Reciclagem, conservação, sustentabilidade e realidade
Escrito por Roy Cordato
As
crianças também são doutrinadas a acreditar que reciclar irá
reduzir a poluição. Mas a elas não é dito que o processo de
reciclagem é, em si, extremamente poluente.
Quer
salvar árvores e diminuir a poluição? Enfie seus papeis em
uma grande sacola plástica e jogue-a fora.
A reciclagem adquiriu um status moral quase que inquestionável, em grande parte porque crianças e adolescentes, doutrinados pela propaganda ambientalista continuamente regurgitada pelas escolas e universidades, chegam às suas casas munidos de informações falaciosas e as utilizam para intimidar seus pais.
Não seria
exagero algum dizer que mais de 70% da juventude quer que seus pais
reciclem.
Porém,
aqui vai meu humilde conselho aos pais: não se envergonhem e não se
deixem intimidar! Joguem fora todo e qualquer lixo. Não há
nenhuma virtude em reciclar algo que o mercado não está disposto a
lhe pagar. Se reciclagem fosse realmente uma necessidade
premente, tal ato teria um enorme preço de mercado, e as pessoas
seriam pagas para incorrer em tal atividade. O que nossas
crianças e adolescentes estão aprendendo nada mais é do que
ideologia esquerdista, sem nenhum respaldo em fatos ou na ciência.
Um
dos argumentos utilizados em prol da reciclagem é que o mundo está
ficando sem aterros sanitários, pois o espaço para eles estaria
acabando. Os meios de comunicação se esmeram em propagandear,
principalmente em canais voltados para o público infantil, imagens
sombrias de cidades soterradas sob seu próprio lixo. É
exatamente isto o que se passa por educação ambientalista no mundo
atual.
Porém,
a realidade é que não há e nem nunca houve qualquer escassez de
espaço para a construção de aterros.
Se houvesse de fato tal
escassez, o preço de mercado para tal espaço seria tão
astronômico, que as pessoas estariam demolindo suas próprias casas
para construir aterros em seus lugares. Ato contínuo, elas
iriam embolsar o lucro e comprariam mansões. No entanto, a
verdade é que se todo o lixo sólido a ser produzido nos próximos
mil anos fosse concentrado em um único lugar, ele ocuparia
apenas 114 quilômetros quadrados — o equivalente a 0,001% de toda
a área dos EUA.
E
o que dizer sobre a tão propalada alegação de que a reciclagem,
principalmente a de papel, irá "salvar a vida" de várias
árvores? Toda criança tem este mantra na ponta da língua.
O papel, afinal, é feito da madeira das árvores. Por que não
produzir papel novo utilizando papel antigo e, assim, evitar que mais
árvores sejam derrubadas? Simplesmente porque não é assim
que funciona a lógica econômica. A oferta sempre será
comandada pela demanda. Se amanhã repentinamente pararmos de
utilizar trigo para fazer pão, haveria menos trigo no mundo daqui a
um ano. A oferta de trigo cairia drasticamente. Não mais
haveria incentivos de mercado para se cultivar trigos, seus preços
despencariam e o cultivo de trigo seria uma atividade totalmente
deficitária.
Da mesma forma, se todo o mundo parasse de comer
frango, a população de frango diminuiria, e não aumentaria, como
supõem quase todos os ambientalistas.
A
mesma lógica se aplica à relação entre papel e árvores. Se
pararmos de utilizar papel, menos árvores seriam plantadas.
Não haveria incentivos de mercado para a conservação de
florestas. Na indústria papeleira, 87% das árvores utilizadas
são plantadas para a produção de papel. Isto significa que,
de cada 13 árvores que seriam "salvas" pela reciclagem, 87
jamais seriam plantadas. É exatamente por causa da demanda por
papel que o número de árvores plantadas no mundo aumentou nos
últimos 60 anos. Eis, portanto, uma lição incômoda para os
ambientalistas: se o seu objetivo é maximizar o número de árvores,
não recicle papel. Outra lição: se você quer aumentar o
número de árvores, defenda o capitalismo e a propriedade privada.
