Em 2008, a FC publicou um relatório especial sobre a
criação do Banco do Sul em preparação para a integração dos países da
América do Sul. Em junho de 2008, um artigo importante intitulado "O Colapso Financeiro Global: O Que Você Precisa Saber e Como se Proteger"
detalhou o abalo financeiro iminente e como a situação refletia os
problemas fundamentais na economia. Três meses mais tarde a crise
econômica estourou seriamente e estamos lidando com os efeitos dela
desde então.
Agora, em meados de 2009, a Forcing Change
está publicando dois artigos interconectados que explicam quais serão os
próximos lances: uma estrutura regulatória internacional que
nocauteará a soberania econômica nacional, e uma diretiva
espiritual/social que desafiará diretamente a cosmovisão cristã sob os
auspícios da crise econômica. No fim do segundo artigo você também
encontrará uma sugestão estrutural de como a nova arquitetura financeira
internacional poderá ser organizada.
Em outras palavras, esta edição examinará os próximos
movimentos nesta dança econômica global. Instruindo-se sobre os
próximos passos que serão dados, você conseguirá compreender melhor como
as cadeiras serão remanejadas no salão de baile.
Esta edição contém dois relatórios vitalmente importantes sobre dois
movimentos econômicos interligados. O primeiro artigo, da autora
convidada Joan Veon, faz um mergulho profundo no Banco de Compensações
Internacionais (BIS) e investiga a incrível tomada de poder que ocorrerá
por meio do controle do BIS sobre o sistema regulatório global.
Não pense que este assunto seja árido. Controlando o
sistema regulatório internacional, o BIS literalmente assumirá o
comando. Os governos nacionais, os bancos centrais, as Comissões de
Valores Mobiliários, e até as seguradoras terão de aderir às
determinações desse autoindicado mandachuva do setor bancário. Os
efeitos não serão observáveis imediatamente, mas sentiremos as
repercussões de forma gradual, à medida que nossos governos nacionais
buscarem a aprovação do BIS antes de buscarem a aprovação do eleitorado.
O segundo artigo, intitulado "Construindo um Futuro
Comum", analisa uma recente conferência da ONU sobre a crise econômica
mundial. O que deixará você chocado não é a discussão sobre as medidas
financeiras internacionais, mas a gigantesca mudança social e de
comportamento que está sendo prevista — sistematicamente forçando-o a
deixar de ser uma pessoa independente e com lealdades ao seu país para
se tornar um cidadão global com novas obrigações internacionais.
No fim do artigo você encontrará uma lista das
mudanças sociais e econômicas esperadas como resultados da crise global.
Vale a pena ler e reler essa seção e refletir sobre ela à medida que a
crise continuar. Fazendo isto, você terá uma melhor compreensão dos
desafios de cosmovisão que confrontarão você, sua igreja e sua
comunidade.
A leitura desta edição poderá ser considerada pesada
para alguns. Entretanto, este é o custo mental e emocional de tentar
compreender as forças que estão mudando nossa cultura. O custo de não
tentar compreender é muito maior: confusão, dúvida, conflitos de
cosmovisão internos e externos e o potencial de ser atropelado por este
trem veloz chamado "globalização".
Nota do Editor: A Forcing Change gostaria de dar as boas-vindas a Joan Veon, e agradecer a ela por permitir a publicação deste seu importante artigo.
Joan Veon é uma mulher de negócios e uma repórter
internacional. Desde 1994, ela já cobriu mais de 100 encontros globais
em todo o mundo e constantemente monitora e analisa os muitos movimentos
e agendas que dirigem a comunidade internacional. Ela publica um
boletim financeiro baseado em suas pesquisas e é autora de The United Nations Global Straightjacket (A Camisa de Força Global das Nações Unidas) e Prince Charles: The Sustainable Prince
(Príncipe Charles: O Príncipe Sustentável). Ela também já lançou
diversos vídeos e relatórios especializados sobre assuntos
internacionais, sobre o sistema financeiro internacional, os movimentos
cambiais e outros aspectos da globalização. O endereço do site dela é http://www.womensgroup.org.
Nota adicional: Este artigo é especialmente
importante, pois detalha as ações significativas que estão sendo tomadas
pelo Banco de Compensações Internacionais em sua busca para se tornar o
regulador bancário global — aquele que dá as cartas nas questões
bancárias. Pedimos que você separe um tempo para ler e contemplar a
mensagem; sugerimos que mantenha este conhecimento por perto à medida
que a crise econômica continuar a se desdobrar. Se você separar um tempo
para considerar seriamente o que Joan Veon reporta aqui, estará
quilômetros à frente em termos de conhecimento e compreensão.
Após ler os dois artigos nesta edição da FC, recomendamos que você também leia o relatório "O Sistema Financeiro Internacional — Parte 3: O Banco de Compensações Internacionais", escrito por Patrick Wood, da August Review.
Esse relatório apresenta uma excelente visão geral sobre o sistema do
BIS e é um complemento perfeito para o artigo de Joan Veon.
Parte 1
A Globalização da Estrutura Regulatória e Bancária Mundial
Autora: Joan Veon
Basileia, Suíça — A base de poder do mundo mudou...
ela não está mais em Londres, Nova York, Washington ou Tóquio. Também
não está em Pequim ou em Moscou. Está em Basileia, na Suíça. Em 1930, o
Banco de Compensações Internacionais (BIS, de Bank for International Settlements)
foi fundado como resultado do Plano Young, assim nomeado em homenagem
ao homem que presidia o Comitê de Reparação dos Aliados, Owen D. Young.
Basileia foi escolhida como local porque todos
poderiam chegar ali de trem a partir de qualquer parte da Europa para
participar dos encontros. Quando você sai da estação de trem principal, o
BIS está a uma distância de apenas um quarteirão. O moderno edifício de
18 andares esconde o poder que se estende globalmente. Não há nada no
edifício que chame a atenção, exceto uma placa perto das portas frontais
de vidro que basicamente diz que aquela é uma propriedade privada.
Pessoas poderosas e influentes de todo o mundo entram no edifício do BIS
discretamente e são distinguidas dos cidadãos comuns por seus ternos
sociais e crachás de identificação.
Todavia, dentro daquele edifício, o sistema monetário
mundial está sendo desenhado e dirigido por muitas pessoas iluminadas e
brilhantes. Aqueles que visitam regularmente vêm de todas as partes do
mundo e incluem: Ministros de Estado, presidentes de bancos centrais,
Secretários do Tesouro, membros de agências reguladoras,
superintendentes de seguros, garantidores de depósitos e contadores.
