Image by Caetano J. via Flickr
Não haverá para onde fugir do novo governo mundial.Pensamento 'Global' não necessariamente resolverá os problemas do mundo, diz Janet Daley.
Por Janet Daley
Publicado em 19/12/2009
Há espaço para debate - e inumeráveis investigações pelos jornais - sobre quem foi a mais influente figura pública do ano, ou qual evento foi o mais significativo. Mas pode haver pouca dúvida sobre qual palavra ganhou o prêmio pelo adjetivo mais importante. 2009 foi o ano no qual "crise global" varreu o resto do dicionário político para a obscuridade. Houve "crises globais" e "desafios globais", a única resolução possível para elas repousa em "soluções globais" necessitando "acordos globais". Gordon Brown realmente sugeriu algo chamado "aliança global" em resposta a mudança climática. (Seria isso uma aliança contra o Eixo dos Extraterrestres?)
Um pouco disso foi pura besteira: quando pronunciada por Gordon Brown, a palavra "global", como em "crise econômica global", significava: "Não é minha culpa". Na medida em que as palavras têm um significado inteligível, isso também tinha ramificações políticas que foram escassamente examinadas por aqueles que agitaram a respeito de tal grave auto-importância. A mera expressão disso era assumida para varrer qualquer consideração do que era assumido ser o mais básico princípio da democracia moderna: que governos nacionais eleitos são responsáveis por seus próprios povos - que o direito de governar deriva do consenso do eleitorado.
A perigosa ideia de que a responsabilidade democrática dos governos nacionais deveria simplesmente ser distribuída como um favor dos "acordos globais" alcançados depois de fechadas as negociações entre líderes mundiais nunca, até onde eu lembro, entrou na arena da discussão pública. Exceto nos Estados Unidos, onde se tornou um ponto de conversação muito polêmico, os Estados Unidos ainda se agarram firmemente a ideia do século 18 de que o poder deveria repousar na vontade do povo,
Nem foi dada muita consideração a conclusão lógica de toda essa grandiosa conversa de consenso global como inquestionavelmente desejável: se não houve escolha popular a respeito de aprovar "acordos supranacionais legalmente obrigatórios", o que aconteceria com os dissidentes que não aceitassem as premissas deles (sobre mudança climática, por exemplo) quando não houver possibilidade de fugir para outro país em protesto? Isso era para ser considerado como a emergência do governo mundial? E teria ele poderes de policiar e manter a lei que substituiria a autoridade de governos nacionais eleitos? Com efeito, isso seria o infame "déficit democrático" da União Europeia elevado a uma escala planetária. E se o modelo da União Europeia é algo para se agir de acordo com ele, então as agências da autoridade global envolverão grandes tratos de poder sendo passados para funcionários não eleitos. Esqueça as relativamente insignificantes imitações da Euro-burocracia: bem vindo a era da Terra-burocracia, quando haverá literalmente nenhum lugar para fugir.
Mas, você pode dizer, conquanto as consequências políticas sejam assustadoras, certamente há alguma coisa nessa obsessão com dilemas globais. A economia é agora baseada no mercado global, e se o planeta está realmente encarando algum tipo de crise climática produzida pelo homem, então isso também é um problema que transcende as fronteiras nacionais. Certamente, se nossos problemas são universais, as soluções também devem ser.
Bem, sim e não. Chamar um problema de "global" significa sugerir três coisas diferentes: que é o resultado das ações de pessoas de diferentes países; que essas ações têm impacto sobre as vidas de todas as pessoas no mundo; e que o remédio deve envolver muitas respostas idênticas ou corretivas para essas ações. Essas são premissas separadas, qualquer uma delas deveria ser verdadeira sem que o resto delas necessariamente seja. A crise bancária certamente teve suas raízes na natureza internacional das finanças, mas a maneira como ela afetou os países e as pessoas variou consideravelmente de acordo com as diferenças em suas disposições internas. A Inglaterra sofreu especialmente de forma dura por causa de sua dependência do débito público e privado, enquanto que a Austrália escapou relativamente ilesa.
Que um problema seja internacional em suas raízes não implica necessariamente que a solução tem de envolver o nivelamento para uma prescrição global uniforme: De fato, dadas as diferenças nos efeitos e consequências para países individuais, a tentativa de tal nivelamento poderia ser um grande desperdício de tempo e recursos que poderiam ser colocados para um melhor uso no planejamento de remédios individuais. A Alemanha e a França parecem ter se arrastado para fora da recessão por si próprias durante o último ano (e os Estados Unidos podem estar a ponto de fazer o mesmo) enquanto a Inglaterra não. Estas variações não devem quase nada as pomposas e pretensiosas tentativas de encontrar soluções globais: elas têm a ver principalmente com países individuais, sob a pressão da responsabilidade democrática, fazendo o que eles decidirem ser o melhor para seu próprio povo.
Isso não é o que o Sr. Brown chama "auto interesse limitado", ou sem piedade "meu vizinho mendigo". É obrigação própria dos líderes nacionais eleitos fazer julgamentos que são apropriados para as condições de suas próprias populações. É também certo que chefes de nações recusem a assinar acordos globais "legalmente obrigatórios" que poderiam causar prejuízo para seu próprio povo. A resistência das nações em desenvolvimento ao pacto de mudança climática que lhes negaria o tipo de crescimento econômico e prosperidade das massas aos quais os países avançados se tornaram acostumados não é egoísmo gratuito: é a consideração adequada pelo bem estar de seus próprios cidadãos.
A palavra "global" tem tomado conotações sagradas. Qualquer ação tomada em seu nome deve ser inerentemente virtuosa, enquanto que as decisões de países individuais são necessariamente "estreitas" e de interesse próprio. (Não importa que um "acordo global" quase certamente será desproporcionalmente influenciado pelas nações mais poderosas.) Nem é nossa era tão completamente diferente das eras anteriores, apesar de toda sua sofisticação tecnológica. Nós sempre temos necessitado de acordos multilaterais, seja sobre comércio, crime organizado, controle de fronteiras, ou defesa mútua.
Se o impacto de nosso comportamento sobre a humanidade de forma geral é muito maior ou mais rápido do que nunca antes então teremos de encontrar meios de lidar com isso, o que não envolve sacrificar a mais esclarecida forma de governo já desenvolvida. Há um sopro de totalitarismo a respeito dessa nova ideologia, na qual os riscos são descritos em tais termos cósmicos que tudo o mais tem de ceder. "Globalismo" é outra forma de internacionalismo que tem sido o núcleo da crença da esquerda: um compromisso de classe invés de país que parecia um admirável antídoto ao nacionalismo "sangue e solo" que deu ascensão ao fascismo.
A nação-estado nunca se recuperou completamente do nome feio que adquiriu no último século como geradora da guerra mundial. Mas se isso é para ser relegado para a lixeira da história então temos que propor novos mecanismos para permitir que as pessoas expressem sua opinião em como elas são governadas. Talvez isso poderia ser o desafio global do próximo ano.
Fonte: http://www.telegraph.co.uk
Tradução e adaptação: O observador
2 comentários:
parabens pelo blog e as postagens ! joatam!
realmente dificil entender como fugir um pouco disso tudo, desse sistema, inconcebivel o ponto delicado em que estamos... ja ja a bomba estourará, e o povo nao fará nada, talvez faça, mas nao suficiente...
Que óbvio, se estamos no mundo para onde fugir? Nem Jesus pediu a Deus para tirar os seus, haja vista o seu pedido quando orou: Pai não lhe peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal. O pedido não era para tirar, mas para livrar.
Postar um comentário