Quando se é dono da sua própria terra, há vários incentivos
econômicos para se cuidar muito bem desta sua terra. Sua
preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, o
proprietário de uma floresta, por exemplo, irá permitir que uma
madeireira ceife apenas um número limitado de árvores, pois ele não
apenas terá de replantar todas as que foram ceifadas, como também
terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo
ano.
Outras
declarações feitas por defensores da reciclagem são igualmente
problemáticas. Reciclar não poupa recursos. Pelo
contrário, desperdiça recursos valiosos. Em geral, reciclar é
mais caro do que construir aterros, com a única exceção para esta
regra sendo o alumínio. As crianças também são doutrinadas
a acreditar que reciclar irá reduzir a poluição. Mas a elas
não é dito que o processo de reciclagem é, em si, extremamente
poluente. A reciclagem de jornais, por exemplo, requer que a
tinta velha utilizada nos jornais seja retirada das páginas.
Este é um processo quimicamente intensivo que gera enormes
quantidades de lixo tóxico. Muito mais "ambientalmente
saudável" seria simplesmente jogar os jornais fora.
Adicionalmente,
um programa de coleta de recicláveis exige o uso de caminhões
diferentes dos caminhões utilizados para a coleta de lixo
comum. Isto, por sua vez, significa mais caminhões circulando
diariamente (ou semanalmente) nas cidades. E isto, por sua vez,
significa mais poluição do ar. Em Nova York, por exemplo,
após instituir a reciclagem compulsória, a prefeitura teve de
acrescentar duas coletas adicionais por semana. Já em Los Angeles, a
prefeitura teve de duplicar sua frota de caminhões de lixo.
Mas
o fato é que os recicladores têm uma agenda muito mais ambiciosa do
que aquela com que doutrinam as crianças e os adolescentes. No
livro Waste
Management: Towards a Sustainable Society,
seus autores, O.P.
Kharband and E.A. Stallworthy, chegam a reclamar
que as construtoras descartam pregos envergados e que os hospitais
utilizam seringas descartáveis. "O chamado 'padrão de
vida'", concluem os autores, "terá de ser reduzido".
Eis
aí o real objetivo da elite defensora de programas compulsórios de
reciclagem. E, tragicamente, esta redução no padrão de vida
já foi alcançada em várias cidades que construíram monstruosas e
caras fábricas de reciclagem, o que levou a desperdícios
inacreditáveis, impostos mais altos, e prefeituras financeiramente
estropiadas.
A
realidade econômica do debate ambientalista
Debates sobre questões ambientais nada mais são do que debates sobre como estamos precificando o futuro.
Em economês, diz-se que estamos
atribuindo ao futuro um valor presente muito descontado.
Questões sobre "o mundo que estamos deixando para nossos
filhos" e reclamações sobre a suposta miopia das gerações
atuais são, em última instância, alegações de que estamos
precificando o futuro de maneira incorreta e inapropriada — ou,
mais especificamente, que estamos descontando acentuadamente o valor
presente do futuro.
Em
seu livro The
Armchair Economist,
Steven Landsburg apresentou um excelente ponto sobre a alegação de
que temos de conservar a terra para as gerações futuras. Ele
pergunta como podemos saber com total certeza se nossos filhos e
netos irão preferir uma floresta a toda a renda e riqueza que seriam
geradas por, digamos, um estacionamento ou um shopping. E a
resposta é que nós simplesmente não sabemos, pois, novamente
recorrendo ao economês, é impossível fazer comparações
interpessoais de utilidade. Mas podemos utilizar o princípio
da preferência temporal para nortear nossas decisões.
Alguns
dizem que não podemos precificar o futuro de maneira tão baixa —
ou que, se o fizermos, deveríamos descontar seu valor presente de
uma maneira extremamente ínfima. Tais pessoas argumentam que,
ao fazermos nossos cálculos ambientais de hoje, as gerações
futuras deveriam ser incluídas nele e consideradas como tendo o
mesmo peso da geração atual. Certo, mas qual a consequência
real e lógica de tal postura? Ora, se realmente fizermos isso
para todos os assuntos envolvendo o ambiente, então qualquer questão
sobre a proteção do planeta irá se tornar irrelevante por causa de
um fato incômodo e perturbador já apontado pelo economista Walter
Block: em algum momento futuro, o sol irá desaparecer, e o planeta
com o qual estamos tão preocupados hoje irá simplesmente
desaparecer. E isso é um fato para o qual não há
alternativas.