Verdadeiramente, o BIS é muito poderoso. O Dr. Carroll Quigley, em seu
livro Tragedy and Hope, escreveu:
"Os poderes do capitalismo financeiro tinham outro
objetivo de longo alcance, nada menos que criar um sistema mundial de
controle financeiro em mãos privadas capaz de dominar o sistema político
de cada país e a economia do mundo como um todo. Esse sistema seria
controlado de forma feudal pelos bancos centrais do mundo agindo em
concerto, por acordos secretos, realizados nos encontros e conferências
frequentes. O ápice seria o Banco de Compensações Internacionais,
sediado em Basileia, na Suíça. (pág. 324-25).
Se esse poder não era evidente antes, ele está no
processo de se tornar maior e mais imenso. Embora o BIS sempre tenha
sido o ponto focal da atividade dos bancos centrais globalmente, ele
agora está finalizando a estrutura sobre a qual o professor Quigley
escreveu.
A cada dois meses, o Grupo dos Dez presidentes de
bancos centrais, junto com os presidentes dos bancos centrais das
principais nações em desenvolvimento, se reúnem para discutir a política
monetária global, entre outras coisas. Ao longo dos anos, a discussão
se expandiu até o ponto em que todos os aspectos dos bancos, finanças,
seguradoras, seguros de depósitos e regulamentações agora constituem os
trabalhos principais.
Em meados dos anos 1990s, a palavra "globalização"
entrou em nosso vocabulário quando foi necessário nomear o processo por
meio do qual as barreiras entre os países do mundo começavam a cair.
Iniciando com a formação do Fundo Monetário Internacional e do Banco
Mundial em 1944, as barreiras financeiras entre os países caíram; com a
criação das Nações Unidas em 1945, as barreiras políticas caíram; com o
estabelecimento da Organização Mundial do Comércio em 1994, as barreiras
comerciais caíram; com o estabelecimento da Corte Internacional de
Justiça em 1998, as barreiras jurídicas caíram; e com os ataques de 11
de setembro de 2001 contra o World Trade Center, as barreiras militares e
de inteligência caíram.
Similarmente, durante os anos 1990s, o Banco de
Compensações Internacionais começou a definir seu próprio nível de
globalização. Considere as seguintes agências criadas e administradas
pelo BIS:
Em 1998, a Associação Internacional das
Superintendências de Seguros foi formada e é constituída por
superintendências de todo o mundo.
Em 1999, o Fórum de Estabilidade Financeira
foi criado, constituído pelos secretários de Tesouro, banqueiros
centrais e presidentes de agências reguladoras dos países do G-7.
Recentemente, essa organização foi expandida para incluir também os
países do G-20.
Em seguida, em 2002, a Associação
Internacional das Seguradoras de Depósito foi formada. Essa organização é
constituída por empresas seguradoras que garantem os depósitos nas
contas correntes.
Outra organização que foi formada em 1973 e
depois reconfigurada em 1984 é a Organização Internacional das Comissões
de Valores Mobiliários (IOSCO, de International Organization of Security Commissions), que é basicamente uma Comissão de Valores Mobiliários global que facilita uma Bolsa de Valores global.
O que a Crise de Crédito de 2008 forneceu é uma
oportunidade para a maior expansão e fortalecimento dessas organizações
que irão e estão no processo de transferir as respectivas
responsabilidades do nível nacional para o nível global, assim
completando o processo da globalização bancária, das seguradoras, da
auditoria, a contábil e a regulatória. Deve ser mencionado que para os
Estados Unidos exercerem seu papel nesse processo, o governo Obama terá
de criar uma única agência reguladora nacional sobre os sete diferentes
reguladores diferentes que hoje trabalham de forma independente. Este
passo é tão importante que o jornal Financial Times publicou um editorial, em 20 de junho, que advertiu os EUA:
"A necessidade de uma completa reforma regulatória
ainda é urgente. Uma preocupação se destaca: o risco de todo o sistema
financeiro quebrar, como ocorreu no outono passado. Aqueles que querem
dar aos bancos centrais o poder e responsabilidade de monitorar os
riscos sistêmicos estão certos. Eles incluem o Tesouro dos EUA, cujas
propostas nesta semana procuram transformar a Reserva Federal em um
super-regulador sistêmico. Essas propostas estão sendo contestadas. Elas
não deveriam ser; as alternativas são piores. As reformas para colocar
rédeas e controlar o risco sistêmico não devem se tornar reféns da
política. Elas precisam ser implementadas antes que a memória do outono
passado caia no esquecimento."
Vamos examinar o que o primeiro parágrafo do 79º
Relatório Anual do Banco de Compensações Internacionais diz com relação à
crise do crédito:
"Como isto pôde acontecer? Ninguém imaginava que o
sistema financeiro pudesse entrar em colapso. Salvaguardas suficientes
tinham sido implementadas. Havia uma rede de segurança: bancos centrais
que emprestariam quando necessário, seguro para os depositantes e
proteções para os investidores, o que liberava os indivíduos das
preocupações com a segurança das suas riquezas; reguladores e
superintendentes atentos às instituições individuais para evitar que os
gerentes e proprietários incorressem em riscos altos demais. Desde
agosto de 2007, o sistema financeiro experimentou uma sequência de
falhas críticas."
Embora forneça sua avaliação sobre o que aconteceu de errado, o relatório resume o problema e a solução da seguinte forma:
"Em resumo, os reguladores financeiros, as
autoridades fiscais e os banqueiros centrais enfrentam enormes riscos.
Construir um sistema financeiro perfeito e protegido contra falhas — um
sistema capaz de manter seu estado normal de operações no caso de uma
falha — é impossível. No caminho estão a inovação e os limites da
compreensão humana, especialmente com relação à complexidade do mundo
financeiro descentralizado. Não temos escolha, senão aceitar o desafio
de primeiro reparar e depois reformar o sistema financeiro
internacional."
As recomendações deles incluem os comitês normativos
do BIS (o Comitê da Basileia Sobre Supervisão Bancária, o Fórum de
Governança dos Bancos Centrais, o Comitê Sobre Sistemas de Pagamento e
de Compensações, e o Comitê dos Mercados) e a Junta de Estabilidade
Financeira. Para nossos propósitos, discutiremos o poder
recém-centralizado da Junta de Estabilidade Financeira.
Primeiro, deve ser observado que com esse tipo de
falha econômica e monetária total, o sistema inteiro deveria ser
descartado e talvez devêssemos voltar a ser Estados-nações individuais.
Mas, para seus propósitos, eles estão expandindo e fortalecendo outro
nível de controle que moverá os ativos de todo o mundo para dentro do
domínio deles. Sem guerra física, sem armas, sem tiros — guerra
financeira eletrônica.
