado a primeira resposta principal para eventos chaves e
alerta primordial para possíveis desenvolvimento de situações".
O aplicativo que o FBI
espera construir simplesmente faria este processo mais fácil e mais
eficiente.
Aqui está como o FBI
prevê o aplicativo funcionando: As informações reunidas de fontes
de notícias e mídia social seriam superpostas sobre um mapa
digital, marcando a localização dos "eventos em tempo real",
junto com outros dados contextuais relevantes, informações
adicionais, incluindo dados domésticos de terrorismo dos Estados
Unidos, dados do terrorismo ao redor do mundo, a localização de
todas as embaixadas americanas, consulados e instalações militares,
previsões e condições do clima e vídeos de informação do
tráfico também seriam superpostos nesse mapa.
Um sistema robusto de
busca também seria incorporado ao aplicativo, o qual permitiria a
capacidade de "instantaneamente buscar e monitorar palavras
chaves e sequências de tweets 'disponíveis publicamente' através
do site do Twitter e qualquer outro site/fórum de rede social,"
de acordo com o RFI. O FBI quer que a função de busca permita
buscas por palavras chaves simultâneas "que possam procurar por
10 ou 20 incidentes/ameaças separadas ao mesmo tempo dentro da mesma
"janela". A capacidade de monitorar outros dados de mídia
social em no mínimo 12 línguas diferentes, e "traduzir
imediatamente" estas postagens para inglês, está também
esboçado como uma característica do aplicativo.
O futuro é agora
Tudo isso parece
bastante ousado. De fato, estamos surpresos de o FBI não ter ainda
tal aplicativo a sua disposição, desde que todas as características
que ele delineia estão bem dentro das capacidades de uma equipe de
desenvolvimento de software habilidosa. Sem mencionar o fato de que
muito do que o FBI espera usar já existe em diferentes partes.
Websites como OpenStatusSearch.com, YourOpenBook.org, TweetScan.com e
Tweepz.com tornam possível procurar facilmente por palavras chaves
sendo postadas publicamente no Twitter e Facebook. Tudo o que o
aplicativo sonhado pelo pelo FBI faria combina estas características
em um único produto, e os expande com dados adicionais do governo e
de aplicação da lei e ferramentas de mapeamento.
Contudo, o FBI não
quer apenas saber sobre o que está acontecendo agora; também quer
prever eventos que estão para acontecer - prever o futuro. Se isso
lhe parece de modo suspeito com o filme Minority Report, você não
está só.
"A mídia social
será crítica para atingir os objetivos de inteligência declarados
acima, porque ela proporciona acesso exclusivo a informações a
respeito de eventos especiais [isto é, convenções políticas,
feriados nacionais ou eventos esportivos] antes de sua ocorrência,"
lê-se no RFI.
Ainda que a capacidade
de procurar tweets e atualizações, usar mídias sociais para prever
o futuro não é novidade, em março de 2011, o jornal de ciência da
computação mostrou que tweets poderiam ser usados para prever
flutuações futuras do índice médio industrial Dow Jones com uma
precisão de 86.7 por cento. E neste mês a Corporação Rand
analisou tweets de 2009 que usavam a hashtag #IranElection e
descobriram que um aumento em palavrões nos tweets poderia ser usado
para prever onde e quando protestos e outras formas de
descontentamento público ocorreriam.
Usar tecnologia
preditiva não está limitada a acadêmicos, governos ou corporações
apenas. O website RecordTheFuture.com permite que qualquer um com uma
conta acesse coleções de informações sobre potenciais eventos
futuros, incluindo lançamento de produtos, flutuações de ações e
até planos futuros de férias de particulares.
Todo mundo é um alvo?
Em outras palavras, os
mundos de Aldous Huxley e George Orwell já chegaram. O FBI
simplesmente quer criar um aplicativo padrão que combine a
tecnologia já disponível e racionalizá-la, em uma tentativa de
fazer melhor o trabalho deles. Está tudo bem se isso for usado para
parar os caras verdadeiramente maus, como terroristas que querem
explodir um estádio de futebol. O problema é, quem eles consideram
"caras maus" hoje em dia? Hackers como o Anonymous?
Apoiadores do Wikileaks? Manifestantes do Occupy Wall Street?
Qualquer um?
Os mais cautelosos (e
possivelmente mais sábios) entre nós diriam tudo o que está acima.
E é cada vez mais difícil de refutar as advertências deles. No
final do último ano o presidente Barack Obama assinou a mais recente
iteração da Lei de Autorização da Defesa Nacional (NDAA, em
inglês), uma lei que foi levada para renovação anual. O problema
com a versão desse ano, dizem os críticos, é que ela inclui
provisões que permitiriam aos militares dos Estados Unidos deter
qualquer pessoa - inclusive cidadãos americanos - em qualquer lugar
do mundo, sem julgamento ou o devido processo, se eles forem
suspeitos de atividades terroristas. Além do mais, a NDAA
proporciona uma definição tão ambígua de "atividade
terrorista" que grupos como o Occupy Wall Street ou o Anonymous
poderiam cair sob esta perigosa categoria.
Tem de ser salientado
que o presidente Obama incluiu uma declaração de assinatura com a
NDAA que garantia que sua administração não usaria a lei para
deter indefinidamente cidadãos americanos.
É desnecessário dizer
que isso fez pouco para acabar com a indignação do público que tem
conhecimento.
Então o que fazer de
tudo isso? Muito obviamente, é agora dolorosamente claro que tudo
que postamos online está sendo observado. E se o FBI conseguir seu
novo aplicativo - o que parece para nós uma inevitabilidade - o olho
com o qual ele vê nossos tweets e atualizações terá visão
biônica, e até a capacidade de espreitar o futuro. O que é menos
óbvio é como o objetivo do governo de proteger o bem público será
abusado para atropelar a legítima liberdade de expressão e o
descontentamento público legal.
Em resumo: O Big
Brother é real. Ele está observando. Então seja cuidadoso sobre o
que diz online hoje em dia - isso poderá ser usado contra você
amanhã.
Fonte:
www.digitaltrends.com
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