Logo,
se estamos tão preocupados com a preservação das espécies, e se
já sabemos de antemão que, um dia, o planeta Terra irá
inevitavelmente desaparecer, então temos de buscar um conjunto de
ideias radicalmente distintas e uma abordagem radicalmente diferente
da atual maneira de se pensar o ambiente. Temos de levar em
conta que haverá um momento em que o principal problema ambiental a
ser enfrentado pela humanidade não será como reduzir a poluição
da terra, do ar e do mar, mas sim como sair deste planeta ou como
alterar sua posição no sistema solar, duas tarefas que estão muito
além das fronteiras da nossa atual capacidade tecnológica, mas que
podem ser alcançadas, pelo menos em princípio.
Uma
solução para este inevitável problema seria o acúmulo de recursos
e capital, algo que requer um nível muito maior de criatividade e
engenho humano, e uma divisão do trabalho muito mais acentuada que a
atual, de modo que as pessoas possam se concentrar nos problemas e
desafios gerados por uma viagem interplanetária. Isto
significa que seriam necessárias mais pessoas habitando o planeta, e
elas teriam de ser muito mais ricas do que são hoje, e teriam de
enriquecer de maneira bem mais acelerada, pois isso liberaria o
recursos necessários para solucionar todos estes problemas.
Embora
isto — aumento populacional e enriquecimento acelerado — seja
algo que vá exatamente contra as ideias ambientalistas
convencionais, trata-se exatamente da consequência lógica de se
dizer que as gerações futuras devem ser consideradas como tendo o
mesmo valor da nossa geração atual. A tese de que não
devemos dar ao futuro — e às gerações futuras — um valor
presente descontado implica que todos os outros problemas atuais
devem ser relegados a segundo plano, dando-se prioridade ao urgente
problema de como impedir a inevitável extinção humana que irá
ocorrer quando o sol morrer.
Conclusão
À primeira vista, o objetivo de se reciclar mais e de se conservar mais pode parecer muito apropriado, até mesmo desejável. No entanto, os defensores de tais práticas não possuem as informações econômicas necessárias para se tomar as decisões corretas nestas questões, pois não há direitos de propriedade claramente definidos sobre os recursos naturais escassos. Não há propriedade privada sobre aterros sanitários e não há livre mercado para a reciclagem de lixo. Adicionalmente, como mostra o exemplo de Block, se realmente nos importamos com as gerações futuras, se dermos a ela exatamente a mesma importância que damos a nós mesmos e, consequentemente, se estamos dispostos a nos sacrificar por ela — pois, afinal, damos a ela o mesmo valor que damos a nós mesmos —, então o inevitável fato de que o sol irá morrer um dia significa que, em vez de estarmos hoje preocupados com a reciclagem de lixo, deveríamos, isto sim, estar preocupados em construir colônias planetárias, exatamente como no seriado Battlestar Galáctica. Quem for contra isso, ou achar que se trata de um exagero, então tal pessoa realmente não está preocupada com as gerações futuras que presumivelmente irão habitar a terra daqui a vários bilhões de anos.
Recicladores
e ambientalistas não são cidadãos melhores ou mais bem
intencionados. São apenas mal informados. Quer salvar
árvores e diminuir a poluição? Enfie seus papeis em uma
grande sacola plástica e jogue-a fora.
Colaborou
para este artigo Art
Carden.
Roy
Cordato é
vice-presidente para pesquisas e acadêmico residente da John Locke
Foundation. É também pesquisador adjunto do Mises
Institute.
Tradução: Leandro Roque
Tradução: Leandro Roque
Publicado no site do Instituto Ludwig Von Mises Brasil.
Fonte: www.midiasemmascara.org
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