A Junta de Estabilidade Financeira era originalmente o
Fórum de Estabilidade Financeira. Quando ele foi criado em 1999,
entrevistei seu secretário-geral, Svein Andersen, que me disse que não
havia garantia que o fórum seria capaz de proteger o sistema global de
problemas. Entretanto, acreditava-se que se você colocasse juntos os
presidentes de bancos centrais, os Secretários do Tesouro e os
presidentes das agências reguladoras dos países do G-7, isso forneceria
uma estrutura para proteger o sistema financeiro global.
Obviamente, eles fracassaram em sua missão. A
alternativa, em vez de dar fim ao Fórum de Estabilidade Financeira, foi
expandi-lo e fortalecê-lo. Quando perguntei a Mario Draghi, o presidente
da Junta de Estabilidade Financeira, sobre o papel e participação dos
banqueiros internacionais, como Sir Evelyn de Rothschild, ele me
respondeu:
"Estamos em contato com várias associações de
banqueiros e associações do mercado — bancos, fundos de Hedge, fóruns de
títulos e muitos outros organismos. Vemos o que eles fazem e então
tomamos uma decisão. Assim, é um contexto interessante, mas no fim, no
nosso fórum temos os reguladores — reguladores bancários, reguladores do
mercados, ministros das finanças, organizações e instituições
internacionais normatizadoras. Portanto, no fim, é para nossa própria
cabeça que temos de olhar."
É importante observar que a internacionalização ou
globalização do sistema financeiro está aqui. Ela representa a derrubada
da barreira final entre os países do mundo. Ela já está quase
totalmente operacional há pelo menos dez anos. Neste ponto do jogo, a
integração entre algumas das organizações internacionais está aparente.
A necessidade de coordenar a contabilidade
internacional por meio da Junta Internacional de Normas Contábeis com a
correspondente americana, a Financial Accounting Standards Board
(FASB) com a Junta de Estabilidade Financeira e o G-20 — já está
acontecendo. A Associação Internacional das Comissões de Valores
Mobiliários (IOSCO) está trabalhando com o Fórum Conjunto e a Junta de
Estabilidade Financeira do BIS.
De modo a desenvolver normas internacionais de alta
qualidade para auditoria, seguros, ética e educação para os contadores
profissionais, o Grupo de Monitoração foi formado e uma Carta de
Constituição foi adotada em 2008 pelo Memorando de Entendimento. Entre
os participantes estão: a IOSCO, o Comitê da Basileia Sobre Supervisão
Bancária, a Comissão Europeia, a Associação Internacional das
Superintendências de Seguros, o Banco Mundial, a Junta de Estabilidade
Financeira e o Foro Internacional dos Reguladores de Auditoria
Independente.
Existem tantos grupos de trabalho que agora formam um
novo nível de supervisão regulatória operando internacionalmente que é
quase impossível voltar atrás e recuperar o poder dos Estados-nações
individuais. A quantidade e a supervisão exercida por esses grupos
fariam sua cabeça girar.
Podemos voltar atrás? Qualquer país que se atrever a
dizer não a eles será completamente destruído — apenas observe o que
aconteceu com os cinco países asiáticos que decidiram dizer não ao
Acordo Sobre Serviços Financeiros, da Organização Mundial do Comércio,
em meados dos anos 1990s. A Junta de Estabilidade Financeira é que está
agora sendo fortalecida para se tornar as "Nações Unidas do Controle
Financeiro e Regulatório" sobre os países.
Construindo um Futuro Comum: Torcendo a Fé, a Economia e as Finanças em uma Nova Ordem Global
Autor: Carl Teichrib
"... nenhuma crise, especialmente uma desta
magnitude, desaparece sem deixar um legado. Entre os legados da crise
atual veremos uma batalha mundial por ideias..." – Joseph E. Stiglitz
[1].
Ai, que sono!
As conferências financeiras, como os documentos bancários, deveriam ser considerados a cura para a insônia.
Não acredita? Bem, se você nunca teve a oportunidade
de participar de uma conferência em que a macroeconomia era discutida
(já estive em algumas, ao participar de fóruns sobre os assuntos
globais) — onde você pode ouvir palestras estimulantes sobre mecanismos
de classificação de crédito, Direitos Especiais de Saque, politica
tributária, tarifas, regimes cambiais — a próxima coisa boa é ler os
relatórios desses eventos. Experimente e você verá o que quero dizer.
Apenas considere os títulos dos seguintes documentos bem-conhecidos do Banco de Compensações Internacionais:
Curvas de Juros de Cupom Zero: Documentos Técnicos.
Comparação de Dados de Credores e Devedores na Dívida Externa de Curto Prazo.
Mecanismos de Transmissão para Política Monetária nas Economias dos Mercados Emergentes.
Interessantes, não?
Nunca participei dos encontros que produziram esses
títulos revigorantes. Nem poderia — não sou funcionário de alto escalão
de algum banco central. Entretanto, só de olhar para os títulos, sem
precisar se aprofundar no conteúdo, já faz a pessoa querer encontrar um
travesseiro.
Isto me faz lembrar de um voo de longa duração
atravessando o Canadá anos atrás. Como material de leitura, levei comigo
um relatório técnico do BIS sobre moedas regionais, uma revista sobre
motocicletas e um livro de histórias do Velho Oeste, de Louis L'Amour.
Após trinta minutos de leitura do documento do BIS, destacando algumas
seções com um marcador amarelo e colocando estrelas e pontos de
exclamação em diferentes partes, senti desesperadamente a necessidade
de fazer uma pausa mental. Peguei então a revista sobre motocicletas.
Dez minutos depois, conclui a leitura de uma matéria fantástica sobre
uma aventura em algum lugar onde eu gostaria de estar. De volta ao
documento do BIS. Meia hora mais tarde, eu já não conseguia mais me
concentrar. Olá L'Amour.
Quando o avião se aproximou de seu destino, a senhora
que estava ao meu lado fez um comentário sobre a "diversidade" de meus
interesses de leitura. Parecia estranho para ela que eu investigasse um
relatório obviamente técnico e depois o substituísse por algo tão
elementar como uma revista sobre motocicletas, ou um livro de
bangue-bangue. (Ei, sou um motociclista e as histórias de L'Amour são
ótimas!) Assim, deixei que ela desse uma olhada no relatório do BIS.
Após menos tempo que levou para você ler este parágrafo, ela o entregou
de volta para mim dizendo: "— Realmente, é uma leitura difícil."
Tudo isto é para enfatizar um ponto: as conferências
econômicas estão principalmente preocupadas com as difíceis questões
econômicas, incluindo a governança das economias. Os relatórios e as
transcrições dessas conferências lidam com tópicos igualmente difíceis.
Isto é de se esperar e, a não ser que você tenha uma compreensão da
linguagem técnica (o economês) e dos vários acrônimos usados, ficará
perdido no meio de uma miríade de termos e conceitos. Isto ainda
acontece comigo.
Todavia, o que você não esperaria ler em uma
transcrição econômica é uma discussão a respeito da evolução cósmica, ou
sobre a veneração à Mãe Terra. Entretanto, isto era exatamente o que
havia nas transcrições dos discursos da Conferência das Nações Unidas
Sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial, realizada de 24-26 de
junho de 2009 (com uma extensão feita no dia 30) na sede a ONU, em Nova
York.
Durante os últimos meses, a Organização das Nações
Unidas esteve se preparando para este evento, que ocorreu logo após
outros fóruns internacionais, como o encontro dos chefes de Estado do
G-20, realizado em Londres, e a reunião conjunta do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Mundial no fim de abril, que tratou
extensivamente da crise financeira global. Portanto, a ONU também fez o
chamado para os líderes de reunirem sob sua bandeira. Afinal, a sede da
ONU é considerada o lugar de reunião mais importante do mundo. Ali
então se reuniram primeiros-ministros, representantes dos chefes de
Estado e delegados do nível ministerial de todo o mundo.
Definindo o Palco
Todos os eventos internacionais têm um discurso de
abertura para definir o tom. Foi aqui que esta conferência da ONU seguiu
um caminho diferente do esperado. Em vez de uma análise dos desafios
econômicos que estavam diante do mercado internacional, a sessão de
abertura seguiu um caminho muito estranho.
Miguel d'Escoto Brockmann, o presidente da 63ª
Assembléia-Geral da ONU, foi o indivíduo responsável por organizar a
Conferência Sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial. Ele também
abriu e fechou o evento, e foi o presidente residente dessa conferência
específica — trabalhando para guiar o fórum até uma agenda determinada.
Assim, qual era a agenda de Brockmann? Um movimento rumo a "um novo paradigma da coexistência social".
Mas, o que isto significa?
Brockmann esperava que os delegados enfocassem um
"novo paradigma" — uma visão diferente para o mundo. Lembre-se, esta era
uma conferência internacional sobre a crise econômica e financeira.
Considere atentamente as seguintes seleções do discurso inaugural do Sr.
Brockmann:
1. Construindo a Arca de Noé: Solidariedade Global.
"... precisamos todos juntar nossos esforços para
evitar a crise global... Os desafios das várias crises estão todos
interconectados e nos obrigam, como representantes dos povos da Terra, a
declarar nossa responsabilidade uns pelos outros, e que juntos, com
grande esperança, busquemos soluções inclusivas. Que lugar melhor do que
esta Assembleia-Geral das Nações Unidas para fazer isto..."
"Não é humano nem responsável construir uma Arca de
Noé somente para salvar o sistema econômico existente, deixando a vasta
maioria da humanidade abandonada ao seu destino e sofrendo os efeitos
negativos de um sistema imposto por uma minoria irresponsável, porém
poderosa. Precisamos tomar decisões que afetem a nós todos coletivamente
na maior extensão possível, incluindo a ampla comunidade da vida e
nosso lar comum, a Mãe Terra." [2].
Nota: Esta afirmação demonstra o ímpeto para a
solidariedade global — uma incumbência social/ética para trabalhar como
um povo unificado em uma tentativa de salvar o mundo. Brockmann vê as
Nações Unidas como o veículo principal para a salvação, uma Arca de Noé
política.
"O egotismo e a ganância não podem ser corrigidos.
Eles precisam ser substituídos pela solidariedade, que obviamente
implica mudança radical... criar algo que caminhe em direção a um novo
paradigma de coexistência social." [3].
Nota: "Ganância" é vista como capitalismo. Continue a leitura para ter uma explicação mais profunda desse vínculo.
2. Ética Globalizada: Uma Visão Centrada na Terra
"Agora é hora de criar uma política e uma ética
globalizadas com base nas muitas experiências e tradições culturais dos
nossos povos."
"... Em outras palavras, uma diferente visão do mundo também cria uma ética diferente, um novo modo para nós nos relacionarmos."
Nota: Assim, de onde emerge a visão ética do
Sr. Brockmann? Ele torna claro que é da Carta da Terra [4] — um
documento "do Direito Flexível" (NT: Expressão usada no âmbito do
Direito Internacional Público que designa o texto internacional que é
desprovido de caráter jurídico) que busca mudar o comportamento e as
crenças da humanidade em direção a uma visão evolucionária, misticamente
orientada e centrada na Terra.
"O ponto de vista que vem até nós das assim chamadas
ciências da Terra, que a Terra está inserida dentro de um vasto e
complexo cosmos, que está em evolução, precisa ser incorporada. Esta Mãe
Terra, o termo aprovado pela Assembleia-Geral no último dia 22 de
abril, está viva. A Mãe Terra regula a si mesma, mantendo o sutil
equilíbrio entre o físico, o químico e o biológico de tal modo que a
vida é sempre favorecida. Ela produz uma comunidade singular da vida a
partir de onde a comunidade da vida humana — a humanidade — emergiu,
como a parte consciente e inteligente da própria Terra."
"... estamos tão unidos com a Terra que nós mesmos somos a Terra: a Terra que sente, pensa, ama e adora."
"... Devido ao fato que ela (a Mãe Terra) está viva e
gerou todos os seres vivos, ela tem dignidade. Essa dignidade exige
respeito e veneração e a investe com direitos..." [5].
O presidente da conferência apresentou então cinco
estratégias e cinco mais "princípios éticos" para guiar a humanidade
durante a crise econômica global. Aqui estão as cinco estratégias:
1. Uso sustentável dos recursos naturais:
Isto não é sobre a pesca excessiva, ou o uso excessivo de algum recurso
natural, mas alterar o modo como operamos sob uma ética da Terra;
"fortalecer um relacionamento de respeito e sinergia com a natureza."
[6].
2. Fazer da economia um instrumento da transformação:
"… a economia deve ser vista como a atividade que lança os fundamentos
para a vida física, cultural e espiritual de todos os seres humanos no
planeta, ao mesmo tempo que respeita as normas sociais e do meio
ambiente."
Uma "economia" é simplesmente o agregado da interação
da sociedade no que se refere à troca de bens e serviços. O que o Sr.
Brockmann imagina vai muito além do intercâmbio financeiro.
3. Democracia Planetária: "Espalhar a
democracia para todas as relações e instituições sociais. Ela não deve
apenas ser aplicada e fortalecida na arena política, com uma nova
definição do Estado e das organizações internacionais, mas também
estendida para as esferas da economia, da cultura e do relacionamento
entre homens e mulheres..."
Isto representa uma transição da soberania nacional
para a governança planetária e a socialização das culturas como um todo —
é um sonho utópico de socialismo internacional.
4. Pluralismo Religioso: Brockmann
afirma que a nova ética precisa estar baseada no "intercâmbio
multicultural e nas tradições filosóficas e religiosas dos povos..."
Esta recomendação requer que os conceitos de
pluralismo espiritual e interfé ocupem o centro do cenário. As
afirmações de verdade do judaísmo e do cristianismo não podem ser
toleradas nesse novo paradigma social de pluralismo global.
5. Alcance Místico: "Fortalecer uma visão espiritual do mundo que faça justiça à busca do homem por um significado transcendental da vida..."
A visão espiritual do Sr. Brockmann é expressa em
visões de Nova Era de consciência cósmica e uma "Terra viva" (veja os
excertos do seu discurso de encerramento posteriormente neste artigo).
Para que a ONU cumpra sua incumbência — e lembre-se que a ONU é
considerada um tipo de Arca de Noé — essa visão terá de ser
espiritualmente inclusiva e propagada por meio dos programas
educacionais. As cosmovisões contrárias que desafiem a nova visão
espiritual terão de sucumbir diante da crença planetária aceita, ou
serão vistas como subversivas.
Não há realmente muita "justiça" em uma sociedade
global que impõe a tolerância, independente se ela está expressa na
"busca por significado transcendente...".
Quando analisamos as declarações e documentos da comunidade
interfé/internacional e as declarações do próprio Sr. Brockmann,
torna-se cada vez mais evidente que a antigas cosmovisões não são mais
toleráveis. O pluralismo precisa ser instalado; a tolerância terá de ser
aceita. Os modos antigos não são mais viáveis.
Como o Sr. Brockmann indicou em seu discurso de encerramento, "Os antigos deuses estão morrendo e novos estão emergindo..."
Estes cinco pontos principais são reforçados por
cinco "princípios éticos". Embora essas diretivas éticas pareçam boas à
primeira vista, as filosofias sobre as quais elas estão construídas não
solucionarão os problemas econômicos mundiais.
Entretanto, elas ajudam a colocar uma cosmovisão socialista e radical na
corrente dominante.
A. Respeito: "Todo ser tem valor
intrínseco e pode servir para o bem da humanidade se guiado não por uma
ética puramente utilitária, como aquelas que predominam no atual sistema
socioeconômico, mas, ao contrário, por um sentimento mútuo de
pertencer, de responsabilidade e conservação da existência."
Você vê o jogo da culpa filosófica? Parece que a
visão ocidental da vida não-humana — aquilo que é utilitário, como
agricultura e pecuária, pesca ou exploração das florestas — é
problemática. Em vez disso, você deve considerar que todas as criaturas
têm valor mútuo. Esta é uma posição ridícula que emana da ecologia
profunda: os seres humanos, as árvores, as trutas e até os vírus têm
igual valor.
B. Cuidado: Segundo Brockmann, "Cuidado
implica em uma atitude não agressiva para a realidade, uma atitude
amorosa que corrige os danos passados e evita danos futuros e, ao mesmo
tempo, se estende por todas as áreas da atividade humana individual e
social. Se tivesse havido cuidado suficiente, a atual crise financeira e
econômica não teria ocorrido... Em uma sociedade de mercado que é
dirigida mais pela concorrência do que pela cooperação, há uma cruel
falta de compaixão em relação a todos os seres que sofrem na sociedade e
na natureza."
Essa definição erra o alvo. Embora a compaixão esteja
frequentemente ausente na sociedade atual, a definição de Brockmann é
mais sobre pacifismo e socialismo culturais do que sobre os indivíduos
estenderem empatia para os outros — de algum modo "cuidado" deve se
manifestar em todas as atividades humanas. Entretanto, reforçando a
perspectiva de Brockmann, está o espantalho do insensível capitalismo,
que está escondido logo abaixo do pretexto de "cuidado". Na cosmovisão
socialista, o capitalismo é a distribuição desigual da riqueza motivada
pela ganância e pela indiferença: é uma forma de roubo em que um ganha e
outro perde. O socialismo, de acordo com tipos como Brockmann, é onde
todos se cuidam e capacitam uns aos outros.
Isto é muito enganoso. O capitalismo não é um sistema
cruel em que uma pessoa faz "tudo o que for necessário" para chegar na
frente. Em vez disso, é a permuta mútua de bens, serviços, trabalho e/ou
dinheiro de alguém que quer com alguém que tem e está disposto a
trocar. O capitalismo é um conceito de livre empresa que não funciona
adequadamente em uma sociedade muito regulada ou intimidada; ele requer
liberdade para poder funcionar bem.
A presente crise econômica não é um problema da livre
iniciativa no sentido tradicional. Agora, o fato que a livre iniciativa
esteja em grande parte ausente da nossa cultura econômica pode ter um
papel especial na crise, mas o capitalismo operacional não causou o
atual problema financeiro. Na verdade, praticamente não temos mais o
verdadeiro livre mercado e uma cultura capitalista; há várias décadas
que deixamos de viver em um país capitalista. Embora existam elementos
de livre iniciativa e de capitalismo no mundo ocidental, há muito tempo
que estamos vivendo em uma economia mista: uma mistura conflituosa de
capitalismo com socialismo. [Veja o artigo "Free Enterprise Did Not
Cause the Market Meltdown" no Volume 2, Edição 11 da Forcing Change].
Por outro lado, o socialismo é um sistema em que
"todos pagam" e uma burocracia está encarregada de gerenciar o
"caldeirão" comum. Após a burocracia comer tudo o que quiser, os restos
são então distribuídos e, talvez, alguns restos adicionais sejam
reservados para os grupos de interesses especiais que apoiaram os
líderes políticos do socialismo.
O socialismo tem sido corretamente descrito como "o
roubo de todos para a miséria de todos". As Nações Unidas chamam o
socialismo de "solidariedade econômica" e "cuidado" social. Brockmann é
rápido em apontar o dedo para a "sociedade de mercado", porém deixa de
observar que as civilizações construídas com base nos ideais do mercado
são aquelas que mais se entregam ao trabalho assistencial, que mais
fazem doações filantrópicas e que mais propiciam oportunidades
educacionais diversas. Agora, tente encontrar essas qualidades naquela
que era a economia socialista máxima, a União Soviética.
C. Responsabilidade Coletiva: Brockmann vê mais do apenas "cuidar" por meio do socialismo como uma solução. Serviço também é requerido.
"Somos todos dependentes do meio ambiente e
interdependentes. Nossas ações podem ser benéficas ou prejudiciais para a
vida e para o bem comum da Terra e da humanidade. As muitas crises que
agora estão ocorrendo são em grande parte o resultado de uma falta de
responsabilidade em nossos projetos e práticas coletivos..."
Em outras palavras, você precisa ser um bom cidadão
global, e um cidadão global responsável serve ativamente, fazendo e
promovendo aquilo que é bom para a Terra e para a comunidade planetária.
D. Cooperação: "A não ser que todos
cooperem, não iremos emergir mais fortes da crise atual. A cooperação é
tão essencial que no passado ela permitiu que nossos antepassados
antropóides fizessem o salto da animalidade para a humanidade. Quando
eles tinham alimento, não comiam individualmente, mas traziam tudo para
compartilhar com todos no grupo, em cooperação e solidariedade. Aquilo
que era essencial no passado ainda é essencial no presente."
Este é um conto da carochinha, na melhor das hipóteses; é uma tentativa de criar uma base pseudocientífica para o socialismo.
E. Misticismo Universal: "... por trás
de todo o universo, todo ser, toda pessoa, todo evento e até nossa crise
atual, há uma energia fundamental em operação, misteriosa e inefável,
que também é conhecida como a fonte que nutre todo ser. Estamos certos
que essa energia sem nome também atuará neste tempo de caos para nos
ajudar e nos capacitar para superarmos o egoísmo e tomarmos as ações
necessárias para que não haja uma catástrofe, mas uma oportunidade para
criar e gerar novas formas de coexistência..."
Aqui está o pilar final da nova ética planetária de
Brockmann, uma ética que nos guiará para sairmos da crise financeira
internacional: é a aceitação de uma espiritualidade de base mística onde
a humanidade é movida por alguma força cósmica benigna e incognoscível.
Essa força fará a mente do homem aceitar novas formas de vida.
O presidente da Assembléia-Geral desenvolve um pouco mais:
"A crise nos purifica e nos força a crescer e
encontrar modos de sobreviver que são aceitáveis para toda a comunidade
da vida, seres humanos e a Terra. A dor que sentimos agora não é o
último suspiro de um homem moribundo, mas a dor de um novo nascimento.
Até aqui exploramos plenamente o capital material, que é finito; agora
temos de trabalhar com o capital espiritual, que é infinito...
"Como todos temos origem no coração das grandes
estrelas vermelhas onde os elementos que nos formam foram criados, é
claro que nascemos para fazer nossa luz brilhar, e não para sofrer. E
faremos nossa luz brilhar novamente — esta é minha forte expectativa —
em uma civilização planetária que respeite mais a Mãe Terra."
Foi assim que presidente da Assembleia-Geral da ONU
abriu uma conferência internacional sobre economia! Duas perguntas
precisam ser feitas: quem é Miguel d'Escoto Brockmann e como os
delegados responderam?
Lenin Encontra a Igreja — Vamos Todos Dar as Mãos
Miguel d’Escoto Brockmann nasceu em Los Angeles, na
Califórnia. Ele era filho de um diplomata nicaraguense e se tornou um
padre católico por meio da Sociedade Maryknoll; mais tarde, ele fundou a
Orbis Books – o braço editorial dos Padres e Irmãos Maryknoll.
A partir do início dos anos 1960, Brockmann se tornou
influente na cena sociopolítica da América Latina. Em 1963, ele fundou o
Instituto Nacional de Pesquisa e Ação Popular, no Chile e, mais tarde,
aderiu à Revolução Sandinista (de orientação esquerdista) da Nicarágua —
que foi militarmente enfrentada pelos Contras, apoiados pelos EUA. De
1979 a 1990, ele serviu ao governo revolucionário como ministro das
Relações Exteriores. Foi durante esse tempo que ele recebeu o Prêmio
Lenin Internacional da Paz. É isto mesmo, Brockmann recebeu um
reconhecimento especial da União Soviética.
Como um padre católico de inclinações esquerdistas na
América Latina, não é surpresa saber que Brockmann defendeu
ferrenhamente a Teologia da Libertação. Algumas vezes descrita como
"Socialismo Cristão", a Teologia da Libertação mistura a ajuda aos
pobres com o engajamento político. Basicamente uma construção católica
romana, a Teologia da Libertação procura capacitar os povos oprimidos em
sua contínua "luta de classe", armando-os por meio do ativismo social
radical; é uma clara mistura de filosofia marxista com o serviço e
trabalho católicos.
Brockmann também é internacionalmente conhecido por
suas posições anticapitalistas e antiamericanas. Ele é, no sentido
perfeito da frase, um socialista internacional. [7].
Como então os delegados presentes nessa conferência
da ONU responderam à abertura não-ortodoxa de Brockmann? Os diplomatas
americanos ou britânicos desafiaram a cosmovisão dele?
De modo nenhum.
A delegada norte-americana, a embaixadora Susan Rice, afirmou o compromisso dos EUA com a solidariedade global:
"O presidente Obama compreende que nossa resposta
coletiva à crise constituirá um momento importante na história mundial.
Algumas semanas atrás, no Cairo, ele observou que 'temos uma
responsabilidade em nos unir em nome do mundo que procuramos'. Este é
nosso objetivo aqui hoje — nos unir e continuar o importante trabalho de
criar esse mundo..."
"... Os Estados Unidos estão aqui para participar
nesta importante conversa, para ouvir, para trocar opiniões, para
trabalhar com vocês em um espírito de cooperação." [8].
O delegado britânico, Lord Mark Malloch Brown, pediu
o fortalecimento do sistema das Nações Unidas. [9]. A China também,
pediu a expansão da ONU — para que ela possa "exercer um papel maior ao
tratar a crise financeira internacional" e "enviar um forte sinal que a
comunidade internacional está unida como uma só". [10].
A representante da União Europeia disse que gostaria
de ver as Nações Unidas ajudarem "os países em desenvolvimento a
enfrentarem uma variedade de desafios sociais, econômicos, financeiros e
do meio ambiente..." [11].
Alexey Kudrin, Ministro das Finanças da Federação
Russa e representando o primeiro-ministro, disse que era hora de
rejeitar "as abordagens padronizadas". O que era necessário, ele
explicou, era "uma nova arquitetura financeira global" que sacramentasse
regras "obrigatórias" para todos os países. Sua recomendação foi "um
novo modelo de regulamentação supranacional..." [12].
O representante do Banco Mundial reiterou o conceito de "responsabilidade global":
"Neste mundo globalizado, somos todos vizinhos, e
estamos todos conectados. O que acontece em uma parte do mundo é sentida
em muitas outras partes. Não é mais viável se ocultar atrás de muros
artificiais e fingir que podemos sobreviver por nossa própria conta —
estamos ligados juntos e precisamos atuar juntos."
"... precisamos ter uma resposta global e inclusiva
para a crise econômica. A resposta precisa ser global, prestando atenção
às especificidades locais." [13].
Outros líderes mundiais fizeram declarações
similares. Considere as palavras dos participantes desta conferência e
pergunte a si mesmo: de quem são as regras econômicas, sociais e
ecológicas que vamos seguir?
"Precisamos moldar uma economia global que sirva às
pessoas e aos povos — com regras sociais e ecológicas obedecidas por
todos..."
"Com esta conferência e seu documento resultante
fortalecemos o papel da ONU na governança econômica global! Este é um
sucesso admirável!"
"Vamos aproveitar esta oportunidade e adaptar a
Governança Global às realidades do século 21." – Heidemaire
Wieczorek-Zeul, Ministro Federal Alemão para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico.
"... precisamos trabalhar juntos para fortalecer e
reposicionar o sistema das Nações Unidas no centro do processo de tomada
de decisão econômica e social internacional."
"... precisamos trabalhar juntos para reformar as regras e as instituições globais." – Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU.
Expectativas Internacionais
Após analisar o Documento Resultante desta
conferência, ler as transcrições, as notas à imprensa e outros
materiais relevantes, tornou-se óbvio que um conjunto de expectativas
internacionais estava tomando forma. Aqui estão as coisas a observar nos
próximos meses.
Direção Social/Moral
Sob a liderança das Nações Unidas, podemos
esperar ver um mapa da estrada moral/ético. Os ideais que gravitam em
torno das questões ambientais, como a Mudança Climática, atuarão como
fundamento social sobre o qual uma solução global para a crise econômica
precisa ser encontrada. Essencialmente, a ONU fornecerá a estrutura
moral para a "nova arquitetura financeira internacional". À medida que o
mundo se preparar para a Conferência Sobre Mudança Climática no próximo
mês de dezembro, observe as questões ambientais serem usadas como
"alavanca moral" para "solucionar" a crise econômica.
Espere ver os países adotarem regimes do
tributo do carbono e um programa de mercado de carbono. Isto resultará
em preços mais elevados para a energia e um crescimento econômico geral
menor. Uma bolha econômica baseada no meio ambiente aparecerá com o
mercado do carbono à medida que o "ar quente" se tornar um mercado
aquecido. Isto terá pouca duração e, quando o colapso ocorrer, produzirá
um ímpeto ainda mais robusto a favor da governança financeira global.
Espere ver o fortalecimento dos programas
educacionais dirigidos pela ONU para arregimentar os jovens para esta
causa do "carbono". A propaganda para uma ética global baseada no
ambientalismo, com o objetivo declarado de corrigir a economia,
aumentará visivelmente em todo o mundo ocidental.
Observe líderes religiosos, incluindo figuras
cristãs de liderança se alinharem abertamente com a ONU nesse chamado
por uma nova ética global. Não fique surpreso se a ONU ou o Conselho
Mundial de Igrejas convocarem um encontro interfé de alto nível especial
para responder à situação econômica ou ambiental.
A cidadania planetária e as responsabilidades que a acompanham, suplantarão as lealdades nacionais.
O capitalismo está rotulado como maligno e os
livres mercados como mesquinhos. Mais regulamentações e burocracia
virão aos níveis locais, estaduais, nacionais e internacionais.
Espere ouvir mais chamados para a
solidariedade econômica e serviço global. No Ocidente, a palavra
"socialismo" será evitada; espere ouvir uma nova linguagem mascarar a
realidade. Na América Latina, na maior parte da Ásia e em grandes
porções da Europa, a linguagem do socialismo será usada e adotada
abertamente.
Direção Econômica
Uma contínua promoção dos Direitos Especiais
de Saque como a nova moeda de reserva global. Essa moeda substituirá o
dólar americano como a atual moeda de reserva global, mas possivelmente
apenas de forma provisória. Os SDRs, como essa moeda é referenciada,
são uma unidade contábil internacional baseada no valor combinado — uma
cesta — das principais moedas mundiais. Atualmente o Fundo Monetário
Internacional está sendo cortejado como o detentor dos SDRs, tornando-o
um tipo de banco para uma nova unidade de reserva global.
Uma crescente pressão para solidificar um
órgão regulatório bancário e financeiro internacional. Com a criação
dessa agência, os bancos e demais instituições financeiras nacionais e
transnacionais terão de aderir aos novos padrões globais. Da mesma
forma, os assuntos econômicos no nível interno ficarão sob os auspícios
desse órgão regulador global. No momento atual, o Banco de Compensações
Internacionais está rapidamente se preparando para assumir esta tarefa
(leia o artigo da Parte 1 desta edição, escrito por Joan Veon.).
Mais propostas para a criação de um Tribunal de Falências Internacional para lidar com os calotes das dívidas globais.
Espere propostas para a criação de bancos
mais orientados para a atuação regional, blocos de moedas regionais,
acordos de comércio regionais e uma integração econômica regional geral.
Espere mais propostas para a solidariedade
econômica global, a harmonização internacional e uma maior globalização.
Como Paula Quintana, Ministra do Planejamento do Chile, explicou na
conferência da ONU: "... o desafio no médio prazo é nos movermos mais
rapidamente em direção à convergência econômica global.".
Finalmente, não fique surpreso ao ver a
comunidade internacional instituir um assim chamado sistema de pesos e
contrapesos sob o estandarte de uma "nova arquitetura financeira". Isto
está em desenvolvimento atualmente e eis aqui como poderá ficar:
Regulador Financeiro Global: Banco de Compensações Internacionais.
Regulador Comercial Global: Organização Mundial do Comércio.
Banco da Moeda de Reserva Mundial: Fundo Monetário Internacional.
Banco para Empréstimos: Banco Mundial.
Agência de Governança e Ética Mundial: Nações Unidas.
Logicamente, isto poderá mudar em algum grau, com
ênfases e agendas colocadas sobre diferentes instituições e também
poderá haver certa sobreposição. Entretanto, estamos vendo essa nova
superestrutura internacional tomar forma atualmente.
Mais do Que Apenas Economia
É óbvio que a Conferência da ONU Sobre a Crise
Econômica e Financeira Mundial foi mais do que apenas sobre "dinheiro".
Ela tratou da remodelagem das culturas e nações para se encaixarem em
um novo ideal planetário.
O presidente da Assembleia-Geral da ONU, Miguel Brockmann, tornou isto claro em seu discurso de encerramento, em 26 de junho:
Sobre as Soluções Econômicas (observe como isto envolve tudo):
"As questões a serem acompanhadas vão da redução da
crise — incluindo medidas de estímulo globais, Direitos Especiais de
Saque (SDR) e moedas — para tópicos como a reestruturação do sistema
financeiro e econômico, reestruturação da arquitetura, incluindo reforma
das instituições financeiras internacionais e o papel da Organização
das Nações Unidas, dívida externa, comércio internacional,
investimentos, tributação, auxílio ao desenvolvimento, cooperação
Sul-Sul, novas formas de financiamento, fluxos financeiros ilícitos e
corrupção, regulamentações e monitoração."
"Ao mesmo tempo, tem sido reconhecido que a crise
financeira e econômica não poderá retardar a necessária resposta global à
mudança climática e à degradação ambiental por meio de iniciativas para
construir uma 'economia verde'..." [14].
Sobre as Novas Visões para a Vida — Nota: Isto dá contexto para a criação de uma civilização global. Lembre-se também que esta conferência era sobre economia! (Nota adicional: As visões de Brockmann formaram a maior parte de seu discurso de encerramento; aqui estão apenas alguns excertos):
"... estamos novamente no limiar de um novo passo no
processo evolucionário: um passo umo a uma família humana que está unida
consigo mesma, com a natureza e com a Mãe Terra."
"Isto me faz lembrar da visão do grande cientista,
arqueólogo e místico francês Pierre Teilhard de Chardin. Na China, onde
realizou sua pesquisa sobre o Homo pekinensis, ele teve algo
similar a uma visão. Olhando para os avanços na tecnologia, no comércio e
nas comunicações que estavam encurtando as distâncias e lançando os
fundamentos para aquilo que ele gostava de chamar de planetização, em
vez de globalização, Teilhard de Chardin já estava dizendo, nos anos
1930s, que estávamos testemunhando o surgimento de uma nova era para a
Terra e para a humanidade."
"O que iria aparecer, disse Theilhard de Chardin, era
a noosfera, após o surgimento no processo evolucionário da
antroposfera, da biosfera, da hidrosfera, da atmosfera e da litosfera.
Agora vem a nova esfera, a esfera das mentes e corações sincronizados: a
noosfera. Como sabemos, a palavra grega noos se refere à união do espírito, do intelecto e do coração..."
"A noosfera, então, é o próximo passo para a
humanidade. Permitam-me fazer uma pequena digressão. No tempo dos
dinossauros, que habitaram a Terra por mais de 100 milhões de anos e
desapareceram cerca de 65 milhões de anos atrás, se um observador
hipotético tivesse se perguntado qual seria o próximo passo
evolucionário, ele provavelmente teria pensado mais do mesmo. Em outras
palavras, dinossauros ainda maiores e mais vorazes."
"Entretanto, essa resposta teria sido errada. Aquele
observador hipotético nunca teria imaginado que um pequeno mamífero
menor do que um coelho, que vivia no topo das árvores e se alimentava de
flores e brotos e que tremia diante da possibilidade de ser devorado
por um dinossauro, eventualmente se tornaria nosso ancestral."
"A partir dessa criatura, milhões de anos mais tarde,
emergiu algo completamente novo, com qualidades totalmente diferentes
daquelas dos dinossauros, incluindo uma consciência, inteligência e
amor: os primeiros seres humanos, de quem nós aqui reunidos somos
descendentes..."
"Acredito firmemente que hoje, estamos novamente no
limiar de um novo passo no processo evolucionário: um passo em direção a
uma família humana que está unida consigo mesma, com a natureza e com a
Mãe Terra..."
"Dizem que Jesus, Buda, Francisco de Assis, Rumi,
Tolstoy, Gandhi, Dorothy Day, Martin Luther King e muitos outros grandes
profetas e instrutores do passado e do presente, dos quais todo país e
cultura tem um exemplar, estiveram na frente de seu tempo em dar esse
novo passo."
"Todos eles são os instrutores mais influentes em
nossa formação, nossas estrelas-guias, que acenderam a chama da
esperança que nos assegura que ainda temos um futuro, um futuro
abençoado." [15].
E você que achava que a conferência sobre economia iria tratar de assuntos financeiros!
Compreenda, caro leitor, que o mundo de hoje está
mudando em tudo: A economia, a religião (é sobre isto que Brockmann
realmente está falando), a política, a educação, a soberania nacional e
as normas sociais estão sendo sistematicamente reformadas para atenderem
a um Futuro Comum pré-descrito.
No fim de tudo, será a torção da fé e das finanças que dará início a uma nova ordem global.
Notas Finais:
Joseph E. Stiglitz, "Wall Street’s Toxic Message”, Vanity Fair, edição online, julho de 2009. Stiglitz trabalha como assessor do presidente da Assembléia-Geral da ONU.
Miguel D’Escoto Brockmann, presidente da Assembleia-Geral da
ONU, declaração de abertura da Conferência Sobre a Crise Econômica e
Financeira Mundial, 24 de junho de 2009.
Idem.
Idem; "é essencial buscar aquilo que a Carta da Terra chama de um modo de vida sustentável".
Idem.
Idem.
As informações biográficas sobre o Sr. Brockmann foram extraídas
de sua biografia nos Materiais Para a Imprensa, das Nações Unidas, no Factbook da Reuters e em outros sites biográficos na Internet.
Comentários feitos pela embaixadora Susan E. Rice, Representante
Permanente dos EUA nas Nações Unidas, na Conferência Sobre a Crise
Econômica e Financeira Mundial, em 24 de junho de 2009. Discurso
realizado na conferência.
Discurso na Conferência da ONU Sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial.
Yang Jiechi, ministro das Relações Exteriores da República
Popular da China, declaração na Conferência da ONU Sobre a Crise
Econômica e Financeira Mundial, em 24 de junho.
Helena Bambasova, falando em nome da UE, 24 de junho.
Alexey Kudrin, Ministro das Finanças da Federação Russa e
representando o primeiro-ministro. Declaração na Conferência da ONU
Sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial, em 24 de junho.
Ngozi Okonjo-Iweala, diretor-gerente do Banco Mundial.
Declaração na Conferência da ONU Sobre a Crise Econômica e Financeira
Mundial, em 24 de junho.
Miguel D’Escoto Brockmann, presidente da Assembleia-Geral da
ONU. Declaração feita após a adoção do Documento de Resultados da
Conferência da ONU Sobre a Crise Econômica e Financeira Mundial